Como o adiamento das Olimpíadas de 2020 para 2021 afetou o esporte e os atletas brasileiros?
Marcados para acontecer inicialmente em 24 de julho de 2020, os Jogos Olímpicos de Tóquio foram, pela primeira vez na história, adiados em decorrência da pandemia de Covid-19. A decisão, que passou por inúmeros vai e vens durante o processo de discussão, que levava em conta prós e contras da situação, foi tomada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Para além do imensurável impacto econômico (para se ter ideia, a previsão é de que haja uma baixa no Produto Interno Bruto (PIB) do país sede de 1,4%), um dos principais fatores decisivos na tomada de decisão foi a integridade dos atletas, comissões e grupos envolvidos na realização do megaevento.
Espinha dorsal do movimento olímpico, o desempenho dos atletas sofreu, desde o início da pandemia, diversas intervenções. As equipes e indivíduos de todas as modalidades preparam-se para um ciclo quase que natural dos jogos, que, desde seu surgimento, acontecem de 4 em 4 anos. Quando esse ciclo é quebrado por qualquer motivo extraordinário que seja, as consequências para os esportistas são imediatas – e algumas complicadas de serem revertidas.
Impacto do adiamento das Olimpíadas
Saúde Mental
O primeiro ponto a ser observado é a saúde mental dos atletas. Segundo uma pesquisa realizada pelo COI em maio de 2020, 50% dos entrevistados relataram dificuldades em manter a motivação e 32% mostraram problemas em manter a saúde mental. Diante de tantas incertezas e preocupações, os atletas encontram barreiras físicas e emocionais para treinar no mesmo ritmo, além da preocupação com a data incerta dos jogos e como o adiamento pode afetar o auge de suas carreiras. É preciso um olhar de humanização para com os atletas. Apesar de estarem acostumados a lidar com situações de extremo limite e adrenalina, eles não são máquinas. Nesse caso, o show não tem que continuar.
O físico dos atletas
Além disso, a preparação física é outro fator imprescindível a ser considerado. Afastados da rotina durante meses, a volta ao treinamento de todos os atletas apresenta diferentes complicações, é um processo extremamente individualizado. Seja com lesões antigas, histórico de cirurgias ou até mesmo ganho de massa de gordura durante a quarentena, os atletas voltaram a treinar de forma gradativa, começando com exercícios de adaptação e fortalecimento antes da retomada ao ritmo usual de carga e velocidade.
E agora?
Diante desse cenário inédito e complexo, opiniões se polarizam em relação à realização ou cancelamento dos Jogos Olímpicos. Levando em consideração a cultura cíclica do evento e a preparação de anos dos atletas, que correm o risco de perderem uma chance única em suas vidas ao disputarem os Jogos de Tóquio no auge de suas carreiras, acredito que deveria ser mantida a realização do evento, desde que fosse elaborado de forma mais especializada um comitê de segurança e saúde, que garantisse a logística do evento respeitando todos os protocolos de segurança recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Apesar da vacinação ter sido iniciada na maioria dos países do globo, atletas e comissões técnicas não estão inclusos nos grupos prioritários, o que inviabilizaria pensarmos em vacinar todos os participantes. O que é possível de ser feito é a alta e eficaz testagem em massa, distanciamento em hospedagens e, claro, proibição da presença do público.
Transmitida apenas pela televisão e serviços de streaming, a realização dos Jogos Olímpicos sem torcida causaria grande impacto nos atletas. Sem ela, a motivação e a concentração de quem está competindo é diretamente afetada. A cultura do esporte e a vivência dos atletas esperam e pressupõem a presença de um público que vibra, incentiva e vive o momento histórico lado a lado aos competidores. Essa possível desmotivação, somada à irregularidade no processo de preparação, inevitavelmente trará um menor nível técnico para a competição, mas não deixará de ser muito disputada.
Ainda assim, a somatória de todos esses fatores ainda parece menos nociva do que um possível cancelamento. Desistir de realizar essa edição dos Jogos, ainda que ineditamente em uma versão adiada – o que, para alguns, pode soar como comemorar o Natal em março – quebraria ciclos centenários e traria consequência em curto, médio e longo prazo – não somente para os atletas e comissões, como também para o Japão, que investiu expressivamente em infraestrutura e depende da realização do evento para uma perda financeira menor do que a prevista, caso os Jogos sejam cancelados.
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Por Luana Coggo – Fala! PUC