Ultimamente, nas redes sociais, é muito usado pelos jovens o termo “cancelamento“, usado para designar uma espécie de boicote a artistas, marcas ou pessoas, que não expressam sua opinião, comentem algum tipo de injúria ou preconceito ou simplesmente possuem opiniões diferentes da grande massa concordante.
Em grande evidência nos últimos anos, o cancelamento surgiu com a internet entrando em uma nova fase, na qual a web é mais usada para debater pautas sociais e políticas.
Com uma geração de usuários mais engajados socialmente, certas atitudes e falas emitidas por artistas e políticos, que há alguns anos passariam batidos diante da grande massa, vêm tomando grandes proporções na web.
É evidente que o país está vivendo um período de bipolaridade de ideias, de um lado os que prezam pelo conservadorismo e do outro aqueles que prezam pela liberdade e visibilidade das minorias. Com a intensa cobrança do público, o posicionamento de artistas e influencers se tornaram vitais para a permanência e o apoio de grande parte daqueles que acompanham por meio de redes sociais.
Com isso, diversos artistas com opiniões e atitudes controversas foram “cancelados” por boa parte dos internautas, isto é, sofrendo um certo tipo de boicote e, em teoria, tendo músicas não emplacadas nas rádios e contratos quebrados.
Na teoria, o cancelamento parece ser uma ótima alternativa de queixa, pois oferece às minorias uma forma de protesto a àqueles que não lhe oferecem apoio algum e são consumidos pelos próprios, porém, diante da realidade, pode-se observar que essa nova forma de boicote só existe nessa bolha social chamada de internet, na qual diversos usuários criticam tal artista ou marca.
Porém, a grande massa fora da bolha ainda consome do mesmo jeito, apenas causando um alvoroço sem impacto algum, pois, em um país onde ainda fazem piadas, músicas e filmes extremamente ofensivos às minorias, pode-se ver que continuam sendo feitos, porque a maioria ainda consome.
Cancelamentos na internet
Um grande exemplo de cancelamento fracassado é a da cantora Anitta, que em 2018 sofreu uma enorme pressão por parte dos internautas para se posicionar diante da bipolarização da população nas eleições e, por não se posicionar de imediato, sofreu rejeição e tentativa de boicote por parte da internet que, por sua vez, não vingou, visto que no ano seguinte a cantora emplacou diversos hits nas paradas do Brasil e obteve mais de 1 bilhão de streams no Spotify.
Outro grande exemplo é a vigésima edição do programa Big Brother Brasil, no qual foi eleito por muitos como uma edição histórica. O programa trouxe participantes diferentes que, ao longo dos 3 meses, sofreram rejeição por falas e/ou atitudes mal vistas pelo público, que gerou o cancelamento de todos os Brothers. Porém, sem sucesso, já que a maioria dos participantes (até aqueles acusados de crimes graves) aumentaram esporadicamente seu número de seguidores nas redes e o programa bateu recordes de audiência e votos, com 32,7 no mês de abril, e mais de 1 bilhão de votos. Provando, mais uma vez, a ineficiência do cancelamento sem conscientização.
Com isso, pode-se ver que o cancelamento é o modo mais ineficiente de protesto nas redes, visto que não adianta a internet boicotar se a grande massa ainda consome, e que os usuários estão presos em bolha social, na qual todos os problemas são resolvidos quando o “unfollow” é concebido e os “twitteiros de plantão” fazem um linchamento virtual com duração de um dia e uma semana, até o ato do “cancelado” cair no esquecimento, continuando esse ciclo vicioso. Provando que boa parte dos internautas continuam alienados e sem percepção do mundo por trás das telinhas de seus celulares.
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Por João Pedro da Costa – Fala! UFPE