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Como o SUS pode ajudar na contenção de uma pandemia

Ter um Sistema Único de Saúde que contemple todo o território brasileiro e possibilite assistência médica à população mais carente é a aposta do Ministério da Saúde no combate do novo coronavírus no Brasil

Durante uma coletiva de imprensa ao lado do presidente Jair Bolsonaro, no dia 18 de março, o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, ressaltou a relevância estratégica do SUS no combate da pandemia do novo coronavírus

O SUS está presente em todos os municípios brasileiros. Eu não tenho uma cidadezinha brasileira, não tem uma comunidade  quilombola ou indígena que não tenha o SUS. Nós podemos ter dificuldade? Podemos. Mas o sistema de saúde vai estar ao lado de 215 milhões de brasileiros.

pandemia de coronavírus
Mandetta ressalta a relevância do SUS no combate do coronavírus. | Foto: Reprodução.

Em um país com dimensões continentais como o Brasil, ter um sistema único de saúde que estenda-se irrestritamente a todo território nacional pode fazer a diferença em um cenário de contaminação em massa. Sobretudo, quando a circulação comunitária do vírus intensificar-se nas zonas mais pobres, evidenciando a desigualdade social no país. Logo, garantir testarem o atendimento médico gratuito à população vulnerável pode atenuar a crise sanitária.

Além disso, uma rede saúde articulada, consegue hierarquizar todas as suas instâncias. Isto é, as autoridades podem orientar as pessoas com sintomas mais leves a procurar, primeiramente, postos de saúdes e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), ao invés de hospitais. Para que, assim, aja uma diluição dos pacientes que recorrem ao SUS, desafogando os prontos-socorros e potencializando a qualidade do atendimento oferecido.

Os países que contam com uma rede de saúde particular fragmentada têm mais chances de entrarem em colapso em um menor tempo. Outros sistemas de saúde que estão em um estágio mais avançado de contaminação, como Itália, França, Espanha e Reino Unido oferecem às suas populações atendimento médico, mas não são tão amplos e abrangentes como o brasileiro, porém, recebem mais investimentos.

Já os Estados Unidos, apesar de ter a segunda maior taxa de respiradores por habitante, perdendo somente para a Alemanha, têm um contingente de 29 milhões de norte-americanos sem seguro de saúde. Em virtude da ausência de acesso a um serviço gratuito de saúde, grande parte da população deixa de ir aos hospitais ou negam-se a fazer testes para evitar os altos custos.

O Brasil é o único país do mundo com mais de 200 milhões de habitantes que possui um sistema gratuito e universal de saúde. Dessa maneira, o Ministério da Saúde aposta no SUS como um diferencial no combate do novo coronavírus, confiando aos hospitais públicos o tratamento dos infectados e a programas a contenção da contaminação.

No entanto, o SUS convive com sucessivos cortes em seu orçamento, o mais impactante foi a Emenda Constitucional 95, que incluiu a saúde em uma politica de austeridade, impondo ao setor um teto de gastos. Com isso, a rede pública não está imune a um colapso e tampouco chega  totalmente preparada para enfrentar uma crise sanitária, inviabilizando a oferta de um melhor atendimento.

Por isso, mesmo sendo peça-chave no combate ao novo coronavírus, as fragilidades do sistema de saúde brasileiro não podem ser ignoradas. Portanto, para desempenhar um bom funcionando durante a pandemia o SUS dependerá de investimentos, que foram anulados e postergados por décadas.

Existe, consequentemente, uma preocupação quanto à disponibilidade de leitos e aparelhos médicos, entre eles respiradores, que pode ser reduzida, desde que aja uma organização correta do SUS e respeito às medidas de isolamento social para que o número de infectados não atinja picos. A fim de que os sistemas de saúde público e privado consigam lidar da melhor forma possível com a pressão imposta pela pandemia.

Na esfera da prevenção, o ministro Luiz Henrique Mandetta usará dois programas do SUS. O primeiro são os agente comunitários de saúde que desde de 1991 visitam casas, esclarecendo dúvidas, encaminhando a população para o atendimento necessário e acompanhando crianças e idosos. 

E o programa “Saúde da Família”, que consiste na formação de uma equipe técnica de profissionais que auxiliam entre 100 e 250 famílias. Ambos os programas tem um grande alcance no país, uma vez que os agentes comunitários estão em cerca de 98% dos municípios e há cerca de 45 mil equipes da família.

O Ministério da Saúde quer aproveitar esses programas para intensificar o monitoramento dos agentes de saúde nos idosos e reforçar o auxílio às famílias, como de visitas que sigam os protocolos para a não contaminação, por meio de informações e a realização de uma espécie de triagem, repassando os casos que precisam de maiores cuidados e atenção para os hospitais.

Sobre os profissionais que integram os programas, o Luiz Henrique Mandetta ressaltou, “Vocês estão no front do combate. Os sistemas que centralizam o atendimento no hospital formam os que colapsaram mais rápido. É um erro centralizar o atendimento no hospital”. O foco do Ministério da Saúde para tornar o SUS mais eficiente é desafogá-lo, fazendo da gestão compartilhada a solução para isso.

Mesmo com a experiencia de outros países no combate à pandemia e uma extensa e universal rede púbica de saúde, o SUS precisará de investimento para combater essa crise sanitária sem precedentes. Se mobilizado corretamente é possível que o Sistema Único de Saúde consiga fortalecer sua imagem e, consequentemente, seu orçamento futuro, revitalizando seu caráter essencial ao olhos do poder público.

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Por Camila Nascimento – Fala! Cásper

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