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Opinião: A imprensa descredibilizada por Bolsonaro

Desde o começo da pandemia, a imprensa faz parte da linha de frente para continuar levando informações à sociedade e também o possível para combater a desinformação. Ainda assim, a figura do jornalista passou a ser descredibilizada pelos ataques de Jair Bolsonaro e de seus apoiadores.

Como a figura do jornalista foi afetada pelo governo de Bolsonaro?

Os jornalistas têm a função de pesquisar, apurar fatos e levar à sociedade, e isso não mudou durante a pandemia da Covid-19, logo, se intensificou. O compromisso do jornalista com a informação é concreto, porém, os jornalistas estão enfrentando um grande desafio: se manter firme diante dos ataques frequentes de uma figura que se sente incomodada com a informação e, diante deste cenário, se mostrou inimigo da ciência. E essa pessoa é ninguém menos que o próprio presidente da República.

De acordo com a pesquisa feita pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), divulgada em julho, durante os primeiros meses de 2021, o número de ataques de Jair Bolsonaro à imprensa aumentou 74% em relação ao segundo semestre do ano passado.

Ataques à imprensa são promovidas pelo presidente da República. Foto: Reprodução/Folha UOL
Ataques à imprensa promovidos pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução/Folha UOL

O levantamento feito pela ONG apontou que 87 ataques foram feitos por Bolsonaro no primeiro semestre deste ano. Logo, o número é bem superior aos 50 ataques proferidos pelo Presidente no segundo semestre do ano passado.

Os ataques violentos ao jornalismo

Ao divulgar o levantamento, a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) declara que os ataques estão cada vez mais violentos, e ‘’atingindo um nível inimaginável de vulgaridade”.

Relembrando as declarações feitas por Bolsonaro contra a imprensa, é visível que a falta de controle dele agride a liberdade de expressão, a democracia e descredibiliza a imprensa, tornando-a ”mentirosa”.

‘’Vocês são uns canalhas’’, ‘’Cala a boca, não te perguntei nada!’’, ‘’Deixa de ser idiota’’, ‘’Você não tem capacidade de entender?’’, ‘’Você é um mentiroso’’, ‘’Vá pra p***que o p*****. Imprensa de m***a. É pra enfiar no r**o de vocês da imprensa essas latas de leite condensado todas’’, essas são algumas frases que foram direcionadas publicamente por Bolsonaro aos repórteres no exercício da profissão.

A Escola de Comunicação ensina como redigir uma matéria, como o jornalista deve se comprometer com a informação verídica e concreta à sociedade, de entender que as informações causam impacto social. O que a Escola de Comunicação não ensina é aguentar ofensas e humilhações públicas promovidas pelo chefe do Executivo e, consequentemente, replicados pelos seguidores fiéis que aparentemente não possuem o mínimo de senso crítico.

Na maioria dos ataques, Jair descredibiliza a imprensa chamando-a de ‘’mentirosa’’ ou ‘’canalha’’ por matérias que informam suas ações como presidente ou mostrando as suas falas polêmicas e graves. 

A devoção que os bolsonaristas possuem por Bolsonaro faz com que eles acreditem em tudo. A devoção torna-os cegos, com teorias conspiratórias e uma crença irreal de que a imprensa está torcendo contra a gestão de Bolsonaro, quando está apenas tentando levar informação aos leitores. ”Mídia suja”, ”Voltem a estudar, seus jornalistas de m***a, ”Globo lixo”, ”Imprensinha comunista!”, todas essas frases foram ditas por bolsonaristas e estão registradas no documentário da Globoplay, Cercados.

Cercados – A imprensa contra o negacionismo

O documentário Cercados, lançado em 2020 e disponível na Globoplay, faz registro da cobertura da pandemia da Covid-19, tendo os hospitais cheios, cemitérios, em coletivas com ex-ministros da saúde e reuniões de pauta em veículos de comunicação. Além disso, mostra as agressões verbais e físicas contra jornalistas em exercício e o ponto de vista de quem escreve as notícias.

O nome faz referência ao espaço destinado a imprensa no Palácio da Alvorada. De fato, é um cercadinho que permitia a proximidade dos bolsonaristas e dos jornalistas, o lugar aparece diversas vezes durante o filme e mostra a influência de Bolsonaro aos seus seguidores, que ofendem a imprensa diversas vezes.

Cercados mostra o trabalho e a perspectiva da imprensa durante a pandemia. Foto: Reprodução/Globoplay
Cercados mostra o trabalho e a perspectiva da imprensa durante a pandemia. Foto: Reprodução/Globoplay.

Violência contra jornalistas

A violência contra jornalistas não é exclusiva da ascensão bolsonarista. Durante a ditadura militar, jornalistas eram vigiados, perseguidos e ameaçados. Ver os ataques verbais de Bolsonaro e dos seus seguidores promovendo a violência física contra jornalistas, por um instante, remete aos anos mais infelizes da história brasileira. 

Um dos casos mais emblemáticos contra jornalistas foi o de Vladimir Herzog, que foi prestar depoimento voluntariamente ao DOI-CODI no dia 25 de outubro e posteriormente, o órgão de repressão informou que Herzog estava morto. Herzog foi torturado, vítima de espancamentos, choques elétricos e morreu nas dependências do órgão de repressão, que forjaram uma cena de suicídio. Apresentaram uma foto do jornalista enforcado com o próprio cinto, no interior da cela.

A versão oficial foi desmentida por alguns fatores, sendo um deles o instrumento utilizado na cena: o cinto. Não era permitido ao preso permanecer com cinto, justamente para evitar que fosse utilizado como arma.

É um paradoxo acreditar que Bolsonaro seja a favor da democracia. Enquanto era deputado federal, ele mencionou o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido pela Justiça como torturador da ditadura militar, como um ‘’herói nacional’’. Durante seu discurso, mostrou-se favorável ao impeachment de Dilma Rousseff. ‘’Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff (…), o meu voto é sim’’, declarou Bolsonaro. A ex-presidente foi presa e torturada durante o período ditatorial.

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Por Isabella Martinez – Fala! Anhembi

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