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Coronavírus em regiões de guerra: Como o vírus afetou essas áreas

Países em conflitos bélicos e políticos estão mais expostos aos impactos da Covid-19, com recursos limitados para combater o vírus, uma catástrofe humanitária  parece cada vez mais iminente

Civis, em zonas de disputas de poder, expiram preocupações de organismos internacionais, devido à vulnerabilidade das condições sanitárias, econômicas e sociais a que estão expostos. 

Os países em guerra tem a economia, totalmente, fragilizada pelos conflitos. Com isso, a pobreza afeta quase toda a população e a capacidade de investimento em medidas contra o novo coronavírus são limitadas

A carência dos recursos mais básicos, como água e a insegurança alimentar, são uma realidade para muitos. À vista disso, as pessoas ficam com baixa imunidade e nenhuma condição de cumprir medidas de quarentena. Além disso, os hábitos de higiene são extremante precários.

As estruturas sanitárias dos países em guerra encontram-se degradadas e reduzidas, devido a bombardeios e à sobrecarga com feridos e outras doenças. Isto é, a saúde nesses países já estava colapsada desde antes da pandemia.

Outro problema é a subnotificação de casos que ocorre, não somente, em decorrência da falta de testes, mas também por conta de governos ditatoriais, as informações não serem confiáveis e, ainda, pela descentralização política provocar falhas de comunicação. 

Em meio ao caos político dos países em conflito, a tomada de atitudes para frear a transmissão do vírus acaba prejudicada. E ajuda humanitária encontra dificuldades devido à falta de livre circulação e o complicado acesso. 

A OMS (Organização Mundial da Saúde) tenta coordenar esforços com os governos locais para o fornecimento de suprimentos e água, o MSF (Médico Sem Fronteiras) se mobiliza para oferecer atendimento médico em regiões vulneráveis e a ONU (Organização das Nações Unidas) atua distribuindo folhetos informativos, doações e pedindo um cessar-fogo durante a crise.

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Destroços da guerra no Iêmen. | Foto: Reprodução.

Coronavírus em regiões de guerra

Iêmen

Localizado no Oriente Médio, o Iêmen, nos últimos 4 anos, passa por uma guerra civil. De um lado, apoiado pela Arábia Saudita, está o governo do país e, do outro, os rebeldes que recebem suporte do Irã. Tendo em vista que o país atravessa uma epidemia de cólera, uma outra contaminação em massa de Covid-19 levaria o país à uma tragédia humanitária.

Mesmo o governo não tendo um plano de ação contra a doença, como consequência dos conflitos internos, o Iêmen recebe poucas pessoas vindas de outros países, dado que os aeroportos estão quase todos fechados e o número de voos é muito restrito. 

Até agora o país registou somente um caso confirmado do novo coronavírus que já se recuperou. Dessa forma, o Iêmen saiu do mapa de países com a doença.

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Gráfico do coronavírus na região. | Foto: Reprodução.

Síria

A luta de rebeldes pela derrubada do ditador Bashar Al-Assad teve início em 2011. Porém, com o envolvimento de outros países no conflito, a guerra da Síria se tornou interminável.

O cancelamento de eventos e a proibição da entrada de estrangeiros vindos de países com um alto número de contaminados levantou suspeitas sobre a ocultação de casos por Bashar Al-Assad. 

Na Síria, foram confirmados um pouco mais de 40 casos e 3 mortes no país. O Ministério da Saúde sírio garante que informará a quantidade de contaminados. Mas a ONU afirmou que o número de sírios com o novo coronavírus é muito maior. 

Depois  de anos em guerra civil, a Síria, segundo dados da OMS, em razão dos bombardeios às instalações médicas, o país tem apenas 65% da sua estrutura sanitária operante e registrou uma evasão de 70% dos seus médicos. 

A ONU pediu uma interrupção no conflito para que o país conseguisse enfrentar melhor a Covid-19. Mas a maior preocupação das organizações de ajuda humanitária é com os campos de refugiados, formados principalmente por sírios nas fronteiras.

Sem nenhuma higiene, mais de 10 pessoas chegam a dormir na mesma barraca. Diante desse cenário, a ONU pediu para que os países não deixem de oferecer amparo ao refugiados nas suas fronteiras. 

coronavírus na síria
Coronavírus na Síria. | Foto: Reprodução.

Palestina (Faixa de Gaza e Cisjordânia)

A Faixa de Gaza e a Cisjornadânia sofrem com os bloqueios e muros do Estado de Israel. Ambas são regiões superlotadas com recursos limitados, inclusive água. Milhares de palestinos estão em situação de insegurança alimentar.

A Palestina não tem recursos para conter o avanço do novo coronavírus. Os hospitais no país sofrem com bombardeios israelenses há anos e milhares de pessoas foram desabrigadas por operações militares, inviabilizando medidas de isolamento. 

Países árabes, entre eles, Quatar e Kuwait, estão oferendo um auxílio financeiro a Palestina. Contudo, a ajuda é insuficiente, uma vez que sem medidas de isolamento, dificilmente o vírus não irá se espalhar.  

Todavia, Mahmoud Abbas, presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina) e Reuven Rivlin, presidente israelense, têm juntado forças em ações de combate ao novo coronavírus, a principal delas foi o fechamento total do muro que divide os dois territórios.

A medida pode ajudar a Palestina a evitar o contágio através dos israelenses, que tem mais de 14 mil infectados. Enquanto há 336 palestinos infectados e 2 mortes.

palestina e coronavírus
Palestina em meio ao coronavírus. | Foto: Reprodução.

Afeganistão

Em guerra há 20 anos, o país tem demostrado dificuldade no enfrentamento do novo coronavírus. O Afeganistão tem mais de 40 mortes e um alastramento rápido da doença que, hoje, afeta 1351 pessoas. Os hospitais do país são despreparados, tendo dificuldade até para obter água tratada. 

Apesar de Ashraf Ghani, ter ganhado a eleição presidencial, Abdullah Abdullah também se declarou vencedor. Então, os dois tomaram posse, dando continuidade à uma política interna conflituosa e à inexistência de uma comunicação centralizada.

O Talibã, que ocupa parte do território, concordou em cooperar com trabalhos humanitárias. Entretanto, o Afeganistão tem outras fragilidades, como a fronteira com o Irã, que ultrapassou a marca dos 90 mil casos, por isso, muitos afegãos estão deixando o país e retornando.

Herat, cidade próxima ao Irã, onde a situação é mais crítica no país, há relatos de pacientes infectados que usaram da violência para fugir da quarentena imposta pelo governo.

Para evitar que a Covid-19 chegasse aos presídios, um decreto presidencial estabeleceu que cerca de 10 mil detentos fossem libertados.

pandemia de coronavírus
Pandemia de coronavírus no Afeganistão. | Foto: Reprodução.

Venezuela

O ditador Nicolá Maduro e o autodeclarado presidente, Juan Guaidó, traçam uma disputa pela legitimidade. Apesar da Venezuela ter sido a última a registar casos da doença, nesse momento, são mais de 300 casos confirmados e 10 mortes. Contudo, Guaidó, alguns jornalistas no país e alguns relatos de cidadãos dizem que o número de infectados é muito maior.

Antes da pandemia , o país já enfrentava uma crise de abastecimento de alimentos, remédios e produtos de higiene. Os hospitais venezuelanos nem sempre têm energia elétrica e, tampouco água, além de estarem, em sua maioria, inoperantes, assim como as máquinas para Raio-X .

O governo de Maduro colocou o sistema de saúde em emergência permanente, estabeleceu o exame de temperaturas nas pessoas que entram no país, suspendeu voos que não são de carga, decretou quarentena e o uso obrigatório de máscaras em farmácias, supermercados e hospitais.

A Venezuela pediu 5 bilhões em auxilio financeiro ao FMI (Fundo Monetário Internacional), que negou. A justificativa foi a falta de reconhecimento de Maduro como presidente.

Apesar do governo venezuelano ter ordenado a hospitalização de contaminados pelo novo coronavírus, alegando que há mais 20 mil leitos no país para o isolamento, especialistas independentes afirmam que há, na verdade,  206 leitos de UTI e metade deles está concentrado na capital.

Nicolá Maduro chegou a receitar para a população uma receita caseira para curar o novo coronavírus com mel, limão, gengibre e outros ingredientes. O antídoto não tem nenhuma base cientifica nem é indicado por profissionais da área da saúde.

Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os direito humanos, pediu o afrouxamento das sanções econômicas impostas a Venezuela em virtude de questões  humanitárias.  

Duas missões médicas chinesas levaram para a Venezuela insumos médicos, somente na última remessa foram entregues 500 mil testes, ventiladores, máscaras e desfibriladores.

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Covid-19 na Venezuela. | Foto: Reprodução.

Líbia

Desde a derrubada do ditador Muammar Kaddafi, duas facções brigam pelo poder, uma representa os países árabes africanos e a outra é formada pelo Quatar, Kuwait e a Irmandade Muçulmana. 

No dia 17 de março, os países árabes ocidentais se uniram para pedir uma interrupção da guerra entre as duas facções. A Líbia fechou fronteiras, suspendeu voos e aglomerações, inclusive, orações em mesquitas. O país tem 60 pessoas infectadas e 2 mortes.

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Casos de covid-19 na Líbia. | Foto: Reprodução.

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Por Camila Nascimento – Fala! Cásper

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