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Incertezas e discordâncias sobre a Covid-19: o futebol não está imune

A FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) realizou,no sábado, 6 de junho, uma reunião virtual do seu Conselho Arbitral para decidir sobre a volta do campeonato estadual, paralisado desde 16 de março por conta da pandemia do novo coronavírus. Os clubes decidiram manter a competição suspensa até que protocolos médicos seguros sejam elaborados e submetidos à aprovação do Governo do Estado e órgãos sanitários.

Fluminense e Botafogo foram os únicos clubes que manifestaram posição contrária à volta dos jogos. O que acontece no Rio é a mesma situação vivida nos outros estados. Como em todas as atividades econômicas, federações, clubes e jogadores dividem-se entre proteger a saúde dos profissionais e encontrar meios de não sucumbir diante da crise financeira.

Primeira liga europeia relevante a retomar seus campeonatos, a Bundesliga (liga de futebol profissional da Alemanha) tem sido a fonte de inspiração para os defensores da retomada das competições. Como no país europeu, restringir os jogos a poucos estádios, impedir a presença de torcedores e estabelecer regras rígidas de posicionamento de jogadores e comissão técnica nos bancos de reserva parecem ser as principais providências tomadas pelos alemães e que tendem a ser copiadas pelos brasileiros no retorno dos jogos.

“Há uma diferença muito grande entre o Brasil e a Alemanha, em diversos aspectos”, diz Hudson, jogador do Fluminense. “Infelizmente, o Brasil está muito atrás em relação à infraestrutura e organização. Eu acho que depende muito de quanto o país foi afetado, quantos números de casos teve, quantos números de mortes, para que essa volta fosse mais rápida. Acho que tem muita coisa boa para aprender e pegar de exemplo com eles, mas é claro que tem uma distância muito grande entre Alemanha e Brasil em termos econômicos e estruturais”.

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Hudson Rodrigues treinando em meio à pandemia do novo coronavírus. | Foto: Instagram @Hudindick.

O atleta está confinado em sua casa no Rio de Janeiro e aguarda ansiosamente a autorização para voltar aos treinamentos. Ele apoia a posição do seu clube no Conselho Arbitral da FERJ e pede que os outros todos considerem as condições dos profissionais envolvidos e não apenas os jogadores.

Claro que eu sou a favor da volta, o mais rápido possível, mas uma volta com segurança, uma volta que a gente possa trabalhar tranquilamente, sem levar riscos para os nossos familiares. Não são somente os jogadores, fôssemos só nós, seguindo os protocolos de limpeza, exames e higienização, seria muito mais fácil. Mas envolve mais gente, as famílias de todos os funcionários, os seguranças, roupeiro. É uma coisa que tem que ser muito bem pensada e eu acredito que, com esse pico, a gente ainda está vivendo é um pouco arriscado voltar agora, apesar de eu querer muito voltar.

Diz o volante do tricolor carioca.

Retorno do futebol no Brasil

Hudson confessa a ansiedade provocada pela falta de perspectiva de retorno e lembra que, tão logo sejam retomadas as atividades, haverá um tempo significativo para que os jogadores recuperem sua forma física.

O futebol profissional é muito intenso e exige demais do jogador. Estamos há três meses sem jogos. A perda (do preparo físico) é significativa, mas, assim que voltar, vamos tentar minimizar isso o mais rápido possível para que as vitórias venham. Após duas semanas de paralisação, eles forçaram as férias e, dentro dessas férias, criaram os protocolos para a gente se manter em atividade e, ao fim dos trinta dias de descanso, nos apresentamos ao Fluminense virtualmente, através de aplicativos de reuniões. O clube criou protocolos de força, trabalhos aeróbicos, mas cada um treinando dentro do seu espaço em casa. Já passamos por alguns testes na parte física e de força. Claro que não estamos bem como se estivéssemos em uma temporada normal, mas melhores do que se estivéssemos completamente parados.

Pondera.

A prolongada paralisação das atividades no futebol promove outras discussões, além das relacionadas à saúde. É cada vez mais frequente encontrar defensores da adequação do calendário brasileiro ao europeu. Vislumbram que a quantidade de jogos será menor do que atualmente e que as chamadas janelas de transferências trarão menos estrago aos elencos já reduzidos dos clubes.

Sobre este tema, Hudson pondera que existem pontos importantes a serem discutidos e questiona se poderão ser adaptados à realidade brasileira. “Seria uma padronização que poderia levar a coisas boas. Mas não sei se daria certo devido ao clima. A unificação geraria, de imediato, trocar as nossas férias de verão por férias de inverno. Então, é uma coisa que deve ser muito bem pensada se vale a pena, porque não é só igualar o calendário, eu acho que envolve outros aspectos também”, argumenta o experiente jogador.

Particularmente, eu gosto muito de jogar o campeonato estadual. Mas eu acho que os estaduais, para os clubes grandes, são campeonatos que os fazem entrar na temporada de forma precoce, com pouco tempo de treinamento. Você já tem ali uma cobrança tremenda. Eu acho que é isso que a CBF e os clubes têm que lutar, para que melhorem o calendário, principalmente os clubes que têm competições durante o ano inteiro. Mas, ao mesmo tempo, também temos que pensar nos clubes menores, que revelam jogadores, mas que, às vezes, só têm quatro meses de calendário durante o ano. Então é uma tarefa difícil em que eles têm que encontrar um ponto de equilíbrio para atender todo mundo.

Argumenta Hudson, trazendo outro ângulo de observação.

Muitos dos pontos levantados pelo jogador Hudson fazem sentido e devem ser motivo de reflexão. Cedo ou tarde a pandemia acabará e todos terão que se readaptar, para que possamos aos poucos voltar ao normal. O mundo do futebol não fugirá desta realidade e as indefinições e incertezas observadas até agora trazem preocupação.

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Por Guilherme Napolis – Fala! Cásper

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