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Um novo tipo de amor: A noção do amor em tempos líquidos

Uma análise diante da liberdade utópica virtual e com os questionamentos de Bauman e Foucault

A globalização é o processo de expansão econômico, político e cultural, que se intensificou com a Revolução Técnico-Científico-Informacional, também conhecida como Terceira Revolução Industrial. Em consequência, a sociedade passou a depender gradativamente das máquinas e internet, principalmente devido à facilidade de comunicação e informação.

Essas tecnologias influenciaram na forma em que as pessoas se relacionam e se comunicam. E, que como esperado, nas relações amorosas, que se tornaram líquidas e que hoje são consideradas como um novo tipo de amor.

Com a modernidade, o amor se torna líquido, assim como outras relações.
Com a modernidade, o amor se torna líquido, assim como outras relações. | Foto: Reprodução.

Análise sobre a nova noção de amor segundo Bauman e Foucault

Pensadores acreditam que as relações sociais passaram a ser mais superficiais, devido à impaciência que a sociedade passou a ter. Além disso, pela intensificação das mudanças do século XX, principalmente a instabilidade econômica mundial e o surgimento das novas tecnologias, constrói-se uma cultura focada no consumo, ambiciosa pelo dinheiro e o trabalho, consequentemente menos tempo para construir uma relação duradoura.

A principal obra de Zygmunt Bauman, Modernidade Líquida, questiona essas transformações sociais que foram trazidas pelo capitalismo globalizado.

“Fluidez” é a qualidade de líquidos e gases. (…) Os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade. (…) Os fluidos se movem facilmente. Eles “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”, “transbordam”, “vazam”, “inundam” (…) Essas são razões para considerar “fluidez” ou “liquidez” como metáforas adequadas quando queremos captar a natureza da presente fase (…) na história da modernidade.

A Modernidade Líquida substitui no indivíduo a noção de coletividade e solidariedade, passando para o individualismo. As relações são fluídas, momentâneas e volúveis. Ao mesmo tempo em que as pessoas se sentem sozinhas por não terem um relacionamento, não estão dispostas a construir essa relação.

Segundo os dados da CNN Brasil, o aplicativo de relacionamento Happn, mostrou que mais de 60% dos brasileiros alegam que a solidão os motivou a buscarem por um romance. Desses, 56% disseram estar conversando por mais tempo e 63% pensam que a quarentena aumentou o vínculo com os matches.

As redes sociais possuem grande impacto na construção das relações amorosas. Na internet, a vida das pessoas ficam expostas a todo momento, dando abertura para qualquer comentário, opinião e preconceito. Não significa que o comportamento esteja eticamente correto, porém construiu-se a cultura do cancelamento pela sociedade, criando uma “liberdade utópica”, da qual se vêm o direito de fazer o que quiserem por trás de um dispositivo.

Diante disso, desenvolve-se padrões para a construção de relacionamentos, principalmente na heteronormatividade. Entende-se que se um usuário não posta tantas fotos com o/a parceiro/a é sinônimo de que não ama tanto ou então está escondendo algo e não querem assumir o relacionamento. Muitas vezes, gerando ansiedade e uma dependência emocional pela espera de uma mensagem ou de um like. O filósofo Michel Foucault considera o amor uma “questão de solidão”, uma experiência de solicitações de um para o outro.

Para ele, amor é um sentimento egoísta, pois podemos “perfeitamente amar sem que o outro ame”. Essa questão da troca, é a fraqueza do filósofo, pois “pede sempre algo ao outro”, enquanto que, no estado de paixão entre duas ou três pessoas, há algo que permite comunicar intensamente.

Vivo há dezoito anos em um estado de paixão por alguém. Talvez em um dado momento dado essa paixão tenha tomado a forma de amor. Na verdade, trata-se de um estado de paixão entre nós dois, de um estado permanente que não tem outras finalidades que não ele mesmo e pelo qual sou investido completamente, que me atravessa. Creio que não há só uma coisa no mundo, nada, o que quer que seja, que me pararia quando se trata de ir reencontrá-lo, falar com ele.

Ao mesmo tempo em que a tecnologia facilitou a comunicação e os laços sociais, ela acabou se restringindo apenas ao virtual, abrindo-se a porta para opiniões, muitas vezes não construtivas e anônimas. Diante disso, é preciso criar sua própria noção e limites de relacionamento, junto com pessoas que estão na mesma disposição e intensidade que nós, a tecnologia é benéfica para inúmeras possibilidades, mas nunca para suprir sentimentos.

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Por Julia Takahashi – Fala! PUC-SP

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