O Batman contemporâneo é apresentado como um homem traumatizado pelo assassinato de seus pais que decide utilizar sua fortuna para dedicar sua vida ao combate ao crime. Porém, Bruce Wayne resolve realizar essa missão pessoal de maneira não convencional e por meio de recursos tecnológicos.
Com um grande intelecto e um avançado conhecimento em artes marciais, nosso personagem adota uma personalidade secreta que tem como único objetivo tornar-se um símbolo de luta contra a criminalidade de sua cidade. Para tal objetivo, o homem morcego apresenta a regra única de não matar os vilões, pois, segundo ele mesmo, se rebaixar aos métodos daqueles que enfrenta tornaria-o igual a eles.
No entanto, se engana quem pensa que o cavaleiro das trevas de Gotham sempre adotou essa postura contrária ao assassinato de seus inimigos. Quando nasceu, em maio de 1939, o personagem não apresentava nenhum tipo de questionamento moral em relação ao ato de matar seus antagonistas.
Na realidade, o nosso herói seguia a linha de pensamento “bandido bom é bandido morto” e, durante anos, realizou diversos assassinatos, que variavam de quebrar pescoços, fuzilamentos chegando até atos mais cruéis, como enforcamentos.
Por que o Batman parou de matar os vilões?
Como podemos perceber, temas como violência e morte já eram amplamente abordados em produções daquela época, no entanto, a sociedade considerava que estes e outros assuntos eram subversivos, capazes de corromper a mente das crianças e que, por conta disso, deveriam ser censurados.
Nesse contexto, seguindo o pensamento conservador da comunidade norte-americana da década de 50, nasce o “Comics Code Authority”, traduzido para o português como Código de Autoridade para Quadrinhos, criado em 1954, pela Associação das Revistas em Quadrinhos da América. Sua função era servir como um conjunto de regras que determinava o tipo de conteúdo aceitável para uma revista em quadrinhos, tendo, inclusive, um selo de aprovação na capa das revistas que seguiam essas normas, atestando que aquele conteúdo fora aprovado por um órgão maior.
Contudo, diferente de um órgão de censura, o Comics Code não poderia impedir a circulação de revistas em quadrinhos que não respeitavam suas regras. Essas publicações só não apresentariam seu selo de aprovação, dessa forma, deixando claro que o conteúdo daquele produto poderia ferir a moral da sociedade da época.
Nesse contexto, motivadas pelo medo se seus negócios sofrerem grandes impactos, as grandes editoras reformularam suas produções, até publicavam histórias sem o selo do código, mas passando a adequar seus principais títulos às regras, ou seja, reduzindo a violência, acabando com os assassinatos e excluindo temas considerados sensíveis.
Logo, por meio deste novo cenário Batman tem uma mudança drástica em sua abordagem com os criminosos, adotando um limite de não praticar assassinatos, e apresentando uma justificativa moral para seus atos. Tal alteração acabou por perdurar até depois da extinção completa do Comics Code, o que só veio acontecer em 2010, e seguindo a fazer parte do comportamento padrão do personagem.
Obviamente, há diversas histórias em que o encapuzado de Gotham mata, sejam elas no período pré, durante e pós-Comics Code, porém, são tratados como acontecimentos de universos paralelos, dessa forma, o “verdadeiro Batman” segue seu combate ao crime, protegendo sua cidade sem nunca ter quebrado a sua regra.
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Por Alberto Lucas Favato – Fala! UFMG