Saiba mais sobre este incrível e intrigante subgênero, com cinco filmes para maratonar e entender mais sobre o assunto
Você já ouviu falar do folk horror? Provavelmente já deve ter visto algum filme, mesmo sem conhecer o termo. Folk horror, ou terror rural, é um subgênero do Terror – aqui falando especificamente do Terror fantástico.
A onda de filmes de terror rural veio em meados dos anos 1960, tendo força principalmente no Reino Unido, em resposta à cultura hippie que se propagava cada vez mais rápido ao redor do mundo – é um resultado do sentimento de desilusão com a filosofia pregada por eles, do “retorno à natureza”.
O movimento bicho-grilo também trouxe a redescoberta de rituais pagãos antigos, que serviram de inspiração para a construção dessas obras de terror. Apesar do nome (folk pode ser traduzido como uma abreviação de folklore, em inglês), não conta especificamente sobre histórias folclóricas, apesar dessas culturas antigas servirem de fonte para variados elementos inseridos nas tramas.
De acordo com o diretor de filmes Piers Haggard (O Estigma de Satanás, 1971), em entrevista à revista Fangoria, o que torna uma película folk horror é sua estética e tom, não a narrativa da trama em si; por outro lado, para o escritor e cineasta Adam Scovell, muitos filmes desse subgênero têm um padrão em suas histórias e aspectos técnicos. Ainda que cada história seja única e macabra, eis algumas características em comum que podem ajudar na classificação de um filme folk horror:
Isolamento
Na maioria desses filmes, a personagem principal é inserida numa sociedade diferente da que está acostumada, com outros costumes e hábitos – distantes da civilização e urbanização. Esse isolamento em grupo torna propícia a existência de uma sociedade sem regras, ou com outros códigos morais – em que violências como assassinato e estupro sejam encaradas e lidadas de outra forma, não como crimes.
Lugares rurais, florestas, distantes da centralização urbana
Os locais onde se passam as tramas geralmente são atemporais, em total separação com o mundo moderno – seja em tempos atuais como em Midsommar – O Mal Não Espera a Noite (Ari Aster, 2019), que se passa de fato no século XXI ou O Caçador de Bruxas (Michael Reeves, 1968), cuja história se desenrola no século XVII. Como dito acima, essas sociedades possuem suas próprias leis por estarem isoladas e em lugares distantes, o que impede que as personagens principais saiam de onde estão e de que até mesmo haja uma fiscalização de um órgão superior que cesse as práticas horríveis feitas nesses lugares.
Em O Homem de Palha (Robin Hardy, 1973), um dos principais aspectos da história é esse, em que o personagem principal, o Sargento Howie (Edward Woodward, The Equalizer) vai até a ilha Summerisle investigar um assassinato e se depara com uma comunidade com hábitos além de sua imaginação, totalmente opostos ao que ele conhece – o que é certo e errado para ele não é o mesmo para essa sociedade, são valores distintos.
Componentes pagãos, ocultistas ou sobrenaturais e sacrifícios
Rituais pagãos, satanismo, bruxaria, magia do mal e fervor religioso são elementos também presentes na maior parte dessas películas, o que resulta em outro aspecto principal para a identificação de um folk horror, que é o sacrifício.
Geralmente, esses sacrifícios são bem violentos (envolvendo morte, tortura, entre outras práticas) e ocorrem em razão ao culto à divindade em questão, em que a personagem principal ou é sacrificada ou cede e junta-se ao culto, e àquela vida, abandonando suas crenças e valores do mundo dito civilizado.
Segundo o site gringo de cultura pop Birth. Movies. Death, a questão do folk horror é sobre a atmosfera da história, o isolamento e a ameaça de fanatismo e como esses elementos combinados causam uma aura macabra e única.
Não é um terror de causar sustos, nem estritamente psicológico – é mais sobre o estranhamento de culturas divergentes em relação aos comportamentos e costumes dessas comunidades isoladas retratadas, que causam o sentimento de pavor e aversão. O isolamento nessas comunidades, a falta de limites, proporciona a sensação de liberdade das normas sociais, em que tudo é permitido e não há punição, você pode e deve se entregar ao primitivismo, aos prazeres e necessidades da carne.
Para conhecer mais filmes, outros clássicos além de O Homem de Palha, O Caçador de Bruxas e O Estigma de Satanás, consultem a lista feita pela criadora de conteúdo Adriana Cecchi. Existem muitos filmes de folk horror que merecem destaque, mas aqui foram escolhidos os mais recentes, fáceis de achar.
Filmes de folk horror
1 – Maria e João
A mais recente versão do clássico tem um toque muito mais sombrio sob o olhar do diretor Oz Perkins. Lançado em fevereiro de 2020, o longa enfatiza a história em Maria, como já é demonstrado no título, que tenta sobreviver à fome junto do irmão mais novo, até encontrar Holda, uma senhora que mora isolada na floresta, que os acolhe em sua casa – mas não por mera bondade. Saiba mais na crítica feita pela equipe do Fala!
2 – Apóstolo
O personagem principal, Thomas Richardson (Dan Stevens, A Bela e a Fera) parte para uma ilha a fim de salvar a irmã que foi capturada por uma seita misteriosa. Sair dessa estranha e mística ilha com a irmã vai ser uma tarefa mais difícil do que imaginava. O filme se encontra disponível na Netflix, confira o trailer abaixo.
3 – Hagazussa – A Maldição da Bruxa
Este longa alemão de 2018 conta a história de Albrun (Aleksandra Cwen), uma jovem que vive sozinha nas montanhas austríacas durante o século XV. O que parece ser uma vida solitária e bucólica adquire um tom sombrio ao decorrer da trama, com estranhos acontecimentos afetando a pastora. O filme encontra-se disponível no catálogo do Amazon Prime Video, assista ao trailer:
4 – Midsommar: O Mal Não Espera a Noite
Dirigido por Ari Aster (Hereditário), a trama é sobre um grupo de amigos que viajam a uma zona rural na Suécia, em que um deles está planejando uma tese de doutorado sobre festivais de verão europeus. Lá, os forasteiros se deparam com uma comunidade com costumes muito diferentes do imaginável. A película também se encontra disponível no Amazon Prime Video, confira o trailer:
5 – A Bruxa
Longa de estreia de Robert Eggers (O Farol), a história se passa em Nova Inglaterra, no século XVII, em que uma família é expulsa da comunidade (lembrando que, nessa época, os EUA eram colônia do governo britânico), forçados a viver sozinhos na floresta. Os problemas agravam-se com o desaparecimento do filho mais novo, e uma histeria recai sobre o grupo. Assista ao trailer:
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Por Giovana Floriano de Medeiros Leobaldo – Fala! Anhembi