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Opinião: As consequências da saída de Mandetta para a saúde pública

Em meio à pandemia de coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro decidiu trocar o comando do Ministério da Saúde, substituindo Luiz Henrique Mandetta pelo oncologista Nelson Teich.

A demissão de Mandetta já era esperada pela população brasileira. Desde o dia 6 de abril, o então ministro estava sob ameaças de ser demitido. A relação de ambos se estreitava conforme Mandetta contrariava os posicionamentos do presidente no que dizia respeito às políticas de enfrentamento da doença, o que o levou a ser demitido.

Jair Bolsonaro e Luiz Henrique Mandetta. | Foto: Sérgio Lima.

Enquanto Bolsonaro apoia o isolamento vertical da população e se diz contrário ao isolamento total, o ministro incentivava os brasileiros a ficarem em casa e a seguirem as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Além disso, o ministro fazia ressalvas à cloroquina como forma de tratamento do vírus, enquanto o presidente apoiava o uso do medicamento, que ainda está sendo testado.

Na declaração ao Fantástico, no dia 12 de abril, Luiz Henrique Mandetta destacou como a divergência entre ele e o presidente era nociva à população, que não sabia se deveria acreditar no ministro da Saúde ou no principal líder político do país. Esse tipo de posicionamento do então ministro, para Bolsonaro, era considerado como uma forma de desautorizar sua autoridade perante o povo. Na quinta-feira, dia 16, Mandetta foi demitido. 

Nelson Teich foi escolhido por Bolsonaro para assumir o cargo de Mandetta. Em seu primeiro posicionamento como ministro, o médico oncologista disse haver total alinhamento entre ele e o presidente. Criticou, também, a polarização entre a saúde e a economia e citou o desconhecimento sobre o vírus e sobre a melhor forma de enfrentá-lo.

Não foi, porém, claro sobre possíveis propostas de como conciliar economia e saúde e sobre novas políticas de enfrentamento da pandemia, mas destacou que não haverá mudanças bruscas em relação ao antigo ministro.

Teich, no momento, se apoia na desinformação perante ao vírus para construir uma política pública mais flexível, que abrace tanto o posicionamento do presidente quanto o posicionamento da ciência, que Mandetta constantemente mencionava como a melhor saída para o combate à pandemia. 

Ao nomear um ministro sem experiência na vida política, Bolsonaro busca alguém mais maleável e que o incomode menos, não o desautorizando constantemente como Mandetta fazia. Dessa forma, como o próprio Teich citou no discurso de posse sobre o alinhamento entre a economia e a saúde, é possível que haja uma saída precoce do isolamento e uma reabertura da economia, já que o ministro ficará pressionado a tomar medidas eficientes que não contrariem o presidente. 

O relaxamento da quarentena é uma possível consequência da saída de Mandetta. O ministro da saúde não tem autoridade para desautorizar os governadores que impõem o isolamento em seus estados, mas à medida que haja uma possível divergência entre a política adotada por Teich em relação a anterior, isso pode confundir a população, que pode se ver motivada a ir às ruas e voltar à normalidade. 

Pesquisas de opinião, como o Datafolha, indicavam que a popularidade de Luiz Henrique Mandetta, como ministro da Saúde, era maior que a do presidente. Assim, é esperado que a popularidade de Bolsonaro caia ainda mais após a decisão de trocar o líder do Ministério.

Porém, Bolsonaro conta com um eleitorado fiel que, a princípio, deve manter sua posição enquanto observa as consequências dessa troca. Se houver uma reabertura da economia de forma não inteligente, isso pode ser ainda pior para o governo, que pode perder o apoio de seus eleitores mais fiéis. 

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Por Giulia Lozano – Fala! Cásper

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