Holocausto que ocorreu no século XX foi executado durante e após a Primeira Guerra Mundial. Estima-se que o número de mortos do genocídio armênio seja entre 800 mil e 1,5 milhão
Antes de se aprofundar ao extermínio que tinha como objetivo extinguir a comunidade armênia durante o Império Otomano, é importante fazer uma rápida introdução ao termo “genocídio”.
A palavra genocídio, de acordo com o dicionário da língua portuguesa, significa o extermínio deliberado, parcial ou total de uma comunidade, grupo étnico ou religioso. Contudo, a origem da palavra vem do grego genos – tribo, raça – e do latim cide – matar. Esse termo foi utilizado pela primeira vez em 1944, por Raphael Lemkin, jurista polonês que contribuiu durante e após do período da Segunda Guerra Mundial para as construções das leis internacionais acerca desses crimes, sendo também uma das principais participações ativas da Convenção da ONU para a prevenção e punição do crime de genocídio, realizado em 1948.
Contexto Histórico do Genocídio Armênio
O genocídio armênio é considerado pela maioria da comunidade internacional o primeiro ato de extermínio sistemático de um grupo étnico da história recente, quando o Império Otomano iniciou uma série de assassinatos contra os armênios dentro de sua pátria, onde hoje é constituída a República da Turquia.
Desde o século XV, os armênios estavam sob o domínio do Império Otomano e a ideia de independência começou a ganhar força entre os armênios. Com isso, em 1909, o império iniciou uma série de massacres, que culminou na morte de 20 mil armênios e, mais tarde, precisamente em abril de de 1915, o governo turco reuniu 250 líderes da Armênia, parte deles foi executada ou deportada de sua terra. Após privar o povo de seus dirigentes, começou uma nova série de mortalidade dos povos armênios que habitavam os territórios asiáticos.
Os ataques contra a população ocorreu de diversas formas, sendo as mais evidentes: afogamentos, incêndios e uso de agentes químicos e biológicos. Eltan Belknind, agente da NILI, rede de espionagem Palestina criada durante o período da Primeira Guerra Mundial, infiltrou-se no exército otomano como um oficial e foi designado para o quartel general de Kemal Paxá. Ele alega ter testemunhado a morte de cinco mil armênios.
Transgressão do Império Otomano
De acordo com os julgamentos na época, há relatos de que os armênios podem ter sido afogados no Mar Negro, possível uso de gases tóxicos, agentes químicos com consequente overdose de morfina e até mesmo deportações. Acredita-se que existiram 25 grandes campos de extermínio, situados próxima a fronteiras entre Turquia, Síria e Iraque, sendo parte deles apenas campos de trânsito temporário.
Em 1919, o sultão Mehmed VI ordenou que as cortes marciais julgassem membros do Comitê e União e Progresso por sua responsabilidade em envolver o Império Otomano na Primeira Guerra Mundial. A questão armênia foi usada como ferramenta para punir os líderes do comitê e, no mesmo ano, um relatório do sultão Mehmed VI acusou mais de 130 suspeitos, a maioria dos quais eram altos funcionários. Através desta investigação, o tribunal militar descobriu que o desejo do comitê era eliminar os armênios por meio da chamada organização especial. Com as investigações concluídas, os responsáveis pela organização foram considerados culpados por unanimidade e condenados à pena de morte.
Perdas Humanas e Culturais
Estima-se que cerca de 800 mil a 1,5 milhão de armênios foram mortos durante o genocídio. Os assassinatos ocasionados pelas tropas turcas nos campos de concentração, sendo queimados, jogados amarrados ao mar, enforcados e até mesmo por inanição, ou seja, por falta de água e alimentos.
Os sobreviventes dos ataque saíram do Império Otomano e instalaram-se em diversos países, cujo episódio ficou conhecido como diáspora armênia e contou com cerca de oito milhões de armênios, segundo historiadores. No Brasil, os números são de aproximadamente 25 mil armênios e boa parte se concentra em São Paulo.
Quanto ao patrimônio cultural, histórico e comunitário armênio foi mais um objeto de destruição provocado pelo império, a fim de implantar uma campanha de negação pós-genocídio. Igrejas e mosteiros foram destruídos ou transformados em mesquitas, cemitérios foram destruídos, cidades e bairros foram devastados e logo após, repovoado pelos otomanos.
Além disso, os armênios perderam suas propriedades e bens como empresas e fazendas. Escolas, hospitais, igrejas, orfanatos e conventos tornaram-se propriedade do governo turco. Em janeiro de 1916, o Ministério Otomano do Comércio e Agricultura emitiu um decreto, ordenando a todas as instituições financeiras que operavam dentro das fronteiras do império para entregar os ativos armênios ao governo. Segundo registros, cerca de 6 milhões de euros de ouro turco foram aprendidos junto de imóveis, dinheiro, depósitos bancários e joias. Esses ativos foram direcionados aos bancos europeus, como Deutsche Bank e Dredsner Bank.
Em 1941, o patriarca armênio de Constantinopla apresentou uma lista dos locais sagrados armênios sob sua supervisão. A lista continha 2 549 lugares religiosos, dos quais 200 eram mosteiros, enquanto 1600 foram igrejas. Em 1974, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) declarou que de 1913 monumentos históricos deixados na Turquia Oriental, 464 desapareceram completamente, 252 estão em ruínas e 197 estão em necessidade de restauração.
Controvérsias e Negacionismo
Atualmente, a Turquia não reconhece o genocídio armênio e condiciona sua politica externa prioritariamente sob este princípio. Ela diz que os armênios passaram por uma terrível mortalidade e que, na verdade, agiu para defender sua soberania nacional. A Turquia também alega que o número de mortos também é exagerado, pois afirma que os estudos demográficos dizem que, antes da Primeira Guerra Mundial, viviam menos de 1,5 milhão de armênios em todo o Império Otomano. Entretanto, segundo historiadores, mais de 1,5 milhão de armênios foram mortos na Armênia Oriental. O governo turco foi acusado de usar fakes de internet para importunar parlamentares alemães que se pronunciaram contra o genocídio.
Nos últimos anos, os parlamentares de vários países reconheceram formalmente o ocorrido como genocídio. As negociações entre Turquia e a União Europeia para a entrada do país no bloco europeu também foram marcadas por várias reivindicações para que o governos turco reconhecesse o genocídio, embora nunca tenha sido um pré-requisito. Em 2015, vinte e nove países reconheceram o genocídio armênio, entre eles, Alemanha, Itália, Brasil, Argentina, Canadá e Estados Unidos, que inclusive no início de 2021, o presidente Joe Biden foi o primeiro presidente dos EUA a emitir uma nota oficial reconhecendo igualmente o genocídio perpetrado pelos turcos otomanos há um século antes.
Existem também organizações internacionais que atuam no reconhecimento do genocídio armênio, como o Conselho Mundial das Igrejas, Conselho da Europa, Parlamento do Mercosul e a Subcomissão das Nações Unidas para a Prevenção da Discriminação e Proteção das Minorias do Parlamento Europeu.
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Por Érica Silva – Fala! Anhembi