O profissional da saúde, que preferiu não ser identificado, desabafa sobre como é enfrentar uma pandemia utilizando materiais de má qualidade
Não é segredo para ninguém que o Brasil vive, desde sempre, uma crise na saúde pública e que ela se agravaria com um grande acontecimento. Pois bem, a Covid-19 é esse acontecimento e, em entrevista via Skype, no último dia 5, um enfermeiro da rede pública de São Paulo, para chamar a atenção do Governo, escancarou as péssimas condições de trabalho, estrutura e de equipamentos da cidade mais populosa do país.
“Os materiais são de péssima qualidade, a maioria todos chineses, e muitos são falsos. Ficamos meses utilizando uma máscara que achávamos que era a N95 e, por ter o carimbo do Inmetro, nem desconfiamos. Quando resolvemos abrir a máscara após escutar alguns boatos sobre a qualidade do produto, vimos que ela era falsa devido ao número de filtros. A N95 original tem diversos filtros, já a falsa, tem apenas um”, disse o enfermeiro, ao ser questionado sobre a disponibilidade de materiais e a qualidade dos mesmos.
Ele ainda afirmou que devido à desconfiança em relação aos produtos fornecidos pelo Estado, optou por comprar ele mesmo uma máscara.
Problemas com equipamentos para detectar coronavírus em São Paulo
Outro problema constatado é em relação aos testes para detectar o vírus no organismo. Ele confessa que ainda não realizou o exame. “Os testes viraram uma polêmica. Eu, que trabalho em outro hospital, não tenho tempo de ficar na fila, como muitos outros colegas. A situação nos hospitais municipais da Grande São Paulo é ainda pior, porque, nesses locais, o teste só é realizado se o profissional tiver algum sintoma, como coriza e febre”, relatou.
Por fim, o enfermeiro foi questionado se já teve a intenção de desistir da profissão em meio à tanta desorganização e dificuldade. “Não passou pela minha cabeça em nenhum momento largar a profissão, afinal, estudamos para isso. Nós, enfermeiros, como todos os outros profissionais da saúde, temos o instinto de cuidar, e é muito gratificante, além de muito prazeroso, ter a oportunidade de salvar vidas”, concluiu.
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Por Gerson Nichollas A. G. Silva – Fala! Cásper