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Educação TICs: as dificuldades da inserção das tecnologias no Brasil

Sem aulas presenciais e o avanço da pandemia, foram impostas algumas ferramentas para continuidade do plano pedagógico. De forma emergencial, professores e estudantes foram submetidos ao ensino por meio de plataformas virtuais, uma realidade nova que precisou de adaptações em casa. Por outro lado, se evidenciou a exclusão digital acerca do ensino no Brasil. A tão esperada transformação da Educação, com o suporte das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) finalmente poderia se tornar uma realidade. 

Contudo, vulnerabilidades existentes e ignoradas foram reveladas e evidenciadas. Destacando o fato de que muitas pessoas não têm acesso a computador e nem à internet, o ensino que já era diferente de escolas particulares para escolas públicas, agora existem ainda mais subníveis de qualidade. 

Os fatores mais relevantes para esses subníveis são a qualidade do equipamento, velocidade da internet e conhecimento prévio sobre tecnologia.. Os professores, em muitos casos, não possuem esse tipo de conhecimento. Por não terem acesso ou condições financeiras. Eles se sentem mais uma vez encurralados pela sociedade e o “avanço”.

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A inserção das TICs na educação trouxe novos desafios. | Foto: Reprodução

As TICs e a adaptação dos profissionais da educação 

Não tiveram muitas complicações em colocar todo mundo em casa trabalhando e estudando no home office. Sem nenhuma ajuda de custo do governo do Estado, o trabalho remoto tem rendido muitos professores em um turno extra, que tiram investimentos do próprio bolso. Assim tem sido a rotina de Rizomar da Silva, 43 anos, professora de 1º ao 5º ano que trabalha na rede municipal desde 2008. 

Segunda ela, o trabalho tem hora para começar, mas não para terminar. O trabalho começa às 7h30 da manhã e vai até o fim da noite. “Eu não sei mais o que é conversar com o meu marido e minha filha, eu trabalho tanto que às vezes eu nem quero acordar para não ter que trabalhar de novo”, afirma a professora. 

Ela precisa atender os alunos e pais, passar as atividades e acompanhar o processo educacional. Parece bem simples, porém, em alguns casos, ela precisa levar o material didático até a escola para os pais que não tem acesso à internet consigam continuar com o ensino, o que é um dos maiores problemas da educação com as TICs. O material que é impresso sai do bolso da professora. Exercendo ainda um trabalho social, em visitar as crianças, entender como funciona o ambiente familiar e tentar manter todos na escola, mesmo que de forma indireta.

As aulas são todas gravadas e transmitidas pela televisão. Porém ela tem o papel de colocar em prática o que aprenderam, avaliar e alfabetizar. ‘O período mais importante da vida é totalmente estragado por um sistema defasado”, diz Rizomar. A maior preocupação dela são as famílias mais carentes. 

Ela teve que desembolsar dinheiro para equipar o seu local de trabalho, para gerar as atividades impressas e ainda ter que pagar por uma internet mais cara para atender todas as suas necessidades. “Eu passei tantas horas trabalhando que a minha saúde mental me impossibilitou de muitas coisas” ressalta ela.

As TICS na universidade

No Brasil, cerca de seis milhões de estudantes, desde a pré-escola até a pós-graduação, não têm acesso à internet banda larga ou 3G/4G, segundo levantamento do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). 

Vivian Melissa, de 25 anos, estudante de fisioterapia, entrou nesse índice no início do ano de 2021. No início da pandemia, apesar do medo de ser infectada, Vivian tinha um emprego. Com o aumento de casos no estado no início do ano, foi demitida. Ela iria entrar no processo final de TCC. Sem emprego não conseguia pagar a faculdade, o aluguel da casa e nem as contas de água, luz e internet. Com mensalidades atrasadas, ela podia assistir às aulas, mas teve o acesso bloqueado no laboratório da faculdade, onde usava computador e internet. 

O único acesso ao computador e à internet, não tinha mais. Hoje com uma renda de mil e cem reais, ela consegue sobreviver, ter o que comer, água e luz. Não pretende voltar a estudar agora. “Eu não tenho a menor condição de estudar com as condições que vivo hoje”, afirma ela. Vivian perdeu a motivação em estudar. Ela agradece por ter dinheiro suficiente para colocar comida na mesa, mas estudar não é mais uma opção para ela.

Saúde Mental

Calcula-se que, globalmente, mais de um em cada sete crianças e adolescentes com idade entre 10 e 19 anos viva com algum transtorno mental diagnosticado. Quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio a cada ano, uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária. Alertou no mês de outubro de 2021 o UNICEF no relatório focado em saúde mental. 

Um estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, aponta que 75% dos transtornos mentais da infância persistem na vida adulta. Pandemia, educação e tecnologia, são os termos que os brasileiros mais sentiram na pele. A tecnologia tem seus efeitos positivos, mas os negativos podem adoecer mentalmente uma população que não recebe investimentos públicos eficazes.

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Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras – TIC Educação 2020. | Foto: Reprodução / Arte: Juliana Neves.

Um levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)  mostra que 12,6 milhões de domicílios ainda não tinham internet. Os motivos apontados foram falta de interesse (32,9%), serviço de acesso caro (26,2%) e o fato de nenhum morador saber usar a internet (25,7%) até abril de 2021. Com a pandemia provocada pelo covid-19, a falta de preparo tecnológico dos professores e de instituições para as aulas remotas ganharam destaque. Deixando claro que os professores necessitam de um  domínio maior das tecnologias. 

É preciso entender as contribuições das TICs e assim definir um plano pedagógico baseado em tecnologia e educação. As tecnologias mudam de forma repentina. Por isso a importância do professor ter um processo de capacitação contínua. Muito se engana que a geração de hoje domina as tecnologias. Saber usar as redes sociais não quer dizer dominar a tecnologia. Durante as aulas remotas, foi possível verificar que a geração atual sabe mais de rede social do que tecnologia. Pela falta de acesso ou interesse mesmo, as crianças e adolescentes não têm domínio sobre o computador ou alguma ferramenta fora da rede social. Isso faz parte de um processo mal planejado. As tecnologias vão surgindo e nenhuma capacitação é colocada em prática.

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Por Juliana Neves – Fala Centro Universitário Fametro!

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