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Reggaeton: da clandestinidade ao topo das paradas de sucesso

Com história parecida com a do funk no Brasil, os artistas de reggaeton enfrentaram muitos estigmas até conseguirem alavancar o ritmo

Quem nunca ouviu Despacito, um dos maiores hits da década passada, talvez não entenderá o viés desta matéria. O ritmo que embala esta canção, reproduzida por simples 7,1 bilhão de vezes no YouTube, é o reggaeton, que vem dominando as rádios e playlists das pessoas ao redor do mundo e que vem conquistando posições e feitos antes inimagináveis.

reggaeton
Hoje, o reggaeton constantemente está no topo das paradas de sucesso. | Foto: Reprodução.

Sensação dos últimos anos, o reggaeton (junção de reggae + maratón, que vem de maratona de rap) vive seus momentos de glória depois de anos de rejeição, tanto pelo boicote das rádios, como pelo público em geral. Um dos motivos pelos quais o ritmo latino ficou à deriva dos ouvidos das pessoas está estritamente relacionado com suas origens. O gênero, que nasceu nas periferias de Panamá e que ganhou forças em Porto Rico, era duramente criticado e beirava à clandestinidade, pois, de acordo com as autoridades, incentivava a violência e a prostituição.

No entanto, não era bem assim. Obviamente, por ser um ritmo naturalmente periférico e que ganhou popularidade nos anos 2000, muitos desdobramentos posteriores – como o uso do gênero para propagar violência – não puderam ser evitados. O desejo de muitos artistas latinos de alcançarem a fama e o estrelato falava mais alto. Dessa maneira, temas como sexo, dinheiro e violência se tornaram comuns nas letras.

O preconceito ao reggaeton era tanto que, em Cuba, por exemplo, a União de Jovens Comunistas propuseram, na época, a proibição do ritmo por “comprovadamente incitar a violência e o consumo de tóxicos”. Os percalços se assemelham com os que o funk teve (e tem) de enfrentar no Brasil, que chegou a ter que debater em 2017 se o ritmo, oriundo das favelas do Rio de Janeiro, seria ou não criminalizado, na prerrogativa de que propagava o uso de drogas, o emprego da violência e o estímulo demasiado de sexo e prostituição.

Atualmente, a realidade é outra: todos querem beber desta água que, ao que parece, não deixa a maioria dos artistas latinos passarem sede. O Grammy Latino, a maior premiação musical da América Latina, teve que se readaptar ao “boom” do reggaeton e criou uma categoria exclusiva ao ritmo.

Contudo, vale lembrar da importância dos artistas veteranos que fizeram com que o reggaeton caminhasse para o que se tornou hoje: Daddy Yankee, Don Omar, Luny Tunes, Wisin y Yandel, Zion y Lennox e mais tantos outros que não caberiam neste texto. No Brasil, tivemos MC Papo, com Piriguete –  que por inúmeras vezes foi confundido com funk – e Wanessa Camargo, com Amor, Amor, que conseguiu popularizar o ritmo em âmbito nacional.

Cinco músicas clássicas do reggaeton

Esta lista traz cinco músicas de várias épocas do reggaeton desde sua ascensão, nos anos 2000. Além de apreciar os clássicos, também vale a pena buscar os novos e novas artistas do gênero, que ainda tem predominância masculina. Vale reiterar que estas não são necessariamente as melhores.

Gasolina – Daddy Yankee (2004)

Foi com Gasolina que o reggaeton tomou proporções para além das fronteiras de Porto Rico. O porto-riquenho conseguiu emplacar a música em dezenas de países do mundo (inclusive em franquias de filmes, como Velozes e Furiosos) e ganhou indicação no Grammy Latino na categoria de “Gravação do Ano”. Um verdadeiro divisor de águas.

Atrévete-te-te – Calle 13 (2005)

O grupo porto-riquenho fez uma das melhores músicas de seu catálogo, com um vídeo que rendeu um Latin Grammy dentre as dezenove estatuetas. A música funde ritmos como cumbia (oriundo da Colômbia), rap e hip-hop ao reggaeton que domina a música.

La Tortura – Shakira & Alejandro Sanz (2005)

Esta foi a primeira música essencialmente de reggaeton gravada por Shakira. O sucesso desta canção foi tanto que ela e Sanz passaram 25 semanas no topo da Hot Latin Songs, a maior parada musical latina, além de terem sido os primeiros artistas a cantarem em espanhol na premiação Video Music Awards.

Danza Kuduro – Don Omar & Lucenzo (2010)

Foi o hit do verão de 2010, com impactos muito similares aos que Despacito conseguiu alcançar. Além da dança viral (oriunda da Angola), a música alcançou o topo de várias tabelas, incluindo o Brasil, que readaptou a canção para a vinheta de abertura da novela Avenida Brasil.

El Perdón – Nicky Jam & Enrique Iglesias (2015)

Também “morou” no topo dos charts latinos, embarcando em uma onda de sucesso recente de músicas em espanhol após o estrondoso impacto de Bailando, de Iglesias. Atualmente, acumula mais de 1 bilhão de reproduções no YouTube.

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Por Renato Freitas de Menezes – Fala! Universidade Federal do Acre

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