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Rios, a paisagem subterrânea da cidade

São Paulo é o centro econômico do País, mas seu crescimento ocultou riquezas naturais 

Os rios da cidade de São Paulo, geralmente, estão fora do imaginário da maioria dos paulistanos. As pessoas só se recordam deles nos períodos de intensas chuvas, com a grande quantidade de enchentes expostas nos noticiários.

O que a maioria não sabe é que rios como Tamanduateí, Pinheiros e Tietê, durante muitos anos, proporcionaram o crescimento econômico e social de São Paulo de Piratininga, muito antes de ela se tornar a maior metrópole do Brasil.

rio tietê
O Rio Tietê está poluído em 122 km de extensão. | Foto: José Cordeiro.

A empresária Gabriela Lima, de 44 anos, moradora do Ipiranga, região do rio Tamanduateí e Ribeirão dos Meninos, lembra-se de sua infância com nostalgia. Ela costumava passear nos entornos dos rios com seu pai, e contou que ali existia uma água mais limpa e repleta de vida. “Tinham muitas árvores e a água era mais clara, não era preta como é hoje”.

Ao perguntar sua opinião sobre o conhecimento das pessoas em relação à importância daqueles rios para a cidade, Gabriela relatou que há um esquecimento coletivo sobre as antigas condições dos rios, mas que, em contrapartida, busca contar para seus filhos a história de como eles eram na sua infância, para que os meninos saibam o quanto a paisagem foi modificada por meio da intervenção humana.

Dentro do desenvolvimento metropolitano, os rios foram muito mal aproveitados. Principalmente fazendo um comparativo com outras cidades ao redor do mundo, como Paris, Londres e Berlim, que cresceram às margens dos seus rios, contudo, além de fazerem deles parte importante da paisagem, estes municípios também os utilizam para a mobilidade urbana.

Em São Paulo, os rios foram retificados e transformados em canais entre grandes trechos viários. Segundo Francisco Spadoni, arquiteto e professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), a consequência dessas obras foi a perda do potencial dos rios e, posteriormente, a cidade passou a viver em função do automóvel.

Outro fator ainda mais preocupante é o descarte de esgoto não tratado nos canais. De acordo com o arquiteto, o adequado seria a água ser conduzida para redes de saneamento, e centrais de tratamento.

A utilização ainda maciça dos rios nas cidades brasileiras para descarte do esgoto urbano sem tratamento, além de se configurar como um crime ambiental, denota preguiça e incapacidade dos governantes em pensar a cidade como um bem futuro.

Afirma Spadoni

Spadoni reforça ainda que, hoje, os rios de São Paulo são praticamente inexistentes, pois estão canalizados ou enterrados. A melhor forma de reverter essa situação é desenterrando-os e compondo-os dentro da paisagem urbana, como algumas cidades ao redor do mundo estão fazendo.

No ano de 1992, a companhia de Saneamento Básico da Cidade de São Paulo (Sabesp) iniciou o Projeto Tietê, para a despoluição do rio. Passados 28 anos, os resultados ainda são insatisfatórios, pois na extensão metropolitana o nível de oxigenação da água é de 0%, e para voltar a haver vida é preciso terno mínimo 5%, segundo dados da ONG SOS Mata Atlântica.

Em entrevista para a BBC Brasil, José Carlos Mierzwa, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Escola Politécnica da USP, afirma que a poluição é algo simples de resolver, basta a cidade parar de despejar seus esgotos nos rios, que eles se purificarão naturalmente. Este é o desafio que o projeto ainda tem dificuldades de colocar em prática dentro da grande metrópole que é São Paulo. 

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Por Bianca Rafaela da Silva – Fala! Anhembi

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