Veja, também, a lista completa dos indicados à categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar em 2021
Colecionador de nomes, interpretações, regras e polêmicas, a categoria de Melhor Filme Estrangeiro é – e sempre foi – uma estrela à parte na mais renomada premiação da Academia. Já respondeu a outros apelidos como o de Melhor Filme de Língua Estrangeira. Trafegou – guiado pela crítica – em busca de um formato ideal. Classificou e desclassificou longas pelas mais diversas vírgulas, línguas e pontos.
Por outras vezes, caminhou bêbado, em virtude de sua herança conservadora, excluindo prestigiadas películas, como o clássico moderno de Fernando Meirelles: Cidade de Deus. Por fim, mas longe de menos importante, é uma estrela à parte pois, mesmo segregada, brilha forte, estranha e bárbara essa supernova que ilumina, não a América, mas o resto do Mundo.
“Caso Minari“
O filme em questão é o estadunidense Minari: longa da A24, dirigido por Lee Isaac Chung, que retrata uma família de imigrantes sul coreanos, na década de 1980, que sai da Califórnia em direção ao Arkansas (estado no sul do país) atrás da promessa do famigerado “sonho americano”.
Esta película, em particular, caracteriza-se por apresentar mais de 50% de seus diálogos em coreano, o que a fez elegível para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro em algumas das mais conceituadas premiações do circuito mundial, como o Globo de Ouro (28/02) e o Critics’ Choice (07/03). No entanto, Minari não somente acabou concorrendo a essas principais premiações, como sagrou-se favorita e acabou vencendo-as, apoiada, quase que unanimemente, pela crítica especializada.
Mas a história no Oscar já é diferente. Em oposição às demais premiações, a Academia apenas julga como apto para a categoria de Melhor Filme Estrangeiro aqueles que, além de possuírem mais de 50% de seus diálogos em língua não-inglesa, forem produzidos fora dos Estados Unidos, o que invalidou a nomeação do longa da A24.
Dessa forma, o Oscar acabou por evitar aquilo que configuraria em um título curioso para matérias mundo afora: Filme norte-americano domina premiações de Melhor Filme Estrangeiro. Pelo menos no Oscar, o melhor estrangeiro ainda não é norte-americano.
Como funciona a seleção dos indicados ao Oscar?
Dos anos 2000 até o ano passado, a Academia reunia uma lista primária de 30 filmes, enviados e distribuídos por produtoras ao redor do globo, para a análise e votação do chamado “grupo 1” (composto, majoritariamente, por aposentados, logo, por um grupo mais conservador).
Posteriormente, havia a seleção dos 7 longas que apresentavam as melhores médias estabelecidas por esse grupo. Em subsequência, um comitê executivo “salvava” outros 3 filmes que fossem considerados interessantes (normalmente eram aqueles que fugiam do circuito europeu) e os adicionavam à pré-lista.
Por fim, o denominado “grupo dois” (formado por qualquer membro da Academia) escolhia, dessas dez, as 5 melhores películas, chegando à lista final. No entanto, neste ano, por conta da pandemia, a Academia selecionou, 15 em vez de dez, filmes para a pré-lista – excluindo a participação do comitê executivo – evitando a possibilidade de um vazamento de informações consideradas “secretas”, que poderiam ser compartilhadas através de reuniões on-line do grupo, uma vez que ninguém se reuniria presencialmente por conta da pandemia.
Essa seleção provisória, ao omitir o poder e influência do comitê executivo – responsável por recuperar longas alternativos – acabou, por um lado, favorecendo os filmes de maior visibilidade (principalmente europeus), e por outro, prejudicando mercados de menor expressão e verba, como o do Brasil.
Pré-lista do Oscar 2021
Foi a partir dessa seleção atípica e pandêmica que se estabeleceu os 15 indicados apresentados a seguir:
- Another Round – Dinamarca
- A Sun – Taiwan
- Better Days – Hong Kong
- Collective – Romênia
- Dear Comrades! – Rússia
- Hope – Noruega
- I’m No Longer Here – México
- La Llorona – Guatemala
- Night of the Kings – Costa do Marfim
- O Charlatão – República Tcheca
- Quo Vadis, Aida? – Bósnia e Herzegovina
- Sun Children – Irã
- The Man Who Sold His Skin – Tunísia
- Two of Us – França
Para ficar de olho
Uma vez que não teremos o longa norte-americano, favorito das demais premiações, Minari, resta-nos destacar os principais nomes para a conquista da estatueta.
Como o dinamarquês Another Round, protagonizado pela estrela de Death Stranding (game idealizado pelo lendário diretor japonês Hideo Kojima), Mads Mikkelsen; o cativante e provocativo documentário romeno, Collective; La Llorona, longa que conta a história da condenação do ditador guatemalteco, Enrique Monteverde, responsável por um genocídio indígena em massa; o costa-marfinense, e único representante do continente africano, Night of the Kings, que acompanha um jovem que vai preso e posto para contar suas histórias aos companheiros de cela; e Quo Vadis, Aida?, história que acompanha o percurso da tradutora da ONU que busca auxiliar uma equipe de manutenção da paz em uma pequena cidade na Bósnia.
Os esquecidos pela Academia
Recolhi, também, alguns nomes que ficaram de fora da pré-lista, mas que valem a pena uma visita:
- Alemanha: And Tomorrow the Entire World
- Espanha: A Trincheira Infinita
- Geórgia: Beginning
- Grécia: Apples
- Lesoto: This Is Not a Burial, It’s a Resurrection
- Polônia: Never Snow Again
Vale, ainda, destacar o curioso caso de “infantilidade” por parte de Portugal, que indicou, erroneamente, o longa Listen, que não era elegível para a categoria pois apresentava mais de 50% de seus diálogos em inglês. Deixando de fora um belíssimo concorrente, Vitalina Varela.
Quanto aos brasileiros? Onde estão?
Neste ano de 2021, o Brasil falhou novamente ao tentar concorrer ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro. Fora dos indicados a essa categoria há mais de 21 anos (quando, em 1998, levou O que é Isso Companheiro? para a noite do Oscar), dessa vez foi a tentativa do documentário Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Parou, de Bárbara Paz, tentar a sorte.
Digo e afirmo “tentar a sorte” pois as condições as quais o cinema brasileiro se encontra não permitem uma decente e tranquila divulgação do produto nacional para os grandes festivais, e mais especificamente, para a Academia.
A simbologia máxima desta problemática foi a necessidade da realização de uma “vaquinha on-line” para a arrecadação de fundos que possibilitassem a distribuição do longa documentário nos Estados Unidos.
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Por Pedro Fagundes de Mendonça – Fala! Cásper