O pensamento simplificado correspondente à desigualdade social, esse enraizado durante décadas na sociedade, é composto por argumentos e reflexões equivocados que visam, na maioria das vezes apenas uma tese como motivação para origem e propagação dessa problemática contínua, tornando-os, assim, escassos para a compreensão do cerne em questão.
Desde já, cabe fixar que o principal objetivo dessa discussão é acrescer pontos essenciais que evidenciam os diversos aspectos responsáveis por atingir diretamente vários âmbitos da vida, com o intuito de complementar os conteúdos existentes sobre esse constante impasse.
Nesse contexto, é comum apropriar-se de uma concepção instruída de que a desigualdade social está interligada exclusivamente aos fatores econômicos, por conseguinte, classes sociais, mas é fundamental assimilar princípios mais complexos para a apreensão adequada do quesito. Logo, a pergunta inicial se refere ao questionamento sobre quais são essas complexidades e como afetam as demais esferas da vida das pessoas. Por esse motivo, é mais do que a hora de principiar o debate.
Em algum momento você deve ter se perguntado a diferença entre pobreza e desigualdade, mas, além de entender que são termos com significados distintos, é necessário relacionar essa hesitação com a situação mundial dos países.
Pois bem, quando um país é colocado em um posicionamento de pauperismo se constata que naquele lugar há uma carência de recursos, considerados a base para manter a população e seus ambientes, ou seja, o que caracteriza um país como pobre é a ausência de fundos financeiros que acabam dificultando a manutenção do território, consequentemente impactam o desenvolvimento do mesmo.
No entanto, a desigualdade produz um significado diferente, marcado pela existência desses recursos, porém, acompanhado pela má distribuição de renda e riquezas, classificando-o, assim, como um país extremamente difícil de desenvolver uma vida devidamente digna para todos.
Segundo as evidências atuais disponíveis nas análises feitas pela ONU (Organização das Nações Unidas), por exemplo, o Brasil segue caracterizado por permanecer entre os cinco países mais desiguais na escala mundial. Dado isso, todas as estimativas relacionadas à distribuição de renda ou bens no país apontam para uma sociedade extremamente desigual, pois não são realizadas de maneira equitativa, na qual se abre espaço para que as formas de exploração e conflitos sociais sejam frequentes no cotidiano.
Visivelmente, a posição financeira de um país é um fator contribuinte para o começo do entendimento a respeito da complexidade da desigualdade social, todavia, percorre agora uma atenção maior a sociedade em si.
É notório que o corpo social brasileiro se organiza em classes sociais definidas por sua situação econômica, mas estabelece teor mais profundo, como a divisão em estratos sociais. Visto que, alguns sujeitos pertencem a camadas socialmente favorecidas e prontamente são destinados a serviços totalmente dignos nos conceitos políticos, ético-raciais, culturais, dentre outros. Com isso, fortalece o desamparo social com as pessoas condenadas à miséria e a colaboração da disseminação da estratificação social.
Diante desse cenário, uma conclusão importante que vale acentuar é que em razão da sociedade brasileira ser bastante hierarquizada, perpetuam-se os confrontos sociais e geram os famosos status sociais, conhecidos por diferir entre si no prestígio ou na honra social.
Em linhas gerais, a classe alta procura se separar da classe baixa, em virtude de fatores, raciais, étnicos, sexuais ou qualquer outro fator diferente dos seus. Provendo um agravamento da segregação social, já que os brasileiros estão condenados a seguir indefinidamente nessa situação, no qual persiste a exclusão social.
As consequências dessa permanência diz respeito ao crescente preconceito naturalizado em virtude de vários fatores como: raça, etnia, poder aquisitivo,educação, religião e outros. Desse modo, a discriminação serve como um bom exemplo para explanar que a desigualdade social subsiste também por causas não econômicas, posto que as pessoas que pertencem às camadas mais baixas vão sempre continuar na situação que se encontram, pois é visível que a falta de oportunidades para tentar firmar a dignidade não serão oferecidas.
Um raciocínio similar foi estudado pelo autor e professor Jessé Souza que, em uma das suas obras mais conhecidas, A Invisibilidade da Luta de Classes ou a Cegueira do Economicismo, explana ideias que podem fixar melhor os argumentos aqui apresentados. Nessa incrível obra, Souza destaca que a ordem social na sociedade moderna não se estabiliza, pelo fato de haver uma reprodução de um sistema injusto e desigual que legitima uma série de privilégios, seja material ou ideal, como também procura frisar que as verdadeiras faces da desigualdade não se manifestam apenas no âmbito financeiro, pois estão associadas também com fatores extra-econômicos, esses que colaboram para a supremacia de uma classe sobre a outra e o antagonismo nas relações sociais.
É perceptível que o sistema capitalista impõe uma repetição da condição social, melhor dizendo, os menos favorecidos serão impostos a criar os filhos nas mesmas condições a qual foram criados. Apenas esse simples fundamento é suficiente para alegar que a meritocracia é um mito.
Não seria possível uniformizar as conjunturas de uma pessoa incluída na classe alta, que de berço possui acesso a uma boa educação, saúde, alimentação, seguindo sem conflitos familiares, tendo apoio emocional, entre outras necessidades humanas, com alguém de classe baixa marcada pela ausência de reconhecimento social e participação digna na sociedade, negada dos mesmos direitos humanos, perseguidas por preconceitos raciais, sexuais, e outros.
A ideologia do mérito individual não funciona, porque as pessoas pobres estão desprovidas de oportunidades educacionais, econômicas e sociais igualitárias, sendo assim, acabam sujeitas a qualquer tipo de discriminação, pois a sociedade é despreparada para respeitar as diferenças que compõem as identidades instauradas na sociedade contemporânea. Por isso,acentua-se que a meritocracia é preponderante para alastrar a desigualdade social.
Em síntese, vimos que os pontos aqui explanados são indispensáveis para absorver um entendimento mais completo a respeito do tema. Claramente, a maior dificuldade a ser superada é o forte mascaramento que a meritocracia traz na proliferação de uma falsa sociedade justa, pois é indiscutível que o mérito sirva como argumento principal para alienar as pessoas de que o esforço segue sendo a única opção para conquistar as devidas vitorias na vida.
Assim, vê-se que as poucas viabilidades disponíveis não atendem suficientemente aos grupos desfavorecidos, perpetuando uma grande ausência de equidade. Dessa maneira, o mais importante não é oferecer as mesmas oportunidades, mas sim, igualar elas de uma forma justa, a fim de promover uma real igualdade e justiça, livrando-os de qualquer inferioridade, como também visando diminuir os impactos negativos nas relações sociais.
Por fim, o propósito desse debate foi ressaltar um breve resumo de que a desigualdade social possui infinitas reflexões para análise antes de ser padronizada e apresentada como uma simples desestabilização econômica.
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Por Beatriz Barbosa – Fala! UFPE