Devido ao vírus Covid-19, o clássico válido pela terceira rodada da Taça Rio foi realizado sem a presença das duas torcidas; o jogo, contudo, nem deveria ter acontecido.
A rampa da estação de metrô Maracanã que dá acesso a Entrada A do estádio já anunciava: seria um domingo de futebol atípico no Rio de Janeiro. O Maracanã foi palco de um Vasco e Fluminense no último domingo (15) que deixou a desejar. E não era para menos, porque as recomendações dos profissionais da saúde eram de que o Campeonato Carioca deveria ter sido paralisado devido ao surto de coronavírus o quanto antes.
Enquanto as federações de futebol pelo mundo já haviam anunciado a suspensão de suas competições, a Ferj, Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, preferiu manter a rodada de fim de semana. O Clássico dos Gigantes, portanto, ocorreu com os portões fechados em um clima nada adequado para a prática do esporte: silêncio total nas arquibancadas do templo do futebol brasileiro.
As únicas testemunhas presentes foram os funcionários do estádio, seguranças, jogadores, as equipes técnicas e os profissionais da imprensa credenciados. Os veículos de imprensa que transmitiram o dérbi foram notificados, pouco antes do início do clássico, de que fosse mantido um metro de distância entre cada pessoa.
Na prática, porém, a instrução beirava o ridículo, pois o contato social não pode ser contornado durante a cobertura de um evento, seja uma partida de futebol, um show ou um campeonato de ioiô.
No aquecimento dos atletas, antes do apito inicial, os tradicionais acenos aos torcedores e a festa na arquibancada deram lugar à tranquilidade dos jogadores e preparadores entrando em campo cabisbaixos. O som ambiente antes do apito inicial se repetiu durante os mais de 90 minutos do confronto, contando o tempo regulamentar, os acréscimos e o minuto de homenagem póstuma ao ex-zagueiro da Máquina Tricolor Silveira.
Os jogadores vascaínos, que entraram em campo usando máscaras de proteção como forma de protesto, ergueram uma faixa com os dizeres “Obrigado, Silveira”, homenageando o ex-funcionário do clube desde 1984. Já os jogadores do tricolor subiram ao gramado do Maracanã cobrindo o rosto, fazendo referência à orientação para espirros e tosses em locais públicos.
Leandro Castán, capitão cruzmaltino, em postagem no Twitter na sexta, reagiu à declaração do governador Wilson Witzel ironizando: “risco é nosso, grande resposta, grande governador, obrigado pelo respeito com os atletas”.
Risco não só dos atletas, mas de todos que estiveram no Maracanã naquela noite de domingo que ficará marcada como uma página triste do futebol carioca. Em dia de jogo que não deveria ter acontecido, o Fluminense saiu vitorioso para cima do rival após um tabu de 10 jogos. Porém, isso é mero detalhe no contexto atual.
__________________________________________
Carlos Vinícius Magalhães – Fala! UFRJ