Era uma noite quente de verão, uma das segundas-feiras de dezembro. Quase como uma tradição, lá estavam todos, um grupo de amigos jogando futebol na quadra do bairro. Os meninos em ação e as meninas na torcida. Algumas iam por seus pais, outras por seus companheiros e tinha as que iam pelos amigos, que era o caso da nossa menina.
Tudo parecia igual, desentendimentos futebolísticos masculinos e comentários e risadas na arquibancada. Até que ela o viu. Será que ele já esteve ali antes? Com certeza ela repararia. Precisava saber quem era o rapaz alto, de corpo magro e cabelo. Ah, aquele cabelo, castanho grande cacheado. Como quem não quer nada, perguntou para o homem que estava ao seu lado, que preferia ser juiz a jogar com os mais novos. Descobriu seu nome e de quem era filho. Por ora, era tudo que precisava.
Óbvio que, como um bom “clube da Luluzinha”, suas amigas reparam que a atenção da jovem de pele marrom, olhos castanhos escondidos atrás de lentes e cabelo liso estava voltada para alguém específico. Não havendo melhor hora, o rapaz passou pelo grupo em direção ao bebedouro; afinal, aquela tinha sido uma partida e tanto. E foi aí que ficou nítido. Sem nem saber que era alvo de um olhar curioso e tema principal da conversa das torcedoras, o garoto retorna ao local do jogo e todas brincam deixando nossa menina sem graça, mas com um sentimento que não deveria estar ali.
Ao chegar a casa, foi direto para o seu quarto, pegou seu notebook e foi atrás daquele que a encantara. Não sabia por onde começar, até que uma ideia surgiu: conhecia sua mãe. Foi até o perfil da mulher. Mães adoram babar seus filhos em público. Abriu as fotos e bingo! Lá estava ele. Abriu o perfil marcado. Agora, sabia sua idade, que ele era um cara familiar e fazia faculdade. Um sonho! Mas por que tanto interesse? Pensou ela. Comum da essência humana, se subestimou, ele nunca a notaria. Varreu para longe seus pensamentos e deixou de lado toda aquela história.
Alguns meses se passaram. O dia dos jogos mudou e, agora, os encontros aconteciam às quintas-feiras, no local de sempre. Ainda que não quisesse, aquele garoto insistia em passear pelos seus pensamentos, mesmo não o vendo há algum tempo.
A data era primeiro de abril, um domingo. Estava em uma festa junto com todos os seus amigos. A moça de estatura mediana estava tão envolvida com o evento que não sentiu sua presença ali, até que o ar pareceu faltar. Acabara de o ver. Sim, o menino de cabelos longos – que agora os amarrava em coque no alto da cabeça – estava ali. Sabia que ele não a conhecia, de qualquer forma, tentou ser o mais discreta possível. Quando a comemoração acabou, foi falar com quem ela sabia que poderia entendê-la. Danilo, o organizador dos jogos de futebol semanais era como um irmão e quem melhor do que ele para ajudar?! Comentou que tinha reparado no rapaz e sugeriu que ele o chamasse para as partidas – fingiu que nunca o vira na quadra, que espertinha.
O amigo-irmão comentou que o conhecia e que ele já frequentava os jogos, havia dado uma pausa por conta dos estudos. Então, agora, fazia sentido o sumiço. Contou um pouco dos feitos do rapaz, nada que nossa menina já não soubesse, mas que, é claro, se fez surpresa ao ouvir. Danilo, então, percebeu tudo. Mandou-a estar na quadra na quinta sem falta, daria um jeito de apresentar os dois. Ela sabia que podia confiar.
Quinta-feira, cinco de abril. Passou a semana inquieta, ansiosa para o tal dia. Quando, enfim, ele chegou, não sabia mais se queria ir. Respirou fundo, não tinha nada a perder e, então, foi. Como prometido, ele estava lá. Durante todo tempo, Danilo apontava para os dois, falava com ela e depois com ele. A moça, já bem tímida, não entendia a situação. Ao passo que, mais tarde, descobriu que o rapaz já sabia que ela estaria lá. O que a deixou com uma euforia no peito, ele tinha ido para conhecê-la.
Ao final do jogo, que naquele dia parecia ter demorado horas, seu amigo aproximou os dois. Apresentem-se, disse ele.
– Oi, meu nome é Leo.
– Oi, o meu é Eliza.
E, com um aperto de mãos, selaram a presença de um na vida do outro.
Mal sabiam eles que a partir de então suas vidas tomariam um rumo diferente e que aquele cinco de abril ficaria marcado para sempre.
*Baseada em fatos.
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Por Eliabe Dias Campos Figueiredo