Por Mariana Arrudas / Jornalismo Júnior ECA – USP
Se a arte é para todos, eles são a prova disso: os vendedores ambulantes de arte sempre estiveram presentes no cotidiano de muitos brasileiros. Eles colorem as ruas, avenidas, os vagões seja de trem ou metrô. São pessoas que encantam turistas pelas feirinhas de artesanato, que levam sua arte única e original para as ruas a fim de ganhar a vida.
Quadros, bolsas feitas de crochê, esculturas, caricaturas feitas na hora, camisetas personalizadas. Estes são alguns dos produtos que são comercializados por esses vendedores, e eles estão em todos os cantos: seja em cidades pequenas ou grandes, sendo parte importante da cultura de um povo, afinal são comerciantes atentos, ativos, observadores e espertos.
Atualmente, um dos maiores locais onde é feito esse comércio na cidade de São Paulo é a Avenida Paulista, especialmente em dias que a é fechada. Há aproximadamente cinco anos, uma lei municipal abriu “sinal verde” para os artesãos, fazendo com que o número deles aumentasse e com que cobrissem grande parte da extensão da rua, com suas cores e histórias.
Para algum artista trabalhar na rua, é exigido ter a carteira da Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco), vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico. E com a crise financeira, o número de pessoas que praticam esse comércio aumentou. Em 2015, a procura para ter a carteira da Sutaco aumentou em 20%, segundo a Prefeitura de São Paulo.
Assinada pelo ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, a lei municipal libera as apresentações de artistas de rua e ganho financeiro espontâneo proveniente seja do espetáculo ou da venda de obras. No entanto, em 2014, a Prefeitura Regional da Sé (antiga Subprefeitura), responsável por aquela região, delimitou os pontos os quais os artistas poderiam ficar, regulamentando a Lei dos Artistas de Rua.
Atualmente, com o Programa Cidade Linda, implantado pelo ex-prefeito João Dória e ainda exercido na atual gestão Bruno Covas, a situação dos artistas e artesãos apenas piorou. Segundo o próprio Dória, agora apenas 50 pessoas tem o termo de permissão para o uso do espaço da avenida. E, além disso, aumentou a remoção e apreensão dos trabalhos, o que assustou os artistas.
Entretanto, mesmo com tantos empecilhos e dificuldades em continuar com o trabalho expositivo, muitos artesãos ainda permanecem ocupando os 50 espaços disponíveis para a venda.
Fomos até a Paulista para conhecer um pouco mais desse universo e encontrou Carlos Ragazzo, que estudou na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e atualmente é autônomo que trabalha com a técnica de pintura Sumi-ê.
Essa arte oriental surgiu na China no século II da era cristã, mas se difundiu mais no Japão. A palavra “Sumi-ê” tem origem japonesa e quer dizer pintura com tinta. O conceito do Sumi-ê está na arte do essencial. É uma mistura do desenho com a arte da caligrafia, e a mensagem do artista é passada de modo resumido e sem equívocos.
Além de trabalhar com a técnica do Sumi-ê, Carlos também ressalta a importância de projetos que protejam o meio ambiente e em especial, a Floresta Amazônica. Em sua página no Facebook expõe seu trabalho e também defende essa causa. Ele ensina essa técnica e também comercializa seus quadros como artista de rua. Confira, abaixoa a entrevista:
Em dias como domingos na paulista, você sente que as vendas melhoram?
“É incerto. Aqui é um bom espaço expositivo, então é legal porque passa muita gente que vê. Mas é incerto. Você vende ou não vende. Eu não tenho outros espaços de comercialização. Fora daqui, só dou aulas de Sumi-ê, então eu só vendo aqui mesmo. Mas a venda é realmente uma coisa incerta.”
Quando você começou a ter contato com a arte já via isso como uma fonte de renda ou apenas um hobbie?
“Não, foi por acidente. Eu fazia pós graduação em física na Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto e aí um professor da universidade deu uma oficina de Sumi-ê, que é essa pintura, e eu fiz a oficina. Aí em 1993, isso em 1990 (a oficina de Sumi-ê), eu vim para São Paulo passear ver meu mestre que ia dar aula, e como eu sempre gostei de cultura oriental, comecei a fazer as aulas com ele, e de 1993 até 2000, acompanhei.”
Quando você começou a ter contato com o mundo do comércio de arte?
“Em 1995 o mestre me permitiu, porque eu tinha muita proficiência na técnica, dar aulas, então eu comecei em 1995 a comercializar por meio das aulas e depois comecei a vender alguns trabalhos.”
Algum momento te marcou desde que você começou a vender arte?
“Na verdade, todos os clientes criam alguma identificação com as pinturas que levam. Então todos me marcaram de alguma maneira. Agora, o marcante para mim mesmo, é quando passam famílias com crianças e as crianças começam a pular em frente às pinturas. É uma delícia isso! Porque elas se identificam muito rapidamente, com o frescor da paisagem, com o verdor do bambu. Tem criança que fica realmente tomada, e eu acho muito legal isso.”
Muitos dos artistas são como Carlos, que caíram na arte por “acidente”, mas encontraram nela mais que um hobbie: uma profissão. A arte deve ser de fácil acesso para todos que a queiram em sua vida. E esses artistas trazem ela para a sociedade, da forma que deve ser, cheia de histórias, carinho e dedicação, para assim deixar cada vez mais a Cidade cada vez mais Linda.