Jovens que deixaram seus estados para estudar contam que, apesar dos desafios, a quarentena veio para matar a saudade de casa
O que pode estar sendo um teste de fogo para famílias que estão sendo obrigadas a conviver durante a quarentena se tornou uma maneira para alunos que moram longe de casa se reconectarem com os familiares e matarem a saudade de suas casas e estados.
Não há dados concretos sobre quantos alunos moram em outro estado por conta do estudo, mas a quantidade de membros no grupo do Facebook “Repúblicas do Rio de Janeiro” dá uma ideia da multidão de migrantes que se despediram de suas famílias para estudar: são 51 mil participantes. Dessa quantidade, inúmeros se viram voltando para casa para o período mais longo desde o começo das aulas e eles relatam que, apesar de terem que se acostumar de novo com a vida familiar, esse momento está sendo uma feliz oportunidade de viver mais uma vez a vida em família.
Quarentena: A vida de jovens que estudam fora e voltaram para casa
A faculdade pode ser um sonho para muitos, mas, para esses alunos, esse sonho pode vir acompanhado de muita saudade e solidão: “Eu nunca tinha ficado longe da minha mãe, então tinham momentos em que eu chegava na minha casa, no Rio, e sentia um vazio, porque a minha mãe não estava lá”, contou o jovem Luan, aluno da UFRJ que se mudou de Macapá, em 2019, para iniciar o curso de Jornalismo.
Hoje, em quarentena, ele explica que pôde matar a saudade de casa, apesar da convivência ter ficado um pouco mais difícil por conta do stress normal do isolamento. “Acaba tendo mais briga por a gente estar mais estressado que o normal, mas está tudo relativamente normal, como costumava ser”.
Assim como Luan, Estela se despediu da sua família e se mudou para o Rio com 18 anos para estudar na capital do estado. Ela conta que sua vida se transformou totalmente, com todas as suas atividades, agora no Rio, e que “vir para casa virou quase sinônimo de ficar de férias”. Na quarentena, porém, a dinâmica mudou bastante para Estela e sua família: os pais trabalham de casa e, na falta de aulas, ela ajuda seus três irmãos mais novos com os trabalhos de casa.
Apesar dos desafios e dos novos deveres, Estela conta que o isolamento em casa vem trazendo boas mudanças para a família: “Acho que estamos nos relacionando melhor. Definitivamente estamos interagindo e encontrando formas de nos divertir juntos”.
Os familiares também estão sentindo a felicidade de terem seus filhos de volta em casa. A mãe da Estela, Andreia, acha “uma delícia poder gritar o nome dela e ela estar aqui por perto” e também aproveita a calma de saber que sua filha está segura em sua casa no interior de Minas Gerais: “O Rio de Janeiro, em termos de segurança, é muito diferente daqui. Então, a gente fica muito mais tranquilo agora, porque sabe que ela não está correndo os riscos que ela correria lá”.
“Noitadas de cinema”, divisão de tarefas e os famosos docinhos da Estela mantêm o “clima de férias”, mencionado tanto pela filha como pela mãe. Mas Andreia não tem dúvidas que, caso a quarentena se prolongue por mais tempo, novos ajustes terão que ser feitos. Mas, apesar de como o futuro pode ser com relação à pandemia, o trabalho e os estudos, as famílias de Luan, Estela e muitos outros alunos que voltaram para casa provam que nada se compara com a segurança e a felicidade de se estar em casa.
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Por Camila Sant’Anna – Fala! UFRJ