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Confira 5 filmes dos anos 60 que fazem sucesso até hoje

Já escrevi alguns textos nesse estilo enumerativo: 5 cidades brasileiras, 5 pontos turísticos de Roma, 5 gastronomias do mundo. E apesar de possuírem uma mínima especificação, é praticamente impossível que essa seleção escape de critérios subjetivos na escolha. Com este, não será diferente, já partindo do princípio que não assisti a todos os grandes filmes da década. Entretanto, foi uma escolha bem difícil, pois, sem dúvida, deixei muitas obras-primas de fora. Mas posso garantir ao leitor e aos amantes da sétima arte que não vão se decepcionar. 

Muitos cinéfilos consideram os anos sessenta como a melhor década da cinematografia. E é importante destacar que foram anos extremamente importantes na história da humanidade, marcados por rupturas, revoluções, renovações, por novas formas de enxergar o mundo e, acompanhando essa atmosfera, a sociedade transformava-se com novos hábitos e mentalidades.

Sem dúvidas, o cinema, imerso nesse cenário global, sofreu também diversas transformações. Os resultados foram esses trabalhos grandiosos que temos o privilégio de acessá-los passados 60 anos. Dito isso, vamos à lista! 

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Veja 5 filmes dos anos 60 que fazem sucesso até hoje. | Foto: Montagem/ Reprodução.

Filmes dos anos 60

Psicose

Abrindo a década com um filme de 1960, lançado no Brasil em 1961, e com um trabalho impactante do (já considerado à época) mestre do suspense, Alfred Hitchcock. O diretor foi um revolucionário do gênero e Psicose é um dos marcos que simboliza bem essas inovações.

Indicado para quatro categorias do Oscar, incluindo melhor atriz (Janet Leigh) e melhor direção, o filme possui talvez a cena de assassinato mais famosa da história do cinema. A noção de trilha sonora como um verdadeiro personagem é muito perceptível em Psicose e, com certeza, influencia diretamente nas emoções dos espectadores ao longo do filme.

O Processo

Com um primeiro longa tão grandioso quanto Cidadão Kane (1941), é fácil esquecer da carreira de Orson Welles nos anos 60. É ainda mais fácil de esquecer depois do diretor ser “exilado” de Hollywood após A Marca da Maldade (1958). A resposta de Welles com O Processo (1962) foi ambiciosa, uma produção internacional europeia e uma adaptação do clássico de Franz Kafka.

O filme apresenta uma narrativa lírica e metafórica sobre o lado opressivo da lei de uma maneira que só alguém de muito talento e experiência conseguiria, com uma cinematografia e design de cenário que visualmente explicitam a grandiosidade e arbitrariedade dos temas abordados, além de uma excelente atuação de Anthony Perkins, protagonista também em Psicose.

E se a proeza técnica não for suficiente, O Processo destrincha e critica o sistema legal (“junto a qualquer sistema anti-indivíduo, tal qual o que ostraciza Welles”) de uma forma que o faz merecer crédito como um dos melhores filmes não só da década de 60, como da carreira de um dos maiores diretores da história dos EUA.

Céu e Inferno

Em 1963, lendário diretor japonês Akira Kurosawa faz Céu e Inferno. Em uma carreira responsável por filmes clássicos como Sete Samurais (1957) e Rashomon (1952), além de aclamadas adaptações de Shakespeare (Homem Mau Dorme Bem, Trono Manchado de Sangue e Ran), parece quase fora do lugar que alguém como Kurosawa tenha tirado do livro de suspense pulp “Resgate do rei: um mistério da 87ª delegacia” a base para o que alguns consideram sua magnum opus.

No entanto, é exatamente a forma com a qual o diretor lidou com a adaptação que demonstra porque merece todo seu renome, pois, enquanto o livro conta uma história ideal americana, onde bom caráter e trabalho duro são os únicos caminhos ao sucesso, o filme apresenta uma crítica afiada ao capitalismo, explorando as injustiças e incoerências do sistema, deixando uma impressão duradoura na audiência.

Kurosawa utiliza todos os aspectos possíveis da apresentação técnica para gerar um clima de suspense perfeito. As longas plano-sequências preservam o ritmo e o desconforto de uma cena à próxima. O preto e branco serve não só tem propósito como metáfora, mas também realça momentos impactantes.

Tudo isso sem mencionar a atuação de Toshirō Mifune e Tatsuya Nakadai que, como alguns dos atores mais conhecidos do cinema japonês, entregam duas das melhores performances de suas carreiras. O clamor crítico que Céu e Inferno recebeu com o passar dos anos é mais que merecido, é necessário.

Oito e meio

Seguindo a lista, vamos para um que se tornou um de meus filmes favoritos e que assisti recentemente durante o período da quarentena, em 2020. Oito e meio (1963), obra-prima do italiano Frederico Fellini. A ideia que partiu da falta de ideia. Um diretor com bloqueio de criatividade que necessita entregar um filme – desse modo encontrava-se Fellini na incumbência de produzir o que viria a ser Oito e meio.

Por que não utilizar o próprio bloqueio criativo como temática? Haja criatividade. Foi isso o que Fellini fez, transpondo essa angústia para o personagem Guido (Marcello Mastroianni). Guido, além de também ser um diretor que busca por inspiração, ele funciona como um alter-ego de Fellini, manifestando as emoções, pensamentos, perturbações.

Em diversos momentos, o filme mistura o mundo fantasioso com o mundo ”real”. O filme em si possui uma realidade própria, o que na cinematografia pode ser chamado de Diegese, deixando o espectador até perdido na linearidade e narratologia da história. Isso, aliás, foi uma das propostas de Fellini – deixar a impressão de um filme que não acabou, que está pela metade.

Deus e Diabo na Terra do Sol

Para fechar, não poderia deixar de mencionar um dos grandes representantes do Cinema Novo no Brasil, Glauber Rocha. Deus e Diabo na Terra do Sol (1964) é considerado por muitos estudiosos do cinema como melhor e mais importante filme brasileiro. Como dito no início, era um período de muita mudança, revoluções, contestações e os impactos de Deus e Diabo na história do cinema no país foram muito significativos.

Então, gostando ou não, deve-se reconhecer a importância dessa obra. Nas palavras de Rocha, com ”uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” o filme aborda a temática do Regionalismo Sertanejo, visto também no filme Vidas Secas (1963).

O que já era notório no mundo literário em nomes como Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Jose Lins do Rego e Rachel de Queiroz, agora passava para as telas. A obra retrata a perspectiva mísera dos sertanejos a partir de uma dualidade maniqueísta entre Messianismo e Cangaço (dois símbolos da realidade social do sertão), representando analogamente Deus e o Diabo. No YouTube, encontra-se a versão completa do filme, dever de casa obrigatório para os amantes de cinema.

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Por Pedro Tavares – Fala! UFRJ

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