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Como a volta do Talibã ao poder afeta a imagem estadunidense

A rejeição dos estadunidenses quanto a presença do exército em terras afegãs vem desde muito antes de sua retirada desajeitada

Os Estados Unidos foram afetados diretamente pelo retorno do Talibã ao poder.
Os Estados Unidos foram afetados diretamente pelo retorno do Talibã ao poder. | Foto: Ehimetalor Akhere Unuabona/Unsplash.

Presas à esperança de uma mudança e caindo da aeronave enquanto ela já estava no ar. As cenas da retirada de militares dos EUA do território afegão causaram espanto e revolta em líderes e civis ao redor do mundo. Depois das imagens do dia 16 de agosto, a aprovação do governo Biden caiu 4%. Segundo pesquisas da FiveThirtyEight, esse é o menor nível desde o início do seu governo.

A imagem estadunidense após o retorno do Talibã no Afeganistão

Além da retirada das tropas norte-americanas, outro acontecimento que abalou a aprovação de Biden nos EUA foi o bombardeio feito por um drone em Cabul, no dia 29 de agosto. No início, o presidente estadunidense comemorou a ação, que teria neutralizado membros do Estado Islâmico do Khorasan (ou Isis-K), filiada do Estado Islâmico nas províncias afegãs. Estes integrantes estariam transportando bombas para um futuro ataque, como o que fizeram no aeroporto de Cabul no dia 26 do mesmo mês. O ataque a drone seria uma resposta a esse atentado.

Contudo, investigações independentes do New York Times mostraram que o ataque na realidade matou 10 civis, incluindo 7 crianças. Posteriormente, essas evidências foram admitidas pelas autoridades estadunidenses. As buscas também indicaram não haver nenhuma bomba do Isis-K no carro, que transportava galões de água para a família de Zemari Ahmadi, motorista do veículo. Biden pediu desculpas, mas não foi o suficiente.

No total, desde que assumiu o governo, a popularidade do governo de Joe Biden caiu 8 pontos percentuais. Hoje, o percentual de pessoas que rejeitam o governo é maior do que a de seus apoiadores, 48,8% e 45,3%, respectivamente. Ainda segundo pesquisas da FiveThirtyEight, sua aprovação é menor do que as de seus antecessores Barack Obama, George W. Bush e Bill Clinton nesse mesmo período.

Além da imagem interna, o presidente está sofrendo dificuldades na política internacional. Na 76ª Assembleia Geral da ONU, sua tentativa de sustentar uma narrativa vitoriosa quanto à participação militar estadunidense no Afeganistão foi extremamente mal vista pelos líderes presentes. Isso trouxe recordações dos discursos falaciosos de seu antecessor Donald Trump.

Entre os países que estão incomodados com os EUA está a França. O governo francês está furioso com a “facada nas costas” que tomou dos Estados Unidos. Essa traição teria sido o acordo entre estadunidenses e australianos para o fornecimento de mísseis nucleares e o compartilhamento da tecnologia de propulsão nuclear para estes. Esse negócio afetou uma negociação multibilionária entre França e Austrália que já estava em curso há anos.

Mas os problemas vão além da política. As tropas americanas também estão desmoralizadas. Após 20 anos de presença no Afeganistão, a falta de planejamento para a retirada fez com que os militares saíssem às pressas do país. A rejeição de afegãos, principalmente aqueles do interior do país, e estadunidenses, que já apoiavam a retirada do exército há anos, torna esse retorno ainda mais desmoralizante.

O governo afegão implementado com o suporte dos EUA após os atentados do 11 de Setembro de 2001, levou um avanço mínimo na democracia e nos direitos e liberdades das mulheres. Mas acabou levando também ao aumento da corrupção e em um governo que pouco se preocupou com maiores evoluções sociais.

A derrota dos Estados Unidos na guerra contra o Talibã afetou não só as morais do exército, da inteligência e do governo do país, mas também o Afeganistão e a vida daqueles que lá residem.

Os tempos de demonstrações públicas de violência do governo Talibã voltaram. Não só isso, mas o Isis-K, inimigo do Talibã, também vê na retirada estadunidense a oportunidade de se expandir. Ao que tudo indica, o Afeganistão será palco de mais terror e com cada vez menos holofote para essas barbáries.

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Por Pedro Cabral Marques – Fala! UFRJ

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