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Consumo Consciente: Confira a entrevista com o Brechó Tresa

O consumo em brechós tem se tornado um dos top assuntos mais abordados e curiosos na atualidade, você sabe o porquê? Por que escolher brechós? Por que as pessoas estão migrando do fast para o slow fashion, e também para as comunidades e marcas eco-friendly? Se liga aí, que a gente tira todas suas dúvidas e curiosidades!

consumo consciente
O consumo consciente e a moda sustentável caminham lado a lado. | Foto: Reprodução.

Apesar de muitas pessoas ainda terem certos receios sobre compras de itens de segunda mão, esse mercado tende a crescer cada vez mais! O consumo consciente e a moda sustentável andam lado a lado. Um pretende alertar o consumidor sobre os problemas ambientais vindos do Fast, que aliás está a cada dia mais fastest ainda. E o outro, direcionado às marcas, com foco em identificar por si só como diminuir sua produção de lixo, repercussão no meio ambiente e os seus impactos sociais.

Como um alerta mundial,o Movimento Fashion Revolution – representado no Brasil e em diversos países – carrega grandes questionamentos em seu manifesto. Como: “Quem fez minhas roupas?” ou “De onde vêm minhas roupas?”, responsável por questionar o ponto de vista do consumidor e da produção, e denunciando as condições desumanas de trabalho.

Fashion Rveolution
Fashion Rveolution: Quem fez minhas roupas? | Foto: Reprodução.

O estopim para criação do Fashion Revolution Day foi a tragédia ocorrida em uma fábrica em Bangladesh, que produzia para grandes grifes mundiais, em abril de 2013. No qual morreram 1300 mulheres e crianças. Tudo pelo Fast Fashion.

Hoje, já existem muitos nomes utilizados: Slow Fashion e Eco-friendly são alguns deles. Mas, honestamente, não importa qual é o nome, e sim o ato! E, com isso em mente, precisamos estar cientes de que nenhuma mudança é do dia para a noite e nem vamos salvar o planeta amanhã! Entretanto, muitas marcas estão dedicadas nessa função de repensar o ciclo de vida das roupas.

moda sustentável
Marcas começam a repensar o ciclo de vida de suas roupas. | Foto: Reprodução.

Marcas que repensam o ciclo de vida das roupas

Marcas como a Insecta Shoes: nacional, vegana e ecológica, que utiliza dos mais diversos itens reutilizados – inclusive de garrafas pet – ou de origem ecologica, visando sempre o reuso e o prolongamento de sua vida útil. Através de roupas, sapatos, bolsas, acessórios e até as embalagens dos produtos. Utilizando com muita criatividade o Upcycling. Tendência, não é?

Insecta Shoes
Insecta Shoes. | Foto: Reprodução.

Outra marca nacional muito interessante de se conhecer é a Inaá Brand: minimalista, sustentável e produzida por duas mulheres em seu atliê. Peças feitas à mão com estilo atemporal e abraçada pelo slow fashion. Inclusive, peças sempre exclusivas e com a melhor modelagem para os corpos. Iniciativa muito bem recebida pelas seguidoras da marca! Só girlpower!

Inaá Brand
Inaá Brand. | Foto: Reprodução.

E, em meio a essas marcas incríveis, os brechós têm um enorme destaque e visibilidade, incluindo todas as necessidades sustentáveis do slow fashion e facilidade da compra, sendo pelos brechós físicos ou on-lines. Muitas empreendedoras iniciam com uma plataforma de brechó, no Instagram ou em alguma outra rede social, e tornam-se grandes marcas.

Além de partilharem com seus consumidores o consumo consciente, ajudam na prática de promover a criação de novas memórias afetivas com roupas adquiridas. Dedicam seu tempo na curadoria e escolha das melhores roupas, na maior parte das vezes específica com a personalidade da marca e do público.

Dentre muitas vantagens, o ganhador é o custo x benefício, junto com ele aparecem a exclusividade de peças, o acesso a itens de luxo por preços mais acessíveis e a prática do consumo consciente.

Com essa ideia em mente, tive o prazer de entrevistar o Brechó Tresa, composto por três mulheres incríveis e dedicadas à sua new brand, Lívia Vitória, Nídia Rejane e Lethícia Vitória. Durante nossa conversa, as questionei sobre o funcionando de seu brechó.

Entrevista com o Brechó Tresa

Brechó Tresa
Brechó Tresa. | Foto: Reprodução.

Qual é o intuito do Brechó Tresa? Por que o criaram?

“O Brechó Tresa, antes de tudo, é um negócio de família! A gente sempre imaginou empreender juntas, já pensamos em outros projetos, mas não tinha viabilidade financeira e, aí, idealizamos um brechó on-line. Vimos nesse ramo uma ótima oportunidade. A ideia do Tresa surgiu em 2018, e as atividades começaram mesmo em 2019. A nossa meta é conseguir expandir o acesso de diferentes pessoas a peças que tenham mais qualidade, durabilidade e que possam ajudar aquela pessoa a se expressar para o mundo seja qual for o estilo dela, da forma que ela se sente bem.”

“Também procuramos peças atemporais e que estejam em alta, já que as coisas na moda estão sempre indo e voltando.”

“Acho que poderíamos dizer que somos facilitadoras desse processo que é garimpar peças, cuidar, higienizar, reparar muitas das vezes, porque muitas pessoas não têm essa paciência ou tempo, e em brechós on-line, com curadoria como o nosso, você consegue encontrar as peças que são do seu agrado já prontas para o uso, bem mais prático! Queremos facilitar esse processo que é consumir consciente através dos brechós.”

roupas veganas
As peças de roupa passam por uma curadoria. | Foto: Reprodução.

O que vocês querem transmitir através dele?

“De início nossa mensagem focava mais nisso, porque, assim como todo mundo, estamos em constante processo de evolução em relação à sustentabilidade que, de início, não era uma mensagem que reforçávamos tanto, mas não tem jeito, está tudo interligado. Apresentar uma moda política, responsável e sustentável, hoje, definitivamente faz parte das nossas mensagens e dos nossos desafios diários no trabalho!”

Como se destacar em um meio não tão apoiado por muitos, porém, com concorrência crescente?

“Não existe fórmula mágica para o sucesso, até porque esse sucesso pode significar diferentes coisas para cada pessoa. Estamos há pouco tempo nisso, mas acreditamos muito no nosso trabalho e achamos que esse é o caminho. Procuramos fazer o melhor dentro das nossas possibilidades e buscamos sempre aprender, se corrigir, melhorar sempre. A nossa meta sempre é se superar, fazer hoje melhor que ontem. A concorrência sempre vai existir e isso é bom, tem espaço para todos. Não curtimos esse lance de ficar toda hora olhando o que o outro faz ou deixa de fazer, a gente tem mais os outros brechós como inspiração, como colegas de profissão. A maioria dos brechós que conhecemos se apoia, troca divulgação. Cada um tem seu valor e, no fim, é o cliente que decide com quais se identifica mais. Queremos conseguir criar uma marca que é verdadeira, sensível, expressiva, com a possibilidade de atender diferentes pessoas e que cultivasse uma relação de afeto real com os nossos clientes. Através do atendimento, buscamos isso, gostamos de conversar com os nossos clientes, trocar ideia e construir uma relação. Gostamos de realizar cada processo do brechó com muito afeto.”

“Ainda existe muito preconceito com roupas de brechós, mas isso, aos poucos, está mudando. A mentalidade de que a roupa carrega coisas negativas está começando a mudar, mas ainda é um longo caminho. Nós acreditamos no mercado dos brechós e já é mais que um fato que eles vão crescer, por isso, vale a pena buscar ser autêntico e buscar um público que possa se identificar com você, sua curadoria e identidade! Fazer tudo com originalidade, essência e afeto faz toda a diferença!”

A tendência é o crescimento do mercado de brechós. | Foto: Reprodução.

Qual é a opinião de vocês em relação à transição dos consumidores para o slow e friendly fashion?

“É de extrema importância, porque, apesar de existir uma responsabilidade coletiva por parte da indústria da moda, ainda existe a nossa responsabilidade individual como consumidores, então é importante que a gente consiga ir mudando pequenas coisas na nossa vida e transitar aos poucos, respeitando seus limites e não buscando se acomodar também. A lógica do consumo fast-fashion ainda é forte dentro da gente, o caminho não é fácil (sabemos porque também estamos no início dele), mas cada mudança é significante. E, para nós, vale a pena priorizar o slow fashion e o consumo em pequenas marcas.”

“Quando a gente fala de uma ‘moda amiga’, estamos falando de menos exploração de diversos trabalhadores ao redor do mundo, de respeito a natureza e logo as nossas vidas. E isso não está relacionado a ser ‘good vibes’ ou qualquer outra nomenclatura pejorativa sobre ter essa preocupação, mas entender que nós fazemos parte dessa natureza e destruir ela é como nos autodestruir, e antes de tudo estamos falando de vidas que estão sendo perdidas, exploradas, para manter a indústria fast-fashion de pé e que essas vidas são majoritariamente não-brancas. Ou seja, moda é política, é desigual, e não podemos esquecer disso.”

Como vocês acreditam que a moda vai se desenrolar no mundo pós-pandêmico e, talvez, ainda muito consumista?

“Estamos conversando constantemente isso, inclusive! Vimos diversas reportagens afirmando que, após tudo isso, vamos ver uma sociedade menos consumista e preocupada, mas o que vimos na realidade dos países euro-ocidentais a partir da abertura de algumas lojas foram filas enormes na porta de diversas delas. Lojas como a Zara e algumas grifes de luxo conhecidas. Então, nos questionamos, será que vai mudar mesmo de forma impactante como alguns acreditam? Achamos que não até então, só uma minoria.”

“A perda da possibilidade de comprar, de consumir nas lojas diretamente pode gerar uma vontade ainda maior quando pudermos retornar, de querer consumir sem pensar no amanhã com a desculpa de ‘aproveitar a vida’. A moda é uma indústria, a indústria têxtil é gigante, e acreditamos que se a demanda for que o fast fique ainda mais rápido, eles vão corresponder! Por isso, é muito importante nosso posicionamento individual diante disso tudo, o tal do pensar 2 vezes: ‘será que vale a pena?’, ‘eu preciso mesmo disso?’.”


“Os brechós, por exemplo, são uma ótima maneira de consumir mais consciente com acessibilidade e qualidade, então, será que não vale mais a pena fortalecer pequenos negócios como esses, ter um melhor custo benefício e saber que gerou um impacto negativo menor? Ficamos com essa reflexão, tanto nós quanto esperamos que vocês!”

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Lívia Vitória, Nídia Rejane e Lethícia Vitória: O Brechó Tresa. | Foto: Reprodução.

Espero que essa entrevista traga mais consciência sobre o consumismo e, como as meninas disseram: “moda é política, é desigual, e não podemos esquecer disso”.

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Por Hellen Sacramento – Fala! UFRJ

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