Que atire a primeira pedra quem nunca sentiu vontade de comprar algum produto mesmo sabendo que aquilo não teria utilidade no momento. E atire duas pedras quem nunca foi vencido por esse impulso. As explicações para esses impulsos são variadas, mas é inegável o efeito que a quantidade de produtos disponíveis exercem sobre as pessoas. E tudo isso está diretamente ligado com a forma de sociedade em que se vive.
Alguns sociólogos e geógrafos definem o momento atual como sociedade de consumo, ou seja, uma sociedade em que a oferta é maior que a demanda e por isso se faz necessário pensar em estratégias para se chegar em um equilíbrio.
Dessa forma, surgem as famosas propagandas que fazem as pessoas terem a sensação de que precisam daquele produto de qualquer jeito. Os pensadores também atribuem que esse estágio só é possível em uma etapa avançada do capitalismo em que é muito fácil se produzir.
Obviamente que uma sociedade em que a produção é em massa e em série os efeitos nas pessoas são os mais diversos. A produção de lixo e o consumo de recursos finitos da natureza são alguns deles. Mas tem uma consequência para o ser humano que é pouco falada: a questão da criatividade.
Como dito antes, a produção nessa etapa do capitalismo é em massa, o que quer dizer que as coisas tendem a ter um padrão. As pessoas são influenciadas pelas propagandas a terem um gosto muito similar para roupas, músicas, comidas e assim por diante. Os produtos são muito parecidos de uma maneira geral.
Além disso, dentro dessa lógica o consumo também é uma forma de integração social. Ter certos objetos para sustentar seu status social ou até mesmo socializar com as pessoas é algo que se pode ver com frequência no dia a dia.
Portanto, até agora, o cenário é de pessoas que consomem coisas parecidas, sem muita variação e, muitas vezes, sem prestar atenção no motivo. Então, afinal, onde existe espaço para que a criatividade seja exercida? Ele é bem limitado, para se dizer o mínimo.
O processo criativo que, teoricamente, era pra ser algo muito individual e muito relacionado às experiências pessoais torna-se muito achatado. Se todo mundo é estimulado e consome coisas muito parecidas, elas também tendem a produzir similaridades. Há pouco espaço de flexibilização. E quando se pensa em novos estilos de música, roupa, filme, literatura, as inseguranças de não agradar ao público são brutais.
O mais irônico de tudo isso é que hoje a criatividade tem que estar dentro dos moldes da sociedade, enquanto que foi exatamente a liberdade de criatividade que ajudou na construção da sociedade e tecnologias atuais.
O conjunto todo, de fato, não parece ser muito promissor. Não é exatamente uma tarefa fácil fugir das amarras que o capitalismo impõe. Mas, por outro lado, é importante pontuar que o movimento de novas formas de construir o processo criativo tem surgido.
O gosto por outras formas de expressar as roupas, as músicas, a literatura tem despontado, principalmente entre os jovens. O movimento de retomar a plena capacidade da criatividade tem tomado força. E ele tende a crescer muito mais conforme for mais difundido.
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Por Natália Hauk Poliche – Fala! UFSC