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O papel de Monark na banalização da liberdade de expressão

O youtuber Monark se envolveu em mais polêmicas ao defender a legalização do partido nazista no Brasil. A atitude ocasionou sua demissão e o tornou alvo de investigação da Procuradoria-Geral da República.

O youtuber e ex-apresentador do Flow Podcast, Monark, defendeu a criação de um partido nazista brasileiro durante programa.
O youtuber e ex-apresentador do Flow Podcast, Monark, defendeu a criação de um partido nazista brasileiro durante programa. | Foto: Reprodução.

​Na última segunda-feira, 7 de fevereiro, Bruno Aiub, mais conhecido como Monark, se envolveu em mais uma polêmica. Desta vez, o youtuber e ex-apresentador do Flow Podcast declarou em seu episódio 545 que defende “que o nazista tinha que ter um partido nazista reconhecido pela lei”. Em seguida questiona: “As pessoas ​não têm o direito de serem idiotas?”. Seguindo sua onda de comentários controversos, Monark novamente dissemina falas condenáveis e que vão contra o direito de viver de alguns grupos de pessoas. Após esta última fala, o ex-apresentador foi desligado do podcast e o episódio em questão, tirado do ar. Porém, estas não foram as únicas polêmicas que Bruno se envolveu e, constantemente, ele se vale da “Liberdade de Expressão” para justificar seus atos. Com isso, o youtuber banaliza a verdadeira liberdade de expressão e passa a impressão de que ela é absoluta e irrestrita.

Caso mais recente: legalização de um partido nazista

Ao defender a legalização de um partido nazista no Brasil, Monark legitima que pessoas possam ser livres para disseminarem seus ideais de extremo preconceito. O Holocausto aconteceu não faz muito tempo, a Segunda Guerra Mundial acabou em 1945, um passado recente e de fácil estudo. Basta uma pesquisa para saber o horror que os Judeus, Negros, pessoas LGBTQIA+, PCDs, entre outros sofreram nas mãos daqueles que se denominavam “raça pura”. Historiadores estimam que, durante o Holocausto, morreram entre 5 e 6 milhões de Judeus. Um comunicador que falava no Flow Podcast, um canal do YouTube com 3,67 milhões de inscritos atualmente, tem que ser consciente da sua responsabilidade na divulgação de ideias, políticas e comportamentos. Monark, assim com diversos outros criadores de conteúdo na internet, possui um alto poder de influência, não é sem motivo que ele é chamado de “influenciador digital”.

Essa não é a primeira vez que o youtuber se envolve em polêmicas durante o podcast.
Essa não é a primeira vez que o youtuber se envolve em polêmicas durante o podcast. | Foto: Reprodução.

Em nota oficial, a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) disse que “condena de forma veemente a defesa da existência de um partido nazista no Brasil e o ‘direito de ser antijudeu’, feita pelo apresentador Monark, do Flow Podcast”. E declarou que “O discurso de ódio e a defesa do discurso de ódio trazem consequências terríveis para a humanidade, e o nazismo é sua maior evidência histórica.”

Além da CONIB, o Museu do Holocausto, sediado em Curitiba (PR), disse em suas redes sociais que “o nazismo foi muito além de pessoas exercendo, em suas palavras, o ‘direito de serem idiotas’ (…) Ser ‘antijudeu’ não é ser contra um conjunto de ideias, mas contra a existência de um grupo de pessoas”. O Museu ainda convidou Monark a visitá-los e conhecer mais da história do Holocausto.

Após as declarações de Monark, o Flow Podcast perdeu o patrocínio de diversas marcas e instituições, como a Flash Benefícios e a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, que encerrou o contrato de transmissão do Campeonato Carioca com os Estúdios Flow. Depois dessas perdas, o youtuber tentou se retratar através de um vídeo na internet no qual ele diz que estava errado e havia sido insensível, além disso, ele diz que estava bêbado na hora da conversa e atribui a fala a esta condição.

Cabe lembrar que a apologia ao nazismo é enquadrada no crime de racismo, que é imprescritível e inafiançável. A lei de número 7.716/89 deixa claro em seu artigo 20 que há reclusão de um a três anos e multa para quem “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Além disso, o inciso oitavo do 5° artigo da Constituição Federal diz que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei”, ou seja, não adianta invocar a Liberdade de Expressão para ferir a lei. A Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciou nesta terça-feira (08) que foi iniciada uma investigação para apurar o caso e dizer se Monark cometeu o crime citado acima.

​Relembre outras falas de Monark

No episódio 488 do Flow Podcast, Monark debateu com o roteirista e humorista do Porta dos Fundos, Antonio Tabet. No dia, Antonio argumentou que “Para você avaliar se algo deve ser ou não cerceado, você tem que pensar da seguinte maneira: ‘morre gente por causa disso?’ (…) Um cara que fala assim: ‘eu acho que gay tem que apanhar na Avenida Paulista”. Neste momento, o youtuber interrompe o humorista e diz: “E o cara que fala: ‘eu amo refrigerante, nossa, com açúcar então. Amo pra c*r*lh*, quero beber refrigerante e acho que todo mundo tinha que beber refrigerante”. Nisso, Tabet questiona se é crime beber refrigerante e Monark responde que o beber causará mais mortes.

O que causou revolta na internet foi o fato de o ex-apresentador ter comparado a violência que a comunidade LGBTQIA+ sofre todos os dias com mortes ocasionadas pelo consumo excessivo de refrigerantes.

Antonio Tabet e Monark discutiram durante episódio do Flow Podcast.
Antonio Tabet e Monark discutiram durante episódio do Flow Podcast. | Foto: Reprodução.

Outro caso que teve alta repercussão foi a conversa entre Monark e o advogado criminalista, Augusto de Arruda Botelho no Twitter. Na ocasião, o youtuber postou “É a ação que faz o crime e não a opinião” e recebeu a resposta de Botelho dizendo “Não, Monark, uma opinião racista pode ser um crime de injúria racial, por exemplo”. Após esta resposta, Monark questiona “Ter uma opinião racista é crime?” e Botelho argumenta: “Se a opinião se tornar pública sim, pode ser um crime. Se ela ficar só na cabeça de quem pensa assim, deveria ser motivo de profunda vergonha e um convite à reflexão”. O questionamento feito por Monark causou ao Flow Podcast a perda de dois patrocinadores: as empresas iFood e Trybe.

Conversa entre o youtuber e Augusto de Arruda Botelho através do Twitter.
Conversa entre o youtuber e Augusto de Arruda Botelho através do Twitter. | Foto: Reprodução

O limite da “Liberdade de Expressão”

​O que se faz presente em diversos comentários de Monark é a defesa incondicional da “Liberdade de Expressão”. O youtuber acredita que ela é irrestrita e absoluta, de forma a banalizar seu verdadeiro significado. Atitudes como essas, que não vêem as paredes que delimitam o que é expressão e o que é crime, legitimam e fortalecem a existência de grupos que pensam da mesma forma. Ao apoiar a criação de um partido nazista, Monark da forças aos grupos neonazista que vêm crescendo no Brasil. Em reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, exibido em janeiro de 2022, foi constatado o crescimento de grupos neonazistas no país em 270% entre os anos de 2019 e 2021. Ou seja, a liberdade de expressão não é infinita, ela tem barreiras que são colocadas pela lei e que devem ser seguidas para que os direitos de viver dos indivíduos não sejam afetados.

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Por Gabriel Arouca Leão – Fala! UFPR

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