quinta-feira, 25 abril, 24
HomeCulturaPor que religiões diferentes possuem mitos semelhantes?

Por que religiões diferentes possuem mitos semelhantes?

Com a existência de inúmeras religiões espalhadas pelo mundo e algumas em bastante evidência, tornam-se perceptíveis algumas semelhanças entre mitos presentes em culturas diferentes, apesar de suas particularidades. Mas, primeiramente, o que são os mitos?

Mitos são histórias tradicionais que surgiram para tentar explicar os mistérios do mundo, não precisando de evidências para serem aceitos, sendo narrados por meio da racionalidade e imaginação. O pensamento mítico foi difundido pelo mundo através da expansão e dispersão de sociedades. Vulnerável a modificações pelo fato de ser transmitida através de gerações, cada sociedade detém uma cultura que, por sua vez, possui narrativas simbólica-imagéticas próprias e maneiras de homenageá-las.

Símbolos religiosos
Símbolos religiosos. | Foto: Reprodução.

Semelhanças entre mitos

Se bem observadas, é possível identificar características similares em diversas narrativas religiosas. Essas características geralmente remetem a feitos de deuses, heróis e criaturas mitológicas que agiram de modo “tal” e, por isso, algo é/foi/deve ser de “tal” jeito de acordo com a justificativa dada pela religião atrás das narrativas – caracterizando o que pode ser chamado de mitos fundadores.

A partir disso, utilizando-se da mitologia comparada, que nada mais é que uma comparação entre mitos de diferentes culturas por meio de várias perspectivas – históricas, antropológicas, políticas, e outras -, estudiosos indicam acontecimentos na linha do tempo desde a criação do mundo e dos seres humanos como a característica em comum mais explícita entre elas.

É comum acharmos na cronologia das narrativas religiosas (não necessariamente na mesma ordem) eventos com elementos facilmente reconhecíveis e semelhantes em paralelo, como:

  • Titanomaquia, termo utilizado para fazer referência a um mito da criação do mundo ou universo, no qual divindades lutam uns contra os outros representando as forças do caos. Para alguns estudiosos, esses mitos sugerem acontecimentos históricos, como conquistas de grupos e colonizações. 
  • Mitos fundadores, os que descrevem a origem de seus costumes. Com eles, as religiões estabelecem tradições justificando-as com os feitos de deuses ou heróis míticos, tal como o mito da fundação de Roma pelos irmãos Rômulo e Remo ou o mito de que os faraós egípcios eram deuses hereditários.
  • O mito da inundação refere-se a um grande dilúvio que ocorreu no planeta de modo que poucos sobreviveram, como há no Cristianismo, na mitologia hindu, grega e asteca.
  • O sacrifício de figuras divinas, cujos nascimento e morte foram eventos primordiais para o mundo, envolvendo algum milagre e servindo de alguma forma para o mundo existir. Assim como Cristo para os cristãos, há o mito de Hainuwele, na Indonésia; Pangu, na China; o mito indiano de Purusha; e o mito nórdico de Ymir.
  • A volta de um deus que morre e retorna à vida, a exemplos de Cristo, Osíris (Egito) e Tamuz (mesopotâmia).
  • O Axis mundi refere-se a um lugar ou objeto mítico que fica entre diferentes universos. Por exemplo, na antiga China e aos antigos germânicos tinham mitos com uma “Árvore Cósmica”, cujos ramos alcançam o céu, e cujas raízes alcançam o inferno.

Desse modo, pode-se inferir que, de fato, há características que contrastam mitos de religiões diferentes e isso está relacionado a forma em que as narrativas surgiram e sofreram modificações moldadas por sociedades diante de suas evoluções. Contudo, é válido ressaltar que a mitologia comparativa, já que nos permite rastrear culturas distintas, também nos serve de base para um assunto mais complexo: o sincretismo religioso, ou seja, a grosso modo, a mistura de religiões. 

Observando atenciosamente, percebe-se que muitas religiões se formaram a partir da mesclagem de culturas variadas e se disseminaram pelo mundo por contextos diversos, a exemplo o Candomblé (resultado da combinação de matrizes africanas pelos escravos no Brasil). Isso não significa que haja uma religião pura, certa ou errada, mas que deve haver reflexão e consciência a respeito de mudanças antropológicas, contextos históricos e, consequentemente, políticos que ocorreram pelo mundo e ocorrem até os dias atuais. 

____________________________________
Por Lawanne Arruda – Fala! UFPE

ARTIGOS RECOMENDADOS