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‘365 Dni’ e a romantização do estupro no filme polonês

365 Dni, filme considerado o novo Cinquenta Tons de Cinza, que entrou para o top 10 da Netflix, foi detonado pela crítica e dividiu opiniões entre o público. A história tem rendido discussões e uma das mais polêmicas é de como o longa contribui para a romantização do estupro.

romantização do estupro em 365 DNI
Cena do filme 365 Dni. | Foto: Reprodução.

A trama baseada no livro de Blanka Lipinska conta a história de Massimo, líder da máfia italiana que, após observar Laura por um binóculo e ter uma “visão” com ela em uma experiência de quase-morte, se empenha em encontrá-la e, após fazer isso, sequestra a moça, a mantém em cativeiro e lhe dá 365 dias para se apaixonar por ele, caso não aconteça, será solta e poderá voltar para sua vida “normal”.

Esse é apenas o começo da história que já deixa perceptível a problemática contida na trama, desde o início é tentado passar que o sequestro é um grande ato de amor, que Massimo é apaixonado por Laura e isso justifica suas atitudes, quando, na verdade, seu comportamento deveria ser encarado como, no mínimo, parte de uma obsessão preocupante.

No decorrer do filme acontecem outras situações e, ao todo, Laura sofre pelo menos quatro tipos de violência das abrangidas pela Lei Maria da Penha: física, psicológica, sexual e patrimonial. Para exemplificar, em alguns momentos do filme, Massimo pega a mocinha pelo pescoço, a ameaça, retém seu computador e celular, além de, mesmo após ter deixado claro que só encostaria nela com consentimento, na cena do avião, passa a mão em partes íntimas do seu corpo sem a devida permissão. 

Porém, mesmo depois de todos os indícios, ainda existem pessoas que defendem das mais diversas formas, desde comentários dizendo que tudo foi consentido, até quem argumenta que pelo filme ser apenas uma fantasia, não deveriam estar problematizando, pois de jeito nenhum alguém levará para a vida. É importante frisar que ambos pensamentos não condizem com a realidade.

cenas de sexo em 365 Dni
Laura e Massimo, em 365 Dni. | Foto: Reprodução.

Abusos em 365 DNI e repercussões na Internet

É indiscutível que Massimo é abusivo com Laura, existem diversas evidências disso no decorrer da história, e dizer que não se deve problematizar por se tratar apenas de uma fantasia ignora os diversos comentários que os espectadores vêm compartilhando sobre.

Não é incomum encontrar mulheres falando que gostariam de viver a mesma experiência que a mocinha, “Queria estar no lugar dela”, ou “Se eu encontrasse um mafioso assim…”, são algumas das avaliações que estão infestando a Internet, e isso só mostra o quão prejudicial é essa romantização que o filme faz com a relação dos protagonistas.

O longa traz toda uma atmosfera de romance e sensualidade para o relacionamento do casal, e vende a ideia de amor quando os dois nem sequer tiveram uma conversa menos rasa.

O ser humano já tem uma imagem conturbada de relações afetivas. Insistência desenfreada, perdão a todo custo, excesso de cuidado e toques indesejados, infelizmente, ainda são vistos como ações provenientes do amor, paixão e até mesmo aceitáveis no jogo da sedução. As pessoas assistem ao romance e desenvolvem o desejo de viver algo parecido, acaba que, inconscientemente, quando se pegam em situações semelhantes, tendem a considerá-las normais.

Todos os dias, mulheres sofrem com todo tipo de abuso físico e psicológico, a todo o momento temos que confrontar ideias enraizadas em nossa sociedade que ainda reforçam práticas abusivas e, ao romantizar situações que deveriam ser vistas como doentis, o filme 365 Days deve ser visto como mais um aspecto de nossa cultura que tem que ser discutido, para não mais ser normalizado.

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Por Bianca Sousa – Fala! Faculdade Paulista de Comunicação

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