Os níveis de carbono na atmosfera devem voltar a atingir picos quando a pandemia terminar e a economia reaquecer, sendo essa redução apenas momentânea e insignificante a longo prazo
Em razão das medias de quarentena impostas para frear a cadeia de transmissão do novo coronavírus, o nível da atividade econômica despencou e, consequentemente, o mesmo aconteceu com as emissões de carbono.
Dados da Universidade de Columbia apontam que em Nova York, epicentro da doença nos Estados Unidos, o trânsito teve uma queda de 50% da liberação de monóxido de carbono. E, no norte da Itália, as emissões de dióxido de nitrogênio está 40% menor que o de costume.
Já no setor aéreo, no mínimo um a cada cinco voos no mundo estão sendo cancelados. A atividade industrial também está menos intensa, motivando uma queda de 34% na produção de petróleo, que é a menor desde 2009.
Diante desse cenário, no primeiro semestre, 9,6 milhões toneladas de carbono deixaram de ser lançadas no ar. Segundo a Carbon Brief, a quantidade de carbono na atmosfera mundial pode chegar a cair 7% neste ano, um valor próximo do estabelecido no acordo de Paris.
Não se sabe ao certo o impacto que a diminuição da emissão global de carbono terá no clima, uma vez que não há uma previsão exata para o fim da pandemia do novo coronavírus. No entanto, uma momentânea queda da liberação de gases do efeito estufa não deve ter efeito sobre o clima a longo prazo.
O problema é que a redução da poluição que presenciamos atualmente não é em virtude de uma mudança consciente do modelo de consumo, mas de um evento extraordinário .Por isso, provavelmente, a queda na emissão de gases do efeito estufa ficará restrita a 2020.
Para Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, para que aja uma retração do aquecimento global, “É preciso uma redução de 7,6% em cada ano”. Todavia, a expectativa é que, impulsionada pelos governos sob o pretexto da recuperação econômica, a produção de carbono volte a bater novos recordes após o fim do isolamento.
Dessa forma, a desaceleração da produção de carbono em decorrência da crise do novo coronavírus preocupa os ambientalistas. Visto que, em crises como a de 2008 e a do petróleo também registraram quedas dos níveis de gases do efeito estufa na atmosfera.
Porém, os períodos que sucederam essas recessões, ou seja, quando a as atividades econômicas se normalizaram, houve um aumento exponencial da emissão de carbono, superando a quantidade de poluição presente no ar antes dessas crises.
A China, em duas semanas, diminuiu 25% da produção de gases poluentes, o que significa 6% das emissões do planeta. Por outro lado, segundo o Gernot Wagner, professor de Estudos Ambientais da Universidade de Nova York, constatou no MIT Technology Review:
As emissões na China diminuíram porque a economia parou e as pessoas estão morrendo, e porque as pessoas pobres não conseguem obter remédios e alimentos. Essa não é uma analogia do modo como queremos reduzir as emissões das mudanças climáticas.
Assim, devido à redução de carbono na atmosfera ser resultado de uma crise social, econômica e sanitária há um receio quanto a formação pelo senso comum de um pensamento de que é inviável ter crescimento econômico e preservação ambiental.
A crise financeira que se instaurou nas companhias aéreas, responsáveis por 2% das emissões de gases do efeito estufa globais, por conta das restrições de deslocamento, também não é positiva para o clima no futuro. Dado que, antes da pandemia, elas estavam buscando amenizar a poluição gerada pelos voos. Entretanto, agora o foco dessas empresas será, totalmente, na regularização de suas contas.
Além disso, o ambiente global não é propício para instauração de medidas que contenham o aquecimento global, portanto, inevitavelmente as mudanças climáticas ficarão em segundo plano até esse cenário de crise ser superado.
A ONU cancelou a maioria das reuniões internacionais sobre o assunto e um dos planos do Acordo Verde de descarbonização até 2050 da União Europeia, que tributará produtos de países que não têm tomado medidas contra o aquecimento global, lançado em março, não deve mais ser cumprido com os países em recuperação.
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Por Camila Nascimento – Fala! Cásper