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Os desafios dos deficientes visuais em tempos de Covid-19

O Covid-19, conhecido popularmente como coronavírus, já fez milhares de vítimas e infectou mais de 100 mil habitantes brasileiros. Para se proteger, a população encontra-se em um isolamento social e realiza medidas de prevenção, como a higienização e a falta de contato físico. Entretanto, se para uns o toque pode ser reduzido, para outros ele é imprescindível.

A transmissão da doença por meio de gotículas de pessoas infectadas e pelo toque em superfícies contaminadas expõem as pessoas com deficiência visual a situações de risco. Isso é o que afirma Mizael Conrado, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP). 

As questões da proximidade e do tato são essenciais para os deficientes visuais. Você sempre segura no braço das pessoas quando elas vão te ajudar e a recomendação é que, ao espirrar, a população use o antebraço para cobrir o rosto. Outro contato frequente que precisamos ter atenção é com as maçanetas, já que você encosta nelas e, logo depois, na sua bengala.

Mizael Conrado nasceu cego devido a uma catarata congênita. Ainda bebê, foi submetido a quatro cirurgias e começou a enxergar. Aos nove, teve um descolamento de retina que, aos poucos, se intensificou e foi fundamental para a perda total da visão. 

No início da pandemia, eu não considerava os cegos como parte do grupo de risco e achava que apenas com as medidas de higiene estaríamos protegidos. Já no segundo dia, isso mudou e eu percebi que, devido a nossa dependência do tato, necessitamos ter um maior cuidado.

Ao ser questionado se a mudança de hábitos, causada pela pandemia, afetou diretamente o seu cotidiano, Mizael foi afirmativo e ressaltou a importância da cautela e da higienização. 

A gente realmente começa a se atentar para coisas que nem imaginávamos que fossem necessárias, não temos ideia da importância do toque, o que fica evidente em uma situação como essa. Isso me fez perceber o quanto as mãos são usadas para tudo. Todos os contatos que você tem, você precisa ter o cuidado higiênico por conta do contágio do vírus.

deficientes visuais na pandemia
Mizael Conrado. | Foto: Reprodução Lance.

Moradora da cidade de São Paulo, outra possível afetada seria a atriz Isabela Rienzo, que tem visão parcial. A paulista enxerga somente pelo olho esquerdo e, com isso, ela depende muito da noção do espaço. Entretanto, os impactos da pandemia não a atingiram diretamente, pois ela afirma ter o privilégio de não precisar sair de casa para trabalhar durante a quarentena. 

Eu tenho a oportunidade de estar em casa nessa quarentena, que é um lugar que eu conheço bem. O espaço já está gravado na minha mente, o que faz com que eu não tenha dificuldades. A pandemia é uma situação preocupante para todos, inclusive para os deficientes visuais, mas sou privilegiada por estar confortável e poder me prevenir.

como cegos fazem na pandemia
Isabela Rienzo. | Foto: Reprodução Instagram.

De acordo com a Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), é importante que os deficientes visuais redobrem os cuidados e sigam as medidas de prevenção da contaminação do vírus, publicadas por meio de sua Secretaria de Saúde, Reabilitação e Prevenção à Cegueira. Entre elas é importante ressaltar a higienização das bengalas, óculos e lentes e a redução do contato, que deve ser restringido ao ombro de quem ajuda ao invés do braço. 

Além disso, a ONCB destaca a necessidade das campanhas de utilidade pública sobre a pandemia serem acessíveis. É preciso que as informações essenciais sejam compartilhadas e estejam disponíveis com o recurso de audiodescrição, Língua Brasileira de Sinais e em modos, meios e formatos que contemplem a todos. Isso deve incluir a tecnologia digital, as legendas, os serviços de retransmissão, as mensagens de texto, a leitura fácil e a linguagem simples.

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Por Maria Cunha – Fala! Cásper

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