Pense sobre os livros que você já leu durante a vida. Mesmo que sejam poucos, tente lembrar quais foram. Agora, reflita: quantos deles são brasileiros? Você pode estar pensando “alguns”, “nenhum”, “vários” ou “eu nunca tinha pensado sobre isso”. Mas vamos filtrar mais um pouco: quantos deles foram escritos por mulheres brasileiras?
Em homenagem ao mês das mulheres, hoje vamos recomendar 5 livros escritos por autoras brasileiras.
Escritoras brasileiras: veja 5 livros escritos por elas
1. Úrsula, de Maria Firmina dos Reis
Úrsula é considerado o primeiro romance a ser escrito por uma autora negra e mulher no Brasil. Apesar da obra ser focada no triângulo amoroso entre três jovens brancos, estilo literário que era moda na época, o que há de inovador é o espaço de fala dado aos escravos Tulio, Susana e Antero. Pela primeira vez em nossa literatura, negros escravizados aparecem contando suas histórias de acordo com seu ponto de vista e em primeira pessoa, já que a maioria das obras desse período não incluía essas perspectivas.
Publicado em 1859, o livro é um marco na literatura brasileira, embora não seja muito conhecido. Com uma escrita muito original, principalmente para a época, a narrativa aborda críticas ao patriarcalismo e à escravidão, retratando os escravizados como os humanos que eram.
2. Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus
Em Quarto de Despejo, temos o diário da autora Carolina Maria de Jesus, mulher negra, mãe solo de três crianças e moradora da favela do Canindé, em São Paulo, durante os anos 50. Com apenas dois anos de escolaridade e trabalhando como catadora de papel, por cinco anos ela manteve registros de seu cotidiano em cadernos encontrados no lixo. Descoberta por um jornalista que se interessou por sua história, seu diário foi publicado em 1960 e já foi traduzido para mais de 13 idiomas.
A obra é um retrato sobre a vida real, muito distante da ficção, com um olhar original e único de quem presenciou a realidade de dentro da comunidade.
3. Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex
Holocausto Brasileiro é um livro-reportagem sobre o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, em Minas Gerais. Conhecido como “Colônia”, o local recebia, além de pessoas com doenças mentais, mendigos, homossexuais, crianças tímidas, militantes políticos, filhos rebeldes, mulheres estupradas por seus patrões, alcoólatras, usuários de drogas e qualquer outra pessoa que fosse considerada indesejada, com o objetivo de fazê-las sumir dos olhos da sociedade.
Uma vez lá dentro, essas pessoas nunca mais retornavam para suas casas. Além disso, eram tratadas de maneira desumana, vivendo em locais sujos, passando fome e sede, sendo torturadas e, mesmo com denúncias feitas a partir da década de 1960, mais de 60 mil pessoas foram mortas.
Lançado em 2013, o livro conta com fotos que ilustram a narrativa, além de depoimentos de pacientes, funcionários e especialistas que sobreviveram aos horrores. A obra também é reconhecida como Melhor Livro-Reportagem do Ano pela Associação Paulista de Críticos de Arte (2013) e segundo melhor Livro-Reportagem no prêmio Jabuti (2014).
4. As Três Marias, de Rachel de Queiroz
As Três Marias conta a trajetória de amigas que se conhecem em um internato para freiras e se tornam amigas. Ao longo da narrativa, acompanhamos a infância das meninas que sonham com a liberdade da vida além do colégio, bem como os dilemas e dúvidas típicos da juventude, até se tornarem adultas, tendo que amadurecer e lidar com desdobramentos inesperados trazidos pela nova fase. Mas mesmo com os diferentes rumos que suas vidas tomaram, assim como as estrelas que inspiraram o apelido, as três Marias permanecem sempre juntas: Maria José segue uma vida religiosa e trabalha como professora; Maria da Glória se dedica ao casamento e à vida familiar; e Maria Augusta decide buscar sua independência e construir seu próprio destino.
Publicada em 1939 e inspirada na vida da autora e de suas amigas, a obra é um retrato psicológico e social do papel que as mulheres exerciam durante a primeira metade do século 20.
5. Olhos d’água, de Conceição Evaristo
Publicado em 2014, Olhos d’água apresenta uma coletânea de 15 contos com foco no cotidiano de mulheres afro-brasileiras que sofrem com a desigualdade social, a violência urbana, a pobreza e outras duras condições que costumam ser silenciadas. Apesar das diferentes idades e enredos que possuem as personagens ao longo dos contos, todas estão inseridas em um contexto semelhante e possuem vínculos a partir de seus dilemas e vivências.
Com uma narrativa forte e comovente, a obra traz acontecimentos reais que são vivenciados constantemente por muitas mulheres negras, dando visibilidade a elas e sacudindo os leitores para a existência dessa realidade.
______________________________
Por Monyque Marinseck – Fala! Anhembi