O orgulho gay, como é chamado movimentos LGBT+ pelo mundo todo, começou em 1970, em Nova York, para comemorar e homenagear o primeiro aniversário da revolta de Stonewall, ocorrida em junho de 69.
Nos anos 60, ser homosexual era classificado como uma doença mental nos Estados Unidos. No Reino Unido, era crime. A Organização Mundial de Saúde desconsiderou a homossexualidade como doença (chamada de “homossexualismo”) apenas em 1990; a transexualidade, ano passado.
Por que junho é o mês do orgulho?
O departamento de Polícia americana era acostumada a invadir subitamente estabelecimentos ocupados por lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais na época há décadas. Muitos desses eram “escondidos” e não tinham a permissão para vender bebidas, o que dava aos guardas justificativa para suas batidas.
Um dos clubes, Stonewall Inn, na Greenwich Village, tinha a maior parte de seus frequentadores jovens da periferia, que haviam deixado suas famílias justamente pelo preconceito, e drag queens.
No dia 28 de junho de 1969, a polícia entrou para o ataque no bar para fechá-lo e aproveitou para agredir aqueles que lá estavam e levar sobre custódia quem não usava roupas adequadas ao seu sexo biológico, como mandava a lei. Naquele momento, no entanto, os clientes do bar e as pessoas das redondezas decidiram revidar, ao invés de aceitar a violência. Do lado de fora do prédio, primeiro jogaram moedas e garrafas nos oficiais — Marsha P. Johnson, mulher negra transsexual, foi a primeira a reagir.

A revolta rapidamente escalou para um incêndio dentro de Stonewall Inn e viaturas sendo viradas de cabeça para baixo. Marchas se deram por seis dias depois. Foi um momento catatônico para o povo LGBT, cansado depois de tantos anos sendo assediado e violentado pelas autoridades. A partir daí, organizações como a Aliança de Ativistas Gays e a Frente da Libertação Gay foram formadas.
A primeira marcha do Orgulho aconteceu no ano seguinte, 1970, criada pela “Mãe do Orgulho”, Brenda Howard, ativista bissexual.

“Stonewall funda um novo tipo de movimento LGBT. Criou essa ideia do orgulho, das pessoas LGBT ocupando o espaço público, assumindo suas identidades e se orgulhando dessas identidades e de práticas de sexualidade e de gênero”, afirma à BBC News Brasil Renan Quinalha, professor de direito da USP (Universidade de São Paulo).
A partir daquele junho, 51 anos atrás, a população LGBT marcha no mesmo mês todos os anos (alguns países comemoram em épocas diferentes, no entanto) para educar, lutar e se orgulhar da própria existência — e lembrar daqueles que vieram antes para pavimentar o caminho.
“Nossos irmãos e irmãs antes de nós não eram livres para celebrar como estamos fazendo hoje à noite, e nunca devemos esquecer isso. Stonewall foi um momento decisivo na história, catapultando os direitos LGBT em conversas públicas e despertando o ativismo gay”, disse Madonna na virada de ano de 2018 para 2019 no Stonewall Inn, que continua aberto até hoje e virou um patrimônio histórico americano, o primeiro do movimento.

Esse ano, a marcha do Orgulho não acontecerá nos Estados Unidos e em vários outros países devido à pandemia do coronavírus, mas ainda é possível honrar a história por meio da arte e até por encontros virtuais por meio de aplicativos, como o Zoom. O importante é não parar de sentir orgulho e se reunir para espalhar apoio e amor.
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Por Domitilla Mariotti – Fala! UFRJ