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‘Homens livres na ordem escravocrata’: Resenha de ‘O Código de Sertão’

Indo direto ao seu questionamento, eu acredito que sim. Como eu disse há algumas aulas, sou de São João de Meriti, na Baixada Fluminense. E desde muito pequeno, eu fico muito confuso com a dubiedade do comportamento mais “social e amplo” dos moradores da Baixada.

Sinto isso porque, ao mesmo tempo em que uma pessoa se mostra extremamente dócil para você, uma esquina à frente ela já guarda um ódio mortal por outra pessoa, por causa de alguma disputa aleatória. Estou falando da Baixada não no sentido de estereotipar o comportamento das pessoas daqui, mas sim, porque é o lugar em que vivo e tenho propriedade para falar.

Inclusive, eu gostei da desmistificação de uma homogeneidade. Porque, assim, há muito o que se debater sobre homogeneidade étnica e isso é indiscutível, mas vejo pouco a ser falado sobre como tratam áreas periféricas como únicas e uníssonas.

Livro Homens livres na ordem escravocrata. | Foto: Reprodução.

A Baixada Fluminense tem 13 municípios (uma área gigante para caramba) e as pessoas lidam como se fosse apenas uma única coisa. Dão mais atenção às individualidades do Leblon do que para 13 municípios. Enfim, essa parte me agradou por mostrar que essa minha visão não está sozinha.

A questão da violência

Voltando à violência: acredito que a violência é inata ao ser humano. É difícil viver socialmente e lidar tão proximamente com tanta gente. E, pelo acúmulo de estresses do cotidiano, situações, como brigas com vizinhos, vão se tornando insustentáveis. E o exemplo das festas é ótimo. Não raro, em festas de conhecidos, há aquelas brigas tremendas, exatamente porque algum bêbado falou algo ou fez algo que gerou um repúdio enorme em outra pessoa.

A masculinidade violenta é evidente em todos os cantos, onde qualquer cara tem que se provar o mais viril e másculo, não obstante, tendo que provar sua força por alguma coisa. Daí vem a ideia de “ter moral”. Que quer dizer, pelo menos aqui, exatamente isto: quanto de medo/respeito você consegue impor em alguém?

E achei interessante a ideia de classe social ser introduzida neste debate pela autora, porque, também por vivência, fica muito nítido para mim notar e escutar pessoas tentando “não parecer pobres”. E não raro alguém busca ofender o outro por “ter jeito de pobre”. É uma luta constante por, além de se fixar como alguém de prestígio dentro do seu lugar, tentar não pertencer a ele tanto assim, para que seja bem visto pelos abastados.

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Por Gustavo Magalhães – Fala! PUC – RIO

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