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Opinião: crise econômica do coronavírus evidencia a desigualdade social

De forma responsável e correta, nesse período de calamidade pública por conta do Covid-19, especialistas da área de saúde declararam a necessidade de uma quarentena para diminuir ao máximo contatos físicos os quais facilitem a transmissão do vírus.

Todavia, é clara a desigualdade de oportunidades para participar desse período de resguardo, visto que, aproximadamente, 38,6 milhões de brasileiros estão na informalidade. Essa parte da população que não possui renda fixa, não tendo carteira de trabalho ou sendo trabalhador autônomo, seria extremamente prejudicada ao passar tempo indeterminado sem contribuição financeira. 

Sobre a desigualdade, Chico Science já afirmava:

“E a situação sempre mais ou menos

Sempre uns com mais e outros com menos

A cidade não para, a cidade só cresce

O de cima sobre e o de baixo desce”

desigualdade social no brasil
Desigualdade social no Morumbi, em São Paulo. | Foto: Reprodução.

Um exemplo dessa parcela é o motorista de aplicativo, Édipo Luiz Batista, que explica sua situação nesse momento. “Está muito ruim, se antes nos dias normais a gente conseguia 150 ou até 200 reais por dia, agora é no máximo 50, fora o risco que a gente corre continuando nas ruas e levando pessoas que nem conhecemos”, confirma.

Como uma forma de ajudar essa parte da população, foi aprovada uma medida que daria um auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais que estivessem em um grupo específico de renda:

  • A média da renda por pessoa da casa não poderia ser maior que 522 reais e cinquenta centavos;
  • Não podem ter recebido rendimentos tributáveis acima de R$ 28.559,70; 
  • Precisam ser: microempreendedores individuais (MEI), contribuintes autônomos da Previdência ou cadastrados no CadÚnico até o dia 20 de março.

Tal medida, mesmo sem ser o suficiente para algumas famílias, já é algo positivo. Enquanto isso, essa realidade de mínima renda para sobrevivência choca-se com o fato de que 8 pessoas no mundo têm, juntas, mais dinheiro que a metade mais pobre da população mundial.

Outra evidência da injusta disparidade social no país é que, em 2019, o Governo Federal concedeu R$ 376,198 bilhões em incentivos fiscais para empresas, mas nesse mesmo ano a desigualdade de renda no Brasil atingiu o maior patamar já registrado.

Além disso, a última pesquisa citada mostrou que as pessoas que ganham menos sofreram mais com os efeitos da crise e estão demorando mais para se recuperar. Também, nos últimos 5 anos, o rendimento dos mais pobres caiu e o dos mais ricos só fez crescer.

De acordo com estudos econômicos de alguns especialistas, a situação do Brasil tende a piorar principalmente afetando quem possui condições financeiras mais frágeis: “O choque econômico já é maior do que a crise financeira de 2008 e a economia global já entrou em recessão, devendo ser acompanhada por uma disparada do desemprego e sofrer anos até se recuperar das perdas e impactos da pandemia.”

Ademais, o que preocupa o sistema financeiro do Brasil é o comércio com a China estar abalado. A China é um grande parceiro comercial do Brasil principalmente na exportação da soja, do petróleo e do minério de ferro que têm diminuído diante do receio de uma desaceleração da economia chinesa.

Muitas problemáticas sociais continuam sem as devidas providências tomadas, principalmente na saúde pública, como, por exemplo, não haver testes suficientes para a identificação do vírus nos postos de saúde, o que, além de comprometer os reais dados sobre a quantidade de pessoas infectadas no Brasil, também dificulta o tratamento e cura da população, visto que muitos não chegam nem a ser diagnosticados por falta de recursos.

Um dos meios de prevenção mais simples e eficazes para o vírus é o ato de lavar as mãos com atenção várias vezes ao dia, mas como cobrar isso em um país que 48% da população não possui nem saneamento básico?

O Brasil, ao contrário do que muitos imaginam, não possui uma quantidade pequena de leitos na UTI, são 45 mil leitos e esse número só fica atrás dos Estados Unidos e da Alemanha, respectivamente. Entretanto, somete 44% deles pertencem ao SUS (Sistema Único de Saúde), o restante atende apenas a 23% da população que tem acesso à saúde privada ou suplementar. Portanto, percebe-se que quase 80% da população depende de menos da metade dos leitos de UTI.

A desigualdade social se mostra evidente em dados como esses, mas a visão ignorante de algumas pessoas consegue assustar ainda mais. “O grupo de risco é o das pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas?”, essa foi uma das falas irresponsáveis do pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro, que pode influenciar inúmeros brasileiros a não cumprir as orientações dadas pelos profissionais da saúde.

A transmissão do vírus Covid-19 é rápida e, por isso, o cuidado com o contágio deve ser rigoroso. Dessa forma, os jovens podem não estar inseridos no grupo de risco, mas são vetores capazes de contaminar pessoas que estão, podendo gerar um ciclo ainda mais preocupante. Por essa razão, é importante o isolamento social e o fechamento de escolas, universidades, serviços e comércios específicos.

Há inúmeras opiniões afirmando que algumas pessoas podem até morrer, mas a crise na economia deve ser priorizada. A visão social que elas não têm é que a bolsa de valores pode voltar a subir, a economia pode ter uma reviravolta com os investimentos específicos e necessários no futuro, mas uma vida perdida não pode ser reposta e as mortes que ocorrerem nesse período jamais serão compensadas.

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Por Meliah Cristina – Fala! UFPE

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