Sim, a saúde física de atores mais velhos é de se admirar! Já a sua saúde mental, não
Se você alguma vez, ao assistir a séries e filmes estranhou a idade de certo ator que estava interpretando determinado personagem, saiba que você não está sozinho! Há inúmeros exemplos nas telinhas de artistas que eram mais velhos ou novos demais para serem os intérpretes das figuras representadas na ficção, causando, por vezes, estranhamento ao público.
É evidente a predominância de atores mais velhos interpretando personagens mais novos do que a sua idade verdadeira. Casos como Rachel McAdams, que aos 26 anos foi intérprete de Regina George (16) em Meninas Malvadas, e Paul Wesley, que dos 26 aos 35 anos interpretou o vampiro Stefan Salvatore (17) em The Vampire Diaries, são exemplos dessa afirmação. Isso ocorre porque o trabalho de menores é regulado por lei: eles não podem participar de cenas consideradas ‘’fortes’’ e nem trabalhar com a mesma carga horária de maiores de idade. Além disso, os diretores das grandes produções optam por não arriscar colocar artistas menos experientes em grandes papéis, preferindo confiar no talento de profissionais mais versados.
Por que não se deve colocar atores mais velhos em papéis de adolescentes?
Entretanto, há um problema delicado ao colocar atores mais velhos em papéis de adolescentes. Isso porque a adolescência é um período marcado por transformações físicas, psicológicas e hormonais, em que o indivíduo passa a sentir uma grande necessidade de se sentir aceito e busca se encaixar nos padrões sociais, estéticos e midiáticos impostos pela sociedade. Dessa forma, ao se colocar atores adultos com corpos formados, definidos e, muitas vezes, alterados por cirurgias plásticas para serem intérpretes de adolescentes, contribui-se para a propagação de um padrão de corpo inalcançável e irreal para a idade, influenciando a autoimagem e, consequentemente, a autoestima dos adolescentes, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de transtornos alimentares e doenças como ansiedade e depressão.
Às vezes, eu fico me comparando com um padrão que eu nunca vou conseguir chegar e isso me deixa extremamente mal.
Conta a estudante de 17 anos, Fátima Costa Pereira.
Ademais, uma vez que o padrão de beleza está ligado à aceitação social, o adolescente cuja aparência foge do preestabelecido é distinguido pejorativamente, sendo, por vezes, discriminado, marginalizado, excluído do convívio social e violentado moral e fisicamente.
Assim sendo, os modelos transmitidos culturalmente através dos meios de comunicação, cujos corpos, muitas vezes, não revelam o real, vêm acentuando a percepção negativa que os adolescentes possuem sobre si mesmos, visto que, para não se tornarem excluídos, buscam incansavelmente alcançar o padrão estético e se perdem no descobrimento da própria identidade. Isso porque a insatisfação com a autoimagem é proveniente do conflito entre o fato de que a vontade do indivíduo, ou seja, o que ele gostaria de ser, sua identidade, é vista como sinônimo do exigido pela sociedade do que ele deveria ser, caracterizando, assim, a atual sociedade de padronização. No entanto, infelizmente, o que a sociedade mais padroniza ultimamente é a ocorrência de doenças mentais que assolam a juventude.
Além disso, muitos jovens com a concepção de que estão ficando parecidos fisicamente com os atores das séries e da TV, acreditam que se tornarão mais atraentes e, consequentemente, com a autoestima elevada, serão aceitos pelos grupos sociais, apelam para as cirurgias plásticas e outros procedimentos estéticos. Dessa forma, o desespero pelas cirurgias decorrente do desejo ininterrupto pela inserção ao padrão de beleza, levam muitos adolescentes desinformados a clínicas clandestinas, o que pode vir a ocasionar danos à saúde física, devido a falhas e erros de profissionais desqualificados.
Segundo uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Viçosa, 81% dos jovens brasileiros não se sentem satisfeitos com seus corpos, sendo que 74% afirmam já terem sentido vergonha do próprio corpo, e 10% confessaram já ter forçado vômitos para obter uma sensação de magreza. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, houve um aumento em 141% no número de procedimentos em pessoas entre 13 e 18 anos, evidenciando, assim, a proporção que a busca pelo corpo “perfeito” alcançou.
Portanto, apesar de compreensível o emprego de artistas mais velhos em papéis mais joviais, é importante que a indústria cinematográfica passe a investir, gradativamente, na questão da representatividade de todos os semblantes e fisionomias em suas produções, para, assim, progressivamente, evitar o desenvolvimento em adolescentes de distúrbios de imagem corporal e outros comportamentos de risco relacionados à saúde.
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Por Giulia Lang – Fala! Cásper