Negócios alternativos recorrem a lojas on-line e fidelidade da clientela para resistir à crise
Rubenita Ferreira, proprietária da Livraria Rara Books na cidade de Poá, em São Paulo, relata: “A queda do nosso faturamento foi de 60%, é muito difícil trabalhar com as portas fechadas, sempre tivemos muito movimento dentro da loja”.
A crise de saúde derrubou a venda de livros no Brasil. De acordo com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), a queda foi de 40% na segunda quinzena de março, quando o comércio precisou fechar. Após grandes nomes do mercado literário, como a Livraria Cultura e a Saraiva, recorrem em novembro de 2018, a um pedido de recuperação judicial, inúmeras lojas precisaram fechar. As pequenas livrarias voltaram, então, ao gosto do público, mas a pandemia as coloca em situação de risco.
Como não possuem experiência com vendas on-line, os livreiros procuram meios de se reinventar na inusitada situação de ter que trabalhar com as portas fechadas. Lucio Zaccara, dono da livraria Zaccara, fundada há 38 anos no bairro das Perdizes, em São Paulo, afirma:
Fizemos um sistema de drive-thru quando tudo isso começou, as pessoas compram pela Internet, passam com o carro e entregamos, sem contato. Foi necessário contratar um motoboy para realizar algumas entregas, coisa que nunca fizemos antes.
Livrarias em meio à pandemia
Para compensar as quedas do faturamento na loja física, a demanda das lojas virtuais aumentou consideravelmente. De acordo com a ANL (Associação Nacional das Livrarias), a pandemia impulsionou as vendas on-line, chegando ao pico de 40% a 45% do faturamento.
“A vida on-line da loja tem sido o ponto central das vendas e está bem mais ativa, o uso dela é uma ferramenta prioritária para nossa existência durante essa pandemia”, conta a equipe da Livraria Africanidades, localizada na Vila Pita – São Paulo.
Rubenita experimenta a mesma situação e relata que o site da livraria antes do coronavírus era apenas institucional e, com a crise, foi necessário migrar para o e-commerce.
Ademais, para sobreviver à pandemia, foram necessárias estratégias para impulsionar as vendas. “Desde o início, para engajar [as vendas], estamos entregando com frete grátis para a região de Poá e Alto Tietê. Para o Dia das Mães fizemos parceria com uma floricultura e isso ajudou muito na venda dos livros”, diz Rubenita.
Ricardo Lombardi, dono do sebo Desculpa a Poeira – também em São Paulo – surgiu com a ideia de datilografar bilhetes em uma máquina de escrever, caso o cliente compre o livro para presente, incentivando a compra.
Gigantes do mercado livreiro como a Martins Fontes também surgiram com uma tática para dar visibilidade aos pequenos negócios – por meio de suas redes sociais, divulgam as pequenas livrarias no estado de São Paulo com a frase: “não somos concorrentes, estamos todos juntos nessa luta!”. A ideia é ajudar os estabelecimentos, que passam por dificuldades devido à redução de receita da pandemia por Covid-19.
Apesar da dificuldade financeira, uma das situações mais realçadas pelos livreiros é a falta de contato humano que o isolamento social exige. “Ver a livraria fechada não é fácil, mas acreditamos na leitura, muita gente está lendo em casa, o que nos deixa esperançosos e felizes”, conta Rubenita.
Lucio também relata a saudade da clientela em sua livraria: “Gostamos do movimento dentro da loja, o sistema de entrega deixa as coisas impessoais. Mas, devido a tudo que está acontecendo, precisamos nos adaptar. Sentimos a falta do humano, do contato”.
Ainda que a pandemia não vá embora de imediato, as livrarias continuam cumprindo seu papel e levando literatura até as pessoas, se reinventando para não sucumbir à enorme crise econômica e de saúde que o país enfrenta nesse momento. Lucio Zaccara ainda completa: “Livraria não sobrevive, livraria vive. Somos reais, existimos e resistimos”.
________________________
Por Marina Ponchio – Fala! Cásper