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Maria Firmina dos Reis: a primeira romancista negra do Brasil

Mulher preta natural de São Luís do Maranhão, que de professora tornou-se a primeira romancista negra do Brasil: dentre muitos outros pontos, essa foi Maria Firmina dos Reis, autora de Úrsula, Gupeva, Cantos à beira-mar e outras obras.

Nascida em 11 de março de 1822 e filha da escrava alforriada Leonor Felippa dos Reis, Maria Firmina dos Reis viveu grande parte de sua vida na vila de São José de Guimarães, na casa de uma tia materna. Iniciou sua carreira como professora e foi a primeira mulher a ser aprovada para o cargo em um concurso público no Maranhão, em 1847.

Era reservada, mas acessível, estimada por seus alunos e pela população da vila. Criou uma escola gratuita e mista, para meninos e meninas, oito anos antes da proclamação da Lei Áurea – e foi alvo direto de críticas. Tamanho o escândalo, o projeto durou menos de três anos.

A escritora foi participante ativa na imprensa local e colaborou com inúmeros jornais literários, como A Verdadeira Marmota, Semanário Maranhense, O Domingo, O País, Pacotilha, O Federalista e outros. Suas publicações eram bem diversas, variando entre poesia, ficção, crônicas, até enigmas e charadas. Foi muito dedicada em sua vida intelectual, e compôs até mesmo um hino relacionado à abolição da escravatura.

Salve, Pátria do Progresso! 

Salve! Salve Deus a Igualdade! 

Salve! Salve o sol que raiou hoje, 

Difundindo a Liberdade! 

Quebrou-se enfim a cadeia

Da nefanda Escravidão! 

Aqueles que antes oprimias, 

Hoje terás como irmãos. 

Hino de Libertação, escrito por Maria Firmina dos Reis.

Obras de Maria Firmina dos Reis

Com o respeito que alcançou como professora, Maria Firmina publicou sua primeira obra em 1859, um romance denonimado Úrsula: com lançamento anunciado nas primeiras páginas do jornal A Moderação, o livro chamava a atenção justamente pela autoria feminina. Ainda numa sociedade fortemente machista e escravocrata, Úrsula representou o pioneirismo da autora não apenas como romancista, mas como crítica à escravidão vigente na época.

Os personagens escravizados da narrativa eram trabalhados em sua dimensão humana, e a história apresentando densa discussão sobre a condição dos escravos no século XIX, dando voz à eles para que discorram de sua própria condição. Mesmo sem o conceito firmado na época, a autora trabalha de certa forma a importância do lugar de fala, nesse caso, de ouvir sobre as dores da escravidão pelo olhar de quem a sofre.

Dentre suas outras obras, destacam-se Gupeva, narrativa indianista publicada em 1861, além da sensível e melancólica poesia de Cantos à beira-mar, de 1871.Com o movimento abolicionista ganhando força, Reis publica, na Revista Maranhense em 1887, o conto A Escrava, firmando seu posicionamento e apoio à abolição.

 A autora faleceu cega em 1917, aos 95 anos, em Guimarães.

Por muito tempo, sua obra e história caiu no esquecimento e, até hoje, não se obteve um registro fiel de sua aparência. O mais popular deles é um retrato falado, mas que foi realizado a partir de descrições de uma outra autora com a qual Maria Firmina era confundida, além de revelar um embranquecimento de seus traços. 

Maria Firmina dos Reis
Um dos retratos de Maria Firmina dos Reis. | Foto: Reprodução.

Mesmo com isso, a gradual recuperação de sua trajetória, por volta de 1962, foi primordial para que sua história se tornasse grande inspiração atualmente. Assim, a obra de Maria Firmina dos Reis mostra-se de grande relevância e pauta discussões essenciais, não apenas para sua época, mas para as próprias remanescências desse período escravocrata intrínsecas na dinâmica de nossa sociedade ainda hoje.

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Por Isadora Noronha Pereira – Fala! Cásper

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