Ela estava nervosa. Seu pé direito não parava de mexer, seus olhos estavam bem arregalados e ela estava com a mão na boca, mordendo o canto das unhas. Quem passava perto dela sentia um pouco de pena, mas não o suficiente para chegar a fazer algo a respeito. Sua respiração era meio ofegante e, a cada tantos minutos, ela olhava para os lados, como se estivesse esperando por alguém.
Coitada da menina, pensava a moça do caixa que tinha visto ela chegar e pedir um café preto e sem adoçar ele, ela tinha sentado em uma das mesas da loja. Ela tinha trabalhado a manhã inteira e estava cansada pela falta de sono, mas, quando a menina chegou, algo a deixou em alerta. Talvez fosse a respiração profunda da cliente ou a maneira como ela fazia tudo depressa, como se quisesse acabar logo com aquilo. Desde então, a moça observou a menina que dificilmente conseguia dar um gole em seu café.
Após incontáveis minutos, um menino alto de cabelo cacheado chegou no local. Ele viu a menina e sorriu. Ela o viu e parecia como se o seu coração estivesse saindo pela boca. Ele se sentou com ela. Ela sorriu. Ele pegou a mão dela. Ele sorriu. Nada parecia fora no normal.
O menino e a menina conversaram por um tempo. A moça que estivera observando a interação já estava mais tranquila. Era somente um casal jovem ansioso por se encontrar. Tudo é muito instantâneo hoje em dia, pensou a moça que se lembrava das histórias de sua avó, que lhe contava que somente via seu namorado uma vez por mês e ainda era muito feliz.
Mas a situação não era normal. A menina recuava a cada fala do menino e parecia se sentir pequena e impotente. As pessoas fora da relação não enxergavam como a menina se sentia presa. E, por isso, naquele momento, naquele café, ela decidiu terminar o seu namoro.
Ela soltou as palavras abruptamente, como se tivesse o risco de elas voltarem para sua boca. O menino parou de falar, mas isso durou pouco. Sua voz estava cada vez mais alta e sua mão na mão da menina passou para seu punho, apertando com força enquanto ele falava todo tipo de palavreado degradante. A menina nem o escutava mais. Lágrimas caíam e o medo subia pelo seu corpo. Talvez não fosse a melhor escolha.
– Se você não a soltar, eu ligo para a polícia.
A moça que não tinha parado de prestar atenção, tinha percebido a horrível situação. Por um segundo, ela pensou em não fazer nada porque é o que sempre tinham lhe ensinado a fazer. Em briga de marido e mulher, não se mete a colher, ela lembrava de sua mãe dizendo. Mas isso era errado. Ela percebeu que era tão errado ao ver o olhar de medo na menina. E o olhar ameaçador do menino. Não era certo. Mulheres precisam se apoiar.
A menina olhou para a moça e seu olhar só exalava gratidão. O menino, ao ver que a acusação era séria, soltou o punho da menina, lançou um olhar ameaçador e foi embora. A menina respirou aliviada e lágrimas caíam de seus olhos, liberando toda a adrenalina de seu encontro. Ela estava livre.
A moça voltou para o caixa, satisfeita com suas ações e consigo mesma, por ter seguido sua intuição do que ter escutado sua mãe. A menina foi ao caixa e pediu um chá, agradeceu a moça após tê-lo adoçado com 3 pacotinhos de açúcar, ela se olhou no espelho que a loja tinha em uma de suas paredes. Foi nesse momento que a menina descobriu o que é o amor próprio.
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Por Marina Mendes de Moraes Benitez