Eu olhava para a janela, via uma luz amarelada entrar entre as persianas. Meu olhar logo começava a turvar-se, sentia um calafrio direto em minha espinha. Tudo que tinha ao meu lado virava, em súbito, fantasmas a sussurrar-me. Sentia que a morte me observava atrás da escrivaninha de madeira, silenciosa, ela me olhava fixamente, mas eu não conseguia enxergá-la.
O meu medo virava, em um instante, uma gota de suor que descia lentamente em minha nuca. Eu sentia-me desprovida de força para enfrentar qualquer luta, mesmo que não precisasse, de fato, lutar. Sentia a perda de todos meus sentidos, mesmo que não houvesse perdido, sequer, um deles.
A vida se tornava tão frágil como uma argila recém-moldada. O mundo se tornava mais pesado, e o medo transformava o mundo insuportável para poder carregá-lo entre os ombros. Eu via tudo ir para lá e continuava intacto, como se nunca tivesse partido. Um grito que eu daria não seria suficiente para tirar o pigarro em forma de palavras, que na minha garganta se apossava.
Correr sem destino seria inacessível, minhas pernas poderiam cansar, talvez minha respiração ficasse escassa, o que faria, eu? Como tiraria esse medo que estava subindo sob minhas correntes sanguíneas, que me fazia estremecer? Como me sentir viva, e não me perguntar todos os dias quando o fim pode chegar? Como não olhar a pele enrugada de um senhor, e não ver a velhice chegar sob meus pulsos ainda jovens?
Eu olhei novamente a persiana, a luz amarelada continuava iluminando só dois pontos do quarto, eu abracei o travesseiro branco, imaginei alguma salvação a puxar-me de meus pensamentos, e com olhos fechados por algumas horas, acordei com a luz do sol sob meu olho esquerdo. E na escrivaninha não se encontrava a morte, a escuridão ficou distante para mim, como se nunca tivesse entrado em meu quarto. E tentei me levantar sem pensar no que sentia. Mesmo sentido, muitas vezes, a prisão que a escuridão causou em mim.
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Por Eduarda Smilari – Fala! Mack