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Por que ditadores queimam livros? Saiba mais sobre isso

Umas das formas mais antigas de registro e transmissão de conhecimento, os livros, sempre estiveram entre os principais inimigos de governos ditatoriais. Entender o porquê disso é fundamental para a existência da liberdade intelectual, cultural e de pensamento.

livros queimados
Livros sendo queimados. | Foto: Sean Mundy photo.

Muito além do Nazismo

Quando se pensa em queima de livro, logo se pensa no regime Nazista da Alemanha da primeira metade do século XX. Em maio de 1933, com o apoio da população, convencida com as propagandas elaboradas por Joseph Goebbles, Ministro da Propaganda Nazista, milhares de livros foram jogados em fogueiras na praça Opernplatz. Os exemplares queimados eram escolhidos a dedo: livros de escritores judeus e que, segundo o governo vigente, propagassem ideias que destoavam da ideologia Nazista. Com isso, o objetivo era, além do simbolismo de destruir o que é considerado “inimigo”, impedir que o conhecimento contido em tais obras chegasse à população.

Mas se engana quem pensa que esse foi o primeiro, e último, caso de queima de livros. No século XV, durante a Inquisição Espanhola, manuscritos árabes foram queimados pela igreja Católica; no século XIX, nos Estados Unidos, a Sociedade Novaiorquina, para a Supressão do Vício, usou a queima de livros como símbolo de combate à imoralidade; entre 1940 e 1960, período conhecido como Macarthismo, nos Estados Unidos, livros considerados “comunistas” foram queimados ou retirados de circulação; em 2020, o governo de Rondônia, estado do norte do país, mandou que clássicos da literatura brasileira fossem retirados de escolas.

O que a queima de livros diz sobre um governo?

Todos os acontecimentos citados acima possuem algo em comum: a tentativa de uma força dominante de impedir que certos conteúdos chegassem ao grande público. Não se trata de queimar livros, mas de queimar ideias específicas que podem, segundo aqueles no poder, influenciar a população de forma contrária aos seus ideais. Tendo isso em mente, fica claro que a queima de livros está ligada diretamente ao controle de informação.

Todo mundo já está cansado de saber que livros são fonte de informação. Não deixar ou filtrar assuntos, classificando-os como “aceitáveis” ou “inaceitáveis” para distribuição, é o mesmo que acabar com a liberdade intelectual. Se aplicado a longo prazo, temos uma sociedade que só conhece aquilo que seus governantes querem que ela conheça e, com isso, a instauração de um governo ditatorial – e, logo, totalitário.

Por que ditadores queimam livros?

Se você juntar o que foi dito até então, uma das respostas para esta pergunta já ficou clara. Ditadores queimam livros para dominar uma sociedade. Existe forma mais eficaz de manter um governo totalitário do que impedindo que um povo saiba o que existe além dele?

Fazer com que uma sociedade acredite que está vivendo o que é o melhor para ela erradica a possibilidade de revoltas e revolução. Obviamente, desde o nascimento da imprensa – e, talvez, da escrita -, se tornou quase impossível que esta tarefa fosse realizada. E só temos que agradecer por isso.

Da realidade para a ficção: distopias

Se você ficou se perguntando como seria um mundo em que um governo totalitário dominasse, implantando a queima de livros e filtragem de informação como medidas governamentais, fique sabendo que a literatura está cheia de distopias – o oposto da utopia – para nos levar a esses infelizes mundos e nos fazer refletir.

Trouxe três livros super famosos que nos contam um pouco sobre isso.

Fahrenheit 451

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Livro Fahrenheit 451. | Foto: Reprodução.

Impossível não pensar no livro de Ray Bradbury quando o assunto é queima de livros. O nome do livro, por si só, já remete a isso: é a temperatura, na escala fahrenheit, em que o papel pega fogo.

Na obra de Bradbury, a própria sociedade norte-americana escolheu parar de ler, e isso foi difundido e incentivado pelo governo. Os bombeiros, que antes apagavam incêndios, são agora os responsáveis por começá-los. Montang, o protagonista, é um bombeiro que coloca seus valores em xeque quando encontra uma mulher disposta a morrer junto com seus livros. Afinal, o que há nos livros que levariam uma pessoa a morrer com e por eles?

1984

1984
Livro 1984. | Foto: Reprodução.

Talvez a distopia mais famosa a tratar do assunto, o livro de George Orwell é quase uma análise da ideologia e objetivos de um governo totalitário.

Na trama, o protagonista Winston trabalha falsificando fatos para que estejam sempre de acordo com o governo. Em seu intimo, entretanto, alimenta a vontade de revolução. Ao conhecer Julia, ou membro do partido, ele embarca em uma missão para destruir o Grande Irmão – mas o fim pode não ser o que ele imaginava.

O Conto da Aia

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Livro O Conto da Aia. | Foto: Reprodução.

Mostrando as consequências e impactos de um governo totalitário pela visão de uma mulher, o livro de Margaret Atwood traz para o assunto uma roupagem diferente ao acrescentar discussões da pauta feminista.

A obra de Atwood nos mostra como é a vida de Offred, uma aia na sociedade de Gilead. As mulheres não possuem mais direitos, e seu único papel, como aia, é servir e engravidar. Livros, jornais e universidades não existem mais. Em Gilead, a informação – e o conhecimento – é monopolizada pelos governantes, mas nem isso é capaz de acabar com o espírito de uma mulher.

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Por Paloma Soares – Fala! UFRJ

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