sexta-feira, 29 março, 24
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Carta – Para você

De: Eu
Para: Você

Oi, talvez você nem leia esta carta, mas vou escrevê-la mesmo assim. 

Eu sei que já faz muito tempo, pelo menos alguns anos, que eu não sei onde você está, não sei o que faz, não sei os seus sonhos, nem seus amores. É, faz muito tempo que eu não te vejo, que não te abraço, que não te beijo. Já faz tanto tempo que já não sei mais quanto tempo faz. O tempo passou, mas as memórias, não. As histórias ficaram, as alegres e as tristes. 

Lembra-se que tínhamos nossa banda favorita? Aquela que cheirava a espírito adolescente. E que tínhamos nosso filme preferido? Inclusive, ele ainda continua na parede do meu quarto. E, como se fosse naqueles mesmos 30 frames por segundo, me lembro de você, em uma grande obra cinematográfica de nós.

Éramos crianças quando nos conhecemos, inocentes e apaixonados. Eu lembro da primeira música que fez para mim, foi o presente mais sincero e valioso que eu já recebi. Nós nos amávamos, um sentimento que, até hoje, não senti por mais ninguém. Não sei se é porque você foi o meu primeiro amor, mas parece que foi o único. Eu sei que é clichê, e você sabe o quanto eu odeio isso, mas, às vezes, as palavras não exigem mais do que isso.

Crescemos juntos. Amamos juntos. Rimos juntos. Você era o meu melhor amigo. Passou-se um ano e, de repente, planejar o futuro já estava em nosso presente. Você ficava preocupado, por aquele rebelde sem causa que pulava o muro da escola e fugia pra tocar guitarra, sem preocupações, não ligava para o futuro, você só queria viver o presente e torná-lo menos insuportável. Já eu, vivia sob a indecisão, sem grandes perspectivas e sem algo que me inspirasse e me motivasse a correr atrás dos meus sonhos. Na verdade, eu nem tinha sonhos antes de conhecer você. Mas isso havia mudado, o ideal de família começou a se formar, aliado ao desejo de viver uma vida inteira com você. 

Hoje, já não estamos mais juntos. Depois de 4 anos, não nos entendemos mais. Pensávamos que era porque começamos muito jovens, e que não tínhamos vivido o suficiente sozinhos. Acho que estávamos certos, eu ainda não era o que me orgulho de ser hoje, e talvez não tivesse sido estando ao seu lado. De certa forma, tudo que sou começou por sua causa, seu incentivo. Você acreditava em mim, e eu em você. Mas já não precisávamos mais estar juntos, aprendemos a acreditar em nós mesmos. E, talvez, seja isso que um amor, verdadeiramente, constrói: a não necessidade de ser feliz com o outro.

Desde então, não tivemos mais contato. Passaram-se anos. Até que você me mandou um e-mail, o único canal de comunicação que ainda temos um do outro. Descobri que você está do outro lado do país, formado e trabalhando, mas que nunca esqueceu de nós. Confesso que meu peito apertou quando li sua mensagem, de fato, também não o esqueci.

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Por Beatriz Oliveira Abrahão            

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