quinta-feira, 26 dezembro, 24
HomeLifestylePara mal ou bem, Street League é realidade

Para mal ou bem, Street League é realidade

O evento que vem ao brasil no próximo mês é envolto em polêmicas e discussões.

Confira a chamada do evento no brasil:

https://www.youtube.com/watch?v=PGpHgPz9gWk

Mais uma vez o Brasil será sede de uma etapa de Street League. O evento, que é um dos mais prestigiosos no skate, acontecerá nos dias 18 a 22 de setembro no Pavilhão de Exposições do Anhembi e os ingressos já estão disponíveis. Não é a primeira vez que o brasil recebe o evento, mas sim a primeira final do circuito, que teve sua primeira edição em 2010. Mas como surgiu e o que a Street League representa?

Marca consolidada

Pode-se dizer que o Street League é o campeonato sucessor da Maluf Money Cup, extinta em 2011. Naquele período existiam apenas alguns circuitos profissionais de skate, principalmente no street. Nomes como Tampa Pro, tinham um grande peso, mas nenhum tinha a proporção, visibilidade e investimento que a street league tomaria.

Final do Tampa Pro 2019, campeonato lendário:

Foi em 2010 que um profissional aposentado e apresentador da MTV chamado Rob Dirdek, que era um nome revelante no skate dos anos 90 e andava pela falecida Alien Ware, decidiu mudar o jogo. Em 2010, em parceria com Brian Atlas, empresário e BI, deu como aberta a Street League. A ideia era pegar um esporte underground, em ascensão mas ainda estigmatizado e transformar em uma atração de estádio, rentável e sustentável como uma NBA ou MLB.

Do ponto de vista econômico deu certo. A primeira edição aconteceu em Glendale, no então “Jobing.com Arena”, com lotação para 18 mil pessoal. A transmissão foi feita pela FOX Sports e contou com investimentos da Chevy, Nixon, Gopro, Monster, entre outros. Era inegável que o modelo estava dando certo, o dinheiro saía com os grandes eventos mas entrava com um público enorme, patrocínios e visibilidade.

Melhores momentos da  primeira Street League:

O skate, street principalmente, nunca tinha levado uma bolada como essa. Por mais que nos anos 80, no auge de Rodney Mullen, Bones brigade boys e Tony alva, fossem transmitidos em rede nacional americana, uma liga de skate com esse tamanho era impensável, assim como as premiações. No primeiro ano quem levou os 200 mil dólares foi Nyjah Huston, na época com 15 anos.

Uma das primeiras Video Parts de Nyjah Huston pela Element:

Em 2013 a SLS como marca explodiu. O time de basquete Boston Celtics e o São Francisco 49ers viraram stakeholders da marca e a Nike entrou na jogada. No final daquele ano a revista “Sports Business” avaliou a liga em 12 milhões de dólares.

Faz bem para o skate?

Mas será que transformar o skate em produto mantém uma sustentabilidade dentro da cultura? Puristas como Jeff grosso afirmam que não.

“A coisa toda gira em torno de uma aventura para fazer dinheiro, desde o começo. Eles estão no comércio de promover o que eles promovem”, afirmou Grosso, um dos nomes mais influentes da história do skate, um “Mogul” do vert.

Imagem Jeff Grosso:

https://www.instagram.com/p/B1bx5c7BN4y/

Em entrevista à revista Vice, ele considera a liga uma forma de anular e deixar de fora diversos skatistas que não se encaixam ali.

Skatista como Grosso seria um exemplo de estilo excluído da liga. Dirdek, destaca que realmente a liga não é para todos. O formato certinho, como obstáculos definidos, rampas, hubas e corrimões estritamente colocados, favorecem skatista técnicos e com uma consistência de manobras durante a competição. Funcionaria como uma formatação de estilo e manobras.

Imagem Pista da etapa de Los Angeles, 2019:

https://www.instagram.com/p/B01Cl3oh1eS/

No formato atual, que mudou bastante durante os anos, cada parada do Tour conta com o round classificatório, com 75 participantes. Os dez melhores seguem para as quartas de final e se juntam aos skatista entre a 21ª e 38ª posições no ranking de 2018 e mais quatro bem colocados no ranking.

Entenda um pouco melhor o formato desse ano (vídeo sem legenda):

Os dez primeiros desta fase avançam para as semis e disputam contra os primeiros 20 colocados do ranking de 2018. Os oito competidores com melhores notas passam para a final.

O mais polêmico de tudo é o criticado método de avaliação, chamado de ISX: O sistema de pontuação instantânea. Mesmo tendo cinco juízes muito bem qualificados e com reputação incontestável, o ISX é um sistema de computador que analisa passo a passo as manobras realizadas. Ele identifica diversas situações, como por exemplo se a manobra foi realizada perfeitamente, manobra acertada na primeira tentativa, etc. O fator humano é contabilizado, mas nem tanto; os skatistas são avaliados por máquinas.

Esse sistema irrita muita gente, como Tommy Guerrero, que andava pela Powell Peralta, fazia parte da Bones Brigade e é considerado um dos pais dos skate moderno. Ele disse em 2013 ao NY Times: “Para mim esse sistema é estéril… Eu vim de uma abordagem muito diferente do skate, era sobre o momento, não tentar acumular pontos. Então, Grosso completa: “Com a SLS é sobre aprender as 3 ou 4 manobras que dão mais pontos e batem o resto. É fórmula, é ginástica”.

Por outro lado, muito skatistas não vem a liga com purismo. Claro que não é viável para todos, assim como nem todos jogadores de futebol jogam na Premier League ou Série A. Afinal passamos a lidar com um ranking remunerado, gostemos ou não.

Mesmo que não funcione para todos, a liga da possibilidade a alguns viverem profissionalmente:

Em entrevista a vice, o COO da liga, Atlas fala sobre o sistema: “ Os pros da SLS são um dos únicos profissionais que realmente conseguem viver disso e tirar um dinheiro significativo”. Todos os campeonatos pagavam, desde sempre, mas só a liga consegue chegar a esse nível.

É só olhar o Instagram do maior ganhador da liga, Nyjah Huston, que esbanja como se fosse um jogador do Barcelona. O COO completa que a competição sempre fez parte da cultura do skate, e os que criticam deveriam ver esse fato.

Instagram do Nyjah:

https://www.instagram.com/p/B0W_XGjn4gW/

O Brasil é um desse beneficiários da SLS. O surgimento de nomes como Felipe Gustavo, Letícia Bufonni, Kelvin Hoeffler e agora a fadinha do skate, que ganhou a última edição da competição feminina com apenas 11 anos, se dá muito por conta da SLS especificamente. Para países que não tem uma cultura do skate tão estabelecida, campeonatos desse tipo podem ser a chave para alcançar a sobrevivência e visibilidade, visto que outros meios como “Video Parts” estão acabando. Mas isso é outro papo.

________________
Guilherme Carrara – Fala!Cásper

ARTIGOS RECOMENDADOS