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Qual a diferença entre apropriação cultural e apreciação cultural?

Faz algum tempo que o termo “apropriação cultural” vem sendo usada e levantada em alguns debates nas redes sociais. Mais recentemente, o termo foi usado pela sister Lumena contra a Juliette, que acabou por ser a campeã do Big Brother Brasil 21, quando a paraibana elogiou seu vestido branco usado em uma das festas da edição, e essa cena trouxe o debate do que é, afinal, apropriação cultural? Qual a diferença entra apropriação cultural e apreciação cultural? 

apropriação cultural
Entenda o que é apropriação cultural. | Foto: Reprodução.

Apropriação cultural

Antes de tudo, acho importante explicar o que é apropriação cultural. De modo bastante simplista e resumido, podemos afirmar que a apropriação cultural ocorre quando um indivíduo pertencente a uma cultura se apodera de determinados elementos de uma outra, da qual ele não faz parte. Esses elementos podem ser, vestimentas, músicas, danças, pinturas, símbolos religiosos, penteados, entre outros elementos que se refiram a alguma outra cultura.

Esse debate não é fechado, e que poucas vezes foi pautado, pelo contrário, muitos ativistas e pensadores estão refletindo o uso do termo e modo de que ele é aplicado. 

Um dos aspectos incontornáveis deste tipo de apropriação é o modo como os produtos culturais são retirados dos seus contextos originais e reproduzidos em contextos totalmente diferentes. O que faz com que, muitas vezes, estes símbolos percam seu verdadeiro significado e relevância para aquela cultura.

Exemplo disso, são as tranças box braid, que estão no auge da moda negra, e que muitas vezes, mulheres brancas acabam por optar por usar sem saber a relevância do penteado. Já que ele tem origens africanas, em uma época que mulheres faziam as box braids para esconder grãos de arroz para viagens longas entre outros tipos de grãos para a alimentação do povo, ou grupo de viagem, vendo um pouca dessa história já deu para sentir o peso histórico, não é? 

box braids
Tranças box braids. | Foto: Reprodução.

Mas como podemos apreciar algo sem cometer apropriação?

Devemos separar o conceito de apropriação cultural de outros como “apreciação” ou “intercâmbio” é o fator da dominação. A apropriação parte de alguém pertencente a uma cultura hegemônica ou dominante. Esse grupo dominante, de forma coletiva e estrutural, discrimina os indivíduos de outros grupos minoritários, ao mesmo tempo em que adota alguns dos seus produtos culturais.

Quando essas expressões culturais pertencentes às minorias são retiradas do seu contexto, existe um apagamento da sua história. Elas passam a ser encaradas como parte (e propriedade) da cultura dominante, que recebe os créditos por algo que não criou. Ou seja, o que parece estar em jogo é a posição de poder, os privilégios dos quais esse grupo se serve para se apropriar e reclamar algo que não pertence às suas tradições e crenças.

O que devemos fazer é admirar e pesquisar a história daquele objeto, símbolo cultural, saber de onde e como surgiu e pensar: isso vai afetar alguma cultura? O importante disso tudo é a reflexão cultural que vamos ter, saber ver a outra cultura com outros olhos, de maneira inteligente e apreciativa, sem afetar ou machucar ou ocultar a historia do outro. 

cultura indígena
Símbolos culturais. | Foto: Reprodução.

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Por Anna Clara Tesche – Fala! Universidade Federal de Santa Maria

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