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Opinião: Ameaça de que Bolsonaro pode ser derrubado por militares aumenta

O presidente Jair Bolsonaro está colocando cada vez mais a imagem das Forças Armadas do Brasil em situações constrangedoras e que desagradam os defensores constitucionais e do regime democrático. Diante disso, a ‘ala natal’ do presidente, politicamente falando, estaria se voltando contra o líder do Executivo nacional. Se não bastasse, estariam pretendendo uma mudança na presidência da república, onde o general Hamilton Mourão, hoje vice, seria o presidente.

Bolsonaro perde apoio de militares
Bolsonaro perde apoio na ala militar. | Foto: Veja.

Isso mesmo! Segundo fontes do jornalista Magno Martins, 86% dos militares teriam deixado de dar apoio ao presidente Jair Bolsonaro e a alta cúpula das Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica); de acordo o jornalista, estariam programando uma forma de como Bolsonaro deixasse o cargo, sem a necessidade de uma interferência militar na politica, o que configuraria num rompimento democrático, nada favorável para o país neste instante da crise pandêmica do novo coronavírus.

A possibilidade de interferência é “zero”, de acordo com as fontes do jornalista, que publicou a notícia, em 1º de junho. Em 10 de junho, o jornal americano The New York Times informou que o risco de um golpe de estado à la Getúlio Vargas, estava para acontecer a qualquer momento no Brasil, destacando a fala de um oficial do exército, que disse que, em caso de operação da residência oficial do presidente, a mando do Poder Judiciário, seria algo que poderia mudar a atualização posição do exército, que é a defesa da democracia. Segundo a reportagem, Bolsonaro se manteria no poder.

Mas, quais são os motivos para que este risco, esquecido nos governos anteriores, ter ficado cada vez mais eminente na atual gestão? Vamos pontuar:

Motivos para uma possível retirada de Bolsonaro do governo

1. Banalização da pandemia

Desde a confirmação do 1º caso de Covid-19 no Brasil, em 25 de fevereiro, o Governo Federal, com destaque para o presidente, vem procurando banalizar a doença, chegando a apelidá-la de “gripezinha”, ou “resfriadinho”, em pronunciamento via rádio e TV para a nação.

Anti-quarentena, Bolsonaro criticou arduamente os governadores e prefeitos brasileiros que decretaram isolamento social, fechando setores da economia. Querendo reabrir tudo, “descobriu” que a hidroxicloroquina era eficaz no combate à doença, sem estudo comprovatório. Colocou um general sem experiência médica para administrar interinamente o Ministério da Saúde, após a queda de dois ministros médicos: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich.

Eduardo Pazuello além de exonerar técnicos em saúde pública e substituí-los por militares sem experiência, ainda alterou o horário e o método de divulgação dos dados da pandemia no Brasil, hoje, epicentro mundial, ocultando dados, divulgando-os em horário inconveniente ao conhecimento público e até divulgando dados divergentes, fazendo com que o Ministério da Saúde perdesse credibilidade como fonte de informação da disseminação do Covid-19 no país.

2. Participação em atos antidemocráticos

Este ponto, sem dúvida, foi o que mais desgastou a relação Bolsonaro e militares. O presidente vinha, dominicalmente, participando de manifestações com cartazes e palavras de ordem antidemocráticas, pedindo intervenção militar com Bolsonaro no poder.

Mesmo falando em democracia, declarações que eram feitas pelo presidente nas transmissões ao vivo de suas participações, nas redes sociais, criavam contestações e reflexões bastante sérias sobre o futuro da maior democracia da América Latina.

Mesmo assim, Forças Armadas declararem apoio ao regime democrático, o presidente chegou a afirmar que tem as Forças Armadas ao seu lado. Em uma das manifestações, Bolsonaro desfilou de helicóptero da Força Aérea Brasileira (FAB), com Fernando Azevedo e Silva.

3. Inquérito das fake news

Após a operação que atingiu aliados, Bolsonaro, que 24 horas antes, estava elogiando a Polícia Federal pela realização de uma operação contra o governador do RJ e desafeto pessoal, Wilson Witzel, passou a criticar a PF pela operação a mando do Supremo Tribunal Federal.

As evidências de que políticos e empresários ligados a Bolsonaro teriam financiado e disseminado fake news durante as eleições presidenciais, em 2018, ficou mais evidente após a operação.

4. Sergio Moro

Este foi o que colocou Bolsonaro e seu governo na maior crise moral e institucional desta gestão. Acusando Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal, trocando o diretor-geral da PF para que houvesse a troca da superintendência do Rio, Sergio Fernando Moro deixa o Ministério da Justiça e o governo Bolsonaro, passando a ganhar o ódio de seus apoiadores.

Ao deixar o Governo, em 24 de abril, divulgou parte de suas provas para o Jornal Nacional, onde mostra o presidente enviando uma reportagem do site O Antagonista, destacando uma investigação da PF contra deputados bolsonaristas e justificando que aquele era “mais um motivo para a troca”.

Em depoimento, Moro afirmara que outra prova contundente era um vídeo de uma reunião ministerial ocorrida em 22 de abril, onde mostrava a intenção clara de Bolsonaro em interferir na PF. Este vídeo foi divulgado para o público em 19 de maio (Clique aqui e confira, na íntegra, o vídeo).

Em entrevistas posteriores, Moro afirmou que Bolsonaro nunca teve compromisso com o combate à corrupção. Tal escândalo fez com que pedidos de abertura de processo de Impeachment fossem protocolados contra Bolsonaro e que tem justificativas suficientes para que sejam aprovados pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o que poderia colocar Mourão no poder, caso aprovado.

Em contrapartida, o presidente vem procurando e ganhando apoio com o grupo de partidos que dão apoio após troca de favores, o chamado “centrão”, para evitar uma aprovação de um eventual processo de Impeachment.

5. Chapa investigativa

Este é o ponto que mais preocupa a ala militar. O Tribunal Superior Eleitoral está julgando a chapa Bolsonaro-Mourão das eleições 2018, por irregularidades na campanha. Caso o tribunal aceite a acusação, a chapa seria cassada e Bolsonaro e Hamilton Mourão perderiam o cargo, tornando Rodrigo Maia o presidente da república, o que os militares não querem, pelo seguinte motivo: com Mourão cassado pelo TSE, seria uma mancha na imagem e reputação das Forças Armadas desde a redemocratização. Atualmente, o julgamento está suspenso e sem previsão de retomada, já que Alexandre de Moraes, ministro da corte, pediu vista.

Outros pontos elevam a preocupação da instabilidade institucional nacional, como declarações polêmicas de Bolsonaro, ministros e seu filhos. Fato é que os militares não querem uma saída antidemocrática para a crise. Seja com Bolsonaro no poder ou não, a necessidade de estabilização política é extremamente urgente, mas medidas duras, apesar de descartadas em discursos, preocupam a democracia brasileira, que é bastante volátil e imprevisível.

Bolsonaro e militares não estariam em relação harmoniosa
Bolsonaro e militares não estariam em relação harmoniosa. | Foto: Reprodução.

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Por Álvaro José – Fala! UFPE

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