Nos últimos anos, como descendente de japoneses, procurei ler e entender mais sobre a imigração japonesa, procurar ir além do que me foi oferecido de conhecimento em sala de aula quando aprendemos sobre o Brasil, seus presidentes, revoltas e governos.
Essa minha procura foi muito por questão de me identificar e conhecer uma cultura que não tive tanto contato como gostaria, tanto que nunca fui a ideia de japonicidade que propagam. Cresci com uma influência forte da cultura da minha mãe, que no caso é uma paraibana, que com muito orgulho conquistou seu lugar em uma metrópole sem apoio dos seus pais quando nova.
Independente da minha ascendência, meus pais sempre me criaram para o mundo e não para o que as pessoas esperam que eu fosse por traços meus ou qualquer motivo que poderiam apagar minha real identidade, mesmo tendo exigências que todos os pais colocam para seus filhos quando presentes e participativos do processo de desenvolvimento.
Por conta deles, vivi em uma casa biracial, minha mãe sendo nordestina branca e meu pai sendo um paulistano descendente de japonês, sempre foi uma dinâmica diferente e cheia de aprendizados por questões culturais. Enquanto minha mãe gostava de comida mais apimentada, meu pai sempre foi adepto a todas as comidas e, principalmente, ao clássico gohan (arroz japonês).
A imigração japonesa e a influência na cultura brasileira
Na minha infância, sempre convivi muito com a minha família nordestina, uma ou duas vezes por ano viajava para o nordeste e sentia esse gosto da diferença cultural, comia carne de sol e arroz de leite, que inclusive muito me lembrava o gohan. Do jerimum, que para mim é cabotian, algo que fez a minha avó rir quando falei na mesa, ou até as pessoas acharem que, por conta do meu fenótipo, eu saber falar algum idioma como japonês ou mandarim.
Conto essa minha vivência por conta de me lembrar de uma websérie chamada NipoBrasileiros, que me fez pensar muito sobre cultura e a importância de saber sobre a minha ancestralidade, é um webdocumentário que fala sobre a mistura da cultura japonesa com a brasileira, mostra como há uma questão da identidade e representatividade que pouco é desenvolvida.
Sempre que entro nesta pauta da identidade de ser descendente de japonês no Brasil, falo e mostro esse webdocumentário para pensar sobre as questões históricas, indenitárias e de representatividade. Mesmo não sendo referência, gosto de pensar em trazer essas reflexões para conversar sobre a ideia da mistura do gohan com feijão, que mostra exatamente essa mistura da nossa brasilidade com a cultura japonesa.
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Por Lara Kimie Kinsui – Fala! Mack