Apesar de o termo milagrinho econômico traçar uma relação direta com o período de crescimento na Ditadura Civil-Militar, no final da década de 60, seu contexto e suas ações políticas diferem-se bastante. Retomado pelo professor e economista Edmar Bacha, o conceito foi aplicado para explicar o crescimento da economia brasileira, que atingiu a taxa anual média de 3,7% nos anos 2000, quase dobrando a taxa entre 1980 e 1990, que foi de 2,1%.
O milagre econômico ocorreu entre os anos de 1968 e 1973, em meio ao regime militar. Na ocasião, houve um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), além de uma intensa industrialização e uma queda na inflação. No entanto, somado a isso, aumentou-se também a concentração de renda, a exploração do trabalhador e a corrupção.
Por mais que o lema do ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto (1967-1974) fosse “crescer o bolo, para depois dividir”, essa repartição nunca saiu do papel. Com isso, o tão aclamado milagre econômico por militares e políticos mais conservadores não só segregou ainda mais a população que já era excluída, como ainda deixou de presente uma dívida externa de US$ 115,171 bilhões, em 1985.
Em meio às consequências dos 21 anos de ditadura, a trajetória econômica brasileira não animava o país, nem possíveis investidores internacionais. Pouco antes da implementação do Plano Real – idealizado por Fernando Henrique Cardoso, enquanto era ministro da Fazenda de Itamar Franco – em 1994, a situação encontrava-se ainda pior.
Nesse período de transição, contudo, um suspiro deu sinais de emergir no Brasil. Já no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a partir de 2005, um crescimento econômico marcou os principais indicadores e veio acompanhado de oferta de empregos, salários mais altos e maior distribuição de renda. Começava, assim, o denominado milagrinho econômico.
O que foi o milagrinho econômico?
Diferentemente do milagre econômico do regime militar, o milagrinho ocorreu em um período democrático e teve consequências positivas a curto prazo. Sendo assim, a redução dos indicadores de desigualdade e a ampliação do emprego formal – ou seja, trabalho com benefícios e carteira assinada – foram os principais destaques do período.
O milagrinho econômico ocorreu durante os governos de Lula e de Dilma Rousseff, entre 2005 e 2012, e foi um respiro para a economia antes da grande crise, que assola o país até hoje. Com a expansão do crédito e maiores investimentos em políticas redistributivas e na infraestrutura, o plano foi até capa da The Economist em 2009, uma das revistas mais conceituadas do ramo.
Por outro lado, em 2013, a mesma publicação anunciou que o país poderia sofrer os impactos da crise de 2008 devido à política econômica adotada. Enquanto outros países passaram por um momento de grande recessão, o Brasil não enfrentou os impactos negativos e ainda conseguiu crescer 7,5%. Assim, depois de cinco anos da crise financeira internacional, o “país do futebol” pagaria a conta.
O respiro da economia brasileira antes da crise
Apesar de o milagrinho econômico ter proporcionado melhorias em diversos setores, não teve uma longa duração no país. Dessa maneira, com a crise de 2008, houve a contração do crédito, a queda no valor das commodities e a saída do capital estrangeiro. O problema da política econômica foi que as medidas temporárias acabaram tornando-se de longo prazo, o que seria insustentável, conforme indicou Laura Carvalho no livro Valsa Brasileira: do boom ao caos econômico.
Diante do novo cenário, em 2011, houve maior investimento no setor privado e o crescimento ficou cada vez mais limitado, mostrando a fragilidade no campo industrial em relação à diversificação de sua estrutura produtiva. Além disso, com a queda do dólar, agravaram-se os desequilíbrios na balança comercial, permitindo que existisse um estímulo à importação – déficit no caso brasileiro, importava mais do que exportava.
Enfim, a poucos passos de uma nova crise, a chamada classe média localizava-se em um “miolo espremido”. Enquanto ricos e mais pobres cresceram ao longo do período, as pessoas que se inseriam na faixa de transição ficaram em desvantagem no crescimento. Mais para frente, a somatória disso aos efeitos da utilização de políticas temporárias a longo prazo resultaria no fim do milagrinho econômico e início de uma estagnação da economia brasileira, que até hoje assombra o país.
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Por Isabela Cagliari – Redação Fala!