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As Jovens Atletas do Handebol Brasileiro

Isabella Baliana – Fala!MACK

 

Meninas de garra – A vida e as dificuldades das jovens atletas do handebol brasileiro, esporte pouco falado no país

O Brasil é um país conhecido mundialmente pelo esporte, principalmente o futebol, que já se tornou um símbolo de identidade nacional dos brasileiros. Mas, o que muita gente esquece, é que o Brasil também possui outras modalidades que não deixam de serem importantes, como o handebol. Esporte de origem europeia, chegou ao Brasil na década de 30 e se difundiu principalmente através de escolas e universidades.

Foi dessa forma que Luisa Manochio, de 15 anos, Ana Júlia Silva e Luana Paula de Oliveira, ambas com 17 anos, conheceram o esporte. Elas jogam no time da cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo. As meninas descobriram sua paixão pelo handebol nas aulas de educação física do colégio que estudavam. Como os professores notaram que eram boas no esporte, as chamaram para jogar por São José, e, desde então, é onde continuam até hoje.

Segundo o técnico do time feminino juvenil de São José dos Campos, Márcio José Volponi, de 53 anos, houve uma pesquisa anos atrás dizendo que o handebol era o segundo esporte mais praticado nas escolas: “se existe uma popularização do handebol, é devido à prática nas escolas de ensino fundamental e médio”. Contudo, Márcio enfatiza que o número de praticantes do esporte não se transforma em quantidade de atletas para competir. Dessa forma, ainda é um esporte não muito popular, pois no panorama nacional possui poucos jogadores.

A dificuldade de se tornar bem conhecido entre os brasileiros também se deve ao fato de que a Confederação Brasileira de Handebol só teve seu início em 1979, sendo, portanto, recente no Brasil. No país, existem times de handebol municipais, estaduais, regionais e nacionais. Embora não sejam muito conhecidas, as meninas ocupam cada vez mais espaço na modalidade, transbordando talento.  A Seleção Brasileira Feminina de Handebol foi campeã em 2013, no Campeonato Mundial de Handebol Feminino, tendo já vencido o Campeonato Pan-Americano 10 vezes e o Sul-Americano, 9.

Bruna de Paula é um exemplo de como o esporte pode abrir portas. De Campestre, interior de Minas Gerais, se mudou para São José dos Campos para jogar. De lá, se destacou e foi chamada para a Seleção Brasileira com apenas 16 anos. Pela Seleção Juvenil, já esteve no Japão, na China, Macedônia. Atualmente mora na França e joga pelo time francês Fleury Loiret Handball. Ela dá um conselho para as atletas iniciantes e também para a vida: “Tenha dedicação. Não desista em qualquer desafio, porque sem sacrifício, não chegamos a lugar algum”.

O handebol é um esporte de muito contato corporal e desgaste físico. Várias meninas adquirem lesões e problemas de saúde devido a isso. Nathália Fraga, de 23 anos, joga pela Associação Atlética Banco do Brasil/Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de Bauru/Faculdade Integradas de Bauru (AABB/SEMEL/FIB BAURU) e conta que já pensou em desistir de jogar por conta de uma lesão. Ela teve um rompimento do ligamento cruzado anterior no joelho e um desgaste na cartilagem do ombro direito. Este último piorou e foi preciso uma cirurgia. “Apesar de tudo, tirei uma coisa boa da lesão do ombro direito, pois aprendi a jogar com o braço contrário, o canhoto, e agora me familiarizo bem mais com ele”, finaliza.

A Luana Paula também já sofreu com diversas contusões causadas pelo esporte: torceu os dois tornozelos, o pulso, teve luxação nos dedos da mão e teve que fazer 1 mês de fisioterapia por conta da torção no joelho direito. “É bem complicado isso, eu já me machuquei muito e até hoje meu joelho dói, dependendo do movimento que eu faço”. Ela se preocupa, pois, tem medo de se doar inteiramente para o esporte e não obter retorno futuramente.

Tayná Krause, 17 anos, é do Rio Grande do Sul e também é apaixonada pelo esporte. Ela joga de ponta esquerda na Seleção Juvenil Brasileira e também pela Liga Hamburguense de Handebol, em sua cidade, Novo Hamburgo. Ela representou a nação brasileira e foi campeã pelo Pan Americano. “Foi uma sensação única! Nunca tinha estado em um jogo internacional, foi incrível. Jogamos contra o time da casa, então tínhamos muita torcida contra”, ela relembra, muito feliz.

Tayná conheceu o handebol com 11 anos, em uma olimpíada escolar. Ganhou bolsa de estudos em um colégio particular e teve de conciliar a escola com os treinos e jogos. Hoje ela pretende seguir carreira como jogadora profissional de handebol e também deseja cursar nutrição, se especializando em nutrição esportiva. De acordo com Tayná, um dos maiores desafios do esporte é manter um ritmo constante, chegar onde você quer e se manter lá.

Em 2017, ocorreu em São Bernardo do Campo, o Acampamento Nacional de Handebol, entre os dias 22 de setembro e 1º de outubro. Em alguns estados, foram feitos acampamentos regionais, para selecionar os atletas que iriam para a etapa nacional. Foi dada preferência aos que participaram dos jogos do Campeonato Paulista, Jogos Abertos da Juventude e Jogos Escolares Brasileiros. Ao todo, a comissão técnica escolheu 66 atletas do país todo. E destes, só 21 passaram para a Primeira Fase de Treinamento.

A questão da valorização do handebol no Brasil é muito discutida entre as atletas e os técnicos. Por ser um esporte menos conhecido pela população como um todo, muitas vezes não se consegue patrocinadores suficientes e isso faz com que as jogadoras tenham que se mudar para Europa, onde a modalidade é bem mais valorizada, para continuar a carreira. O que, segundo a goleira de São José, Alice Ronchi Ferreira, de 15 anos, é uma pena: “Nós temos bons jogadores e boas jogadoras, só que a maioria está na Europa, e aí ninguém sabe. Ninguém sabe que fomos campeãs mundiais”.

A goleira foi também uma das convocadas para a Seleção Brasileira. Ela conta que ficou muito gratificada, pois treinou muito e desejou estar naquele lugar, então, foi uma vitória, um sonho realizado. Alice fala que sente falta de um reconhecimento do handebol: “É um esporte muito emocionante, um esporte de segundos, uma hora você está ganhando e na outra está perdendo. Acho que deveria ser feito mais marketing sobre o handebol, pra mostrar à população as nossas seleções, ter mais notícias, passar mais jogos na TV”, disse.

O técnico do time feminino de São José, Francisco das Chagas Ferreira, de 33 anos, lamenta esse cenário: “Se o país tivesse uma política esportiva, que olhasse um pouco mais para as modalidades que precisam realmente de divulgação e de investimento, o handebol com certeza estaria em um patamar melhor”.

De acordo com Márcio Volponi, também técnico, o pouco investimento gera campeonatos fracos, que não chamam atenção da mídia. “Uma das maiores dificuldades do handebol hoje, é ter os recursos para aplicar na modalidade a nível de clube, fica difícil fazer crescer sem dar o apoio e incentivo que o atleta precisa”, conta ele.

Para a jogadora convocada para a Seleção Brasileira, Letícia Ellen Passos, de 16 anos e a jogadora da Seleção, Bruna de Paula, é necessário investir na categoria de base, dando suporte desde as crianças até a maioridade. Segundo Letícia, “se não houver investimento, teremos sempre atletas buscando reconhecimento no exterior”.

Luisa Manochio conta sobre a recente perda de patrocínio do Banco do Brasil, que era um dos maiores colaboradores da Confederação Brasileira de Handebol. “O Handbeach (Handebol de areia/praia) está arrecadando dinheiro pela internet, devido à falta de apoio”. Luisa ainda diz que deveria ter mais divulgação no meio digital, além de facilitarem o acesso ao conhecimento do esporte, passando os jogos em canais abertos.

Ao mesmo tempo em que lutam por uma maior valorização e reconhecimento do seu esporte pelas prefeituras, patrocinadores e cidadãos, as atletas continuam com um sonho em comum: representar a nação brasileira mundo afora, sempre dando o seu melhor, com determinação e força de vontade. Para essas meninas, desistir não é uma opção.

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