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A importância da representatividade nas passarelas

Com o decorrer dos anos, o mercado da moda se reinventa no estilo, na costura, no tecido e no consumidor. No entanto, a ideia do “corpo padrão” não atende ao público de forma geral por não sentir representatividade na proposta da marca. 

Com o crescente debate às pautas voltadas ao padrão de beleza, essa realidade está mudando nas passarelas. Acompanhe a seguir, o conceito, as consequências e adaptações das grandes marcas e grifes internacionais a este processo.

Representatividade
Entenda a importância da representatividade nas passarelas. | Foto: Reprodução.

O surgimento dos desfiles de moda

O primeiro desfile de moda aconteceu em meados de 1860, – metade do século XIX – quando o designer de moda inglês Charles Frederick Worth usou modelos ao vivo, ao invés de manequins para apresentar suas criações em Paris, com o intuito de vender novos modelos à aristocracia europeia.       

Desde então, as empresas desses mercados utilizam desses eventos para mostrar suas coleções e assinaturas para a próxima estação. Alguns dos eventos de moda são: Paris Fashion Week, London Fashion Week, New York Fashion Week, São Paulo Fashion Week, Fashion Rio, entre outros.

As cores, formas, estampas, costuras, tecidos, comprimentos e acessórios compõem a curadoria das peças e indicam o que será uma possível tendência nas vitrines das lojas e boutiques mundiais.

Falta de representatividade, padrão e pressão estética nas passarelas

Ao longo do tempo, os padrões estéticos foram impostos e controlados à sociedade, visando a busca do corpo perfeito para se encaixar as tendências comerciais, geralmente, no ambiente capitalista que limita a liberdade humana e, sobretudo, a feminina. Automaticamente, é associado à ideia de que se o corpo feminino não atende a expectativa de um determinado estereótipo, não é possível atingir o sucesso pessoal, profissional e a realização de felicidade que pode impactar no estilo de vida e até mesmo comportamentos que poderão afetar diretamente a saúde física e mental.

Por meio das experiências nos grandes desfiles de moda, é evidente as normas impostas, que formatam o corpo, aparência e a cor da pele, denunciando casos de racismo e abusos psicológicos.

A importância do debate do conceito de beleza

As passarelas, grifes internacionais e agenciadores reforçam os padrões de beleza impostos socialmente e são reproduzidos nos mais diversos meios digitais ou de comunicação: magra, alta, branca e (quase) perfeita.

A influência das redes sociais contribuiu para a visão distorcida da idealização de beleza. Perfis de características fitness, modelos, digital influencer e empresas de produtos emagrecedores e de estética comercializando produtos “milagrosos” com promessas de resultados eficazes a curto prazo, sem esforços e sem avaliação médica, com sérias exposições ao corpo, possíveis efeitos colaterais e danos a saúde física e mental.

Esses mesmos padrões de beleza variam de sociedade em sociedade, sendo a diferença mais evidente entre as ocidentais e orientais. Novamente, as mídias e veículos de comunicação reafirmam a ideia de objetificação da mulher ideal. As consequências? Urgência em realizar procedimentos estéticos de forma precoce – às vezes em condições ilegais e de risco – que podem causar insatisfação e problemas de saúde.

De acordo com os dados da Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas (SBCP), o número de procedimentos estéticos entre jovens cresce em até 140%. A preocupação nesse estudo é a análise pela faixa etária: dos quase 1,5 milhão de procedimentos estéticos realizados, 97 mil, representados por 6%, foram realizados por jovens com até 18 anos de idade. Segundo especialistas, a justificativa para esse aumento está relacionado a não aceitação do processo de transformação do corpo, insatisfação da própria imagem e a sensação de incapacidade ou insuficiência em lidar com a realidade na qual está inserida.

É Importante mencionar também os casos de gordofobia que, por consequência desses estereótipos, ganhou visibilidade e uma maneira forçada de dizer que o indivíduo está “fora do padrão” por ser gordo. Quando na realidade, essas mesmas pessoas estão esteticamente e mentalmente saudáveis, sem problemas de saúde e felizes.

Em todos os casos mencionados, acima de qualquer exigência estética é libertador a pluralidade dos corpos, silhuetas, formas e cores. Além de representatividade, traz oportunidades, aumento de autoestima e a possibilidade de conectar corpos reais a mulheres reais, da vida real.

Representatividade nas passarelas

O termo “representatividade”significa representar os  interesses de um determinado grupo, classe social ou político. É a possibilidade de se identificar as competências e as atividades por meio de um indivíduo ou entidade, independente do seu contexto.

A representatividade cultural e social é imprescindível nos veículos digitais, de comunicação e de imprensa, para que mais pessoas possam se identificar com essa realidade ou situação.

Imagina um cenário em que uma criança, após receber direta ou indiretamente imposições limitantes do que pode ou não fazer, ou ser e ao assistir um desfile de moda , observa a imagem de uma modelo negra, com seus cabelos cacheados reafirmando sua força e poder não apenas aquela criança, mas à tantas outras pessoas que se identificam e se conectam.

Assim também ocorrem com modelos plus size,  que vêm conquistando espaço por meio de movimentos e coletivos que trazem esse debate da valorização da beleza real: modelos negras, plus size e da melhor idade são tendências ao universo fashion, desconstruindo padrões pré-estabelecidos dentro e fora das passarelas, sem distinções e prevalecer a beleza mais genuína que podemos carregar: nossa identidade, com liberdade e respeito às diferenças.

Alguns exemplos da quebra de padrões foram a presença de modelos com idade superior a sessenta anos, deficientes visuais, negras e plus size nos desfiles e campanhas da grife Fenty Beauty, marca da artista e empresária Rihanna.

Outra grife importante no mercado da moda é a Calvin Klein, que no ano de 2019, na campanha “I speak my truth – Eu falo a minha verdade”, em português – contou com a participação de modelos de diferentes etnias e em 2020, a campanha de orgulho foi protagonizada pela modelo negra e trans Jani Jones.

A grife internacional Versace em 2020, introduziu em seu casting modelos plus size. Na passarela, as modelos Julia Kortlove, Alva Claire e Precious Lee desfilaram os modelos da marca para o Summer-Spring daquele ano.

Dar voz ao real é representar as minorias e dar a sensação de pertencimento. A cada modelo quebrando padrões e estereótipos dentro e fora das passarelas, milhares de mulheres estão sendo vistas e vibrando pela felicidade de serem quem são.

Autenticidade e identidade são valores que podem conectar possibilidades à oportunidades. Ainda temos um longo caminho pela frente, mas que as conquistas de hoje sejam referências para o amanhã. Sororidade e Girl Power! 

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Por Erica Silva – Fala! Anhembi Morumbi

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