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Opinião: O que aprendemos na pandemia do coronavírus?

Nesta quarta-feira (6), a FioCruz recomendou ao Ministério Público do Rio de Janeiro que fosse realizado o lockdown – o que consiste em medidas mais rígidas para manter as pessoas dentro de suas casas, tornando o isolamento social mais efetivo no estado.

A cada dia, desde que o vírus chegou no país, vemos mais e mais notícias sobre pessoas morrendo, hospitais sobrecarregados, profissionais da saúde desprotegidos, um pânico geral. Não se encontra esperança em uma cura tão perto, e o que se pode fazer é obedecer o pedido de todos os governadores: “Fiquem em casa”.

Enquanto isso, o presidente da República segue seu fluxo contra os outros políticos (e também as recomendações de órgãos internacionais, como a OMS), pois o “Brasil não pode parar”. Afinal, em tempos de crise humanitária, a única preocupação de Bolsonaro e seus fãs é a economia – tanto que é esse o seu argumento para não endossar a quarentena e outras medidas mais rígidas, como a FioCruz sugeriu.

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FioCruz recomenda lockdown ao Ministério Público do Rio de Janeiro. | Foto: Reprodução.

Por que o isolamento social é um privilégio?

Algumas pessoas não podem permanecer em casa, isso é fato. Estar realizando o isolamento social é um privilégio. O grupo de combate à pandemia está se arriscando para salvar a vida do resto. Entregadores de comida se arriscam pelas ruas, muitas vezes, sem as devidas proteções como máscaras e álcool gel, para dar àqueles que estão em casa mais conforto. Trabalhadores informais não têm a proteção necessária para parar com o seu trampo; se pararem, morrerão de fome. E, acredito que para eles, é pior morrer por não ter o que comer do que de um vírus que nem se sabe exatamente o que é. Afinal, não se sente o vírus invadindo o seu corpo. Sente-se a fome.

Medidas políticas que protejam essas classes são extremamente necessárias para que se possa realizar um lockdown completo, sem dúvidas. No entanto, na maneira Bolsonaro de pensar, uma pandemia ainda não é explicação para ajudar classes mais pobres. Afinal, vai morrer gente mesmo (“E daí?”). Que morram os pobres, então.

É um absurdo. Mas, talvez, nem tanto. O presidente sempre deixou bem claro suas intenções com a população de renda mais baixa, mas muitos apenas viraram a cara para não ouvir tamanhos absurdos, acreditando que ele jamais faria as coisas das quais falava.

Foi mesmo necessário uma pandemia para perceber que Bolsonaro só se importa com os grandes empresários? Se fosse tão a favor da economia como um todo, donos de negócios pequenos estariam recebendo auxílio para mantê-los; empregados teriam mais direitos e mais capital para investir em pequenos prazeres e em sua vida em geral; o dólar a cinco reais não seria defendido pelo ministro da Economia como algo muito bom (pois as pessoas de renda mais baixa estavam indo para a Disney e isso era inaceitável).

Além disso, apesar do Brasil ter parado em muitos sentidos, há ainda muitos prazos e exames que não foram prorrogados. Um exemplo disso é o Enem. Em prol da pandemia, muitos acreditaram que o exame nacional que garante a entrada de estudantes às faculdades brasileiras seria adiado, devido ao fato de que todas as escolas estão fechadas e somente as particulares seguem funcionando via on-line.

No dia 4 desse mês, foi lançado uma campanha em defesa à manutenção da data do exame. O vídeo é composto de adolescentes em quartos espaçosos e limpos e todos têm acesso à internet. Claramente, tal propaganda não reflete a população brasileira; até porque uma em quatro pessoas não tem acesso a internet, e mais de 11 milhões moram em aglomerados subnormais (o que já não é recomendado pela própria OMS, especialmente durante uma pandemia como esta).

Mantendo a data do Enem, pessoas fora da elite, sem o conforto ou a infraestrutura necessários para estudar em casa, não entrarão em faculdades públicas de qualidade. Desse modo, os ricos seguem ricos, e os pobres vão ficando mais pobres.

É inevitável concluir que, durante tempos de crises (ou até tempos normais), é fundamental um governo montado por pessoas responsáveis e que se importam com o bem-estar do povo brasileiro. Um governo que crie e mantenha diversas medidas públicas para garantir uma renda básica para aqueles que precisam; para oferecer segurança, tanto em situação como uma grande crise de saúde ou apenas física em relação a tantos outros perigos; para fornecer uma educação de qualidade a todos que a desejam.

E esse governo, como nos foi apontado vezes e mais vezes, não é aquele feito por Bolsonaros.

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Por Domitilla Mariotti – Fala! UFRJ

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