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Consequências do adiamento das Olimpíadas para a economia japonesa

Mesmo sendo a terceira maior economia do mundo, a mudança da data dos jogos de Tóquio e a pandemia de coronavírus devem prejudicar o desempenho do PIB, assim como o do consumo e do turismo neste ano

Shinzo Abe, desde que assumiu o cargo de primeiro ministro do Japão, faz suscetíveis tentativas para impulsionar o crescimento da economia nacional. Entre as medias está a flexibilização monetária e reformas no governo, principalmente na área do turismo.

No entanto, as Olimpíadas, parte fundamental da estratégia de Shinzo Abe para revitalizar a economia japonesa, acabou sendo adiada em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Já há algum tempo, o país procura por saídas imediatas que possam superar ou, pelo menos, atenuar, o envelhecimento da população e a deflação. 

olimpiadas
Em meio ao coronavírus, Olimpíadas de Tóquio são adiadas. | Foto: Reprodução.

Segundo a JP Morgan, a perda causada pelo adiamento dos Jogos olímpicos pode chegar a 1,1 trilhão de ienes, 0,2% da economia japonesa neste ano. E o PIB do país, que já registrava reduções desde o último trimestre de 2019, deve recuar pelo menos por mais 2 trimestres.

A projeção de um dos gabinetes de estudo da Fitch Solutions é que a queda do valor do PIB nacional seja de 1,1% , ao invés de 0,2% como era esperado no começo do ano, quando a expectativa era de que as Olimpíadas acontecessem dentro da data prevista. A pandemia afetou as exportações e, em especial, o turismo e o consumo, os setores que mais seriam beneficiados pelos jogos.

Investimentos

O evento custou 11,5 bilhões de euros, desse valor 150 bilhões de ienes saíram dos cofres do Estado central do país-sede. Todavia, a comissão de contas do Japão  calculou um gasto 10 vezes maior que este, ou seja, o governo nacional teria gasto, aproximadamente, 1 trilhão de ienes para sediar o evento.

Para os especialistas o impacto na economia do Japão somente não será maior, pois a maioria dos investimentos, como instalações esportivas e estradas, já foram concluídos. Dessa forma, já contribuindo para o PIB nacional nos períodos anteriores.

Turismo

O turismo foi afetado no mundo inteiro devido às  restrições na circulação de pessoas, que foram impostas para tentar conter a transmissão do vírus. Mas, no Japão, o setor já vinha fraco antes da pandemia, uma vez que a China enfrentava desde o ano passado os primeiros casos da doença, e houve também um boicote de turistas sul-coreanos, por conta do acirramento de tensões históricas entre os dois países, juntos os chineses e os sul-coreanos representam mais da metade dos visitantes do Japão.

Apesar do setor representar menos de 1% da economia japonesa que é muito diversificada e industrializada, o turismo desempenharia um papel importante em 2020, pois receberia para as Olimpíadas, inicialmente, cerca de 600 mil estrangeiros. 

Consumo

A confiança do consumidor japonês também será afetada com a postergação do evento, visto que, dados da companhia financeira Nomura apontam que o Japão será privado de receber neste ano 240 bilhões de ienes que seriam gerados por estrangeiros que estariam no país para acompanhar os jogos.

Desde de outubro com o aumento do imposto sobre o valor agregado de mercadorias no Japão, o consumo das famílias enfrenta problemas. No entanto, com a queda das exportações e o adiamento das Olimpíadas, a crise de confiança se estenderá às empresas e aos investidores. Assim, além da redução do consumo, haverá a ampliação da perspectiva de falência de pequenas e médias empresas e da insegurança do mercado. 

Porém, como o COI decidiu pelo adiamento ao invés do cancelamento do evento, as receitas que seriam geradas por turistas serão transferidas para o próximo ano. Com isso, esse impacto negativo no crescimento nacional deve se diluir a longo prazo, favorecendo uma recuperação da economia conforme ocorre a aproximação da data dos jogos em 2021.

Medidas para a economia 

O governo do Japão prometeu um incentivo de 137 bilhões para combater o coronavírus e seus efeitos nas atividades econômicas, inclusive o impacto do adiamento das Olimpíadas. Apesar da ruim posição financeira do país, parte desse valor será financiado por empréstimos.

Haruhiko Kuroda, presidente do Banco Central do Japão, mostrou-se pessimista diante do cenário nacional: “precisamos ter consciência que o impacto pode ser grande”. Mas, ainda sim, afirmou que medidas apropriadas serão tomadas para sustentar uma recuperação.

A preocupação com a crise fruto da pandemia do novo coronavírus intensificou-se com a necessidade de uma mudança na data dos jogos de Tóquio, uma vez que o evento era uma peça chave para a restruturação da economia do Japão. 

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Por Camila Nascimento – Fala! Cásper

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